“A chegada ao governo do
Lei e Justiça é mais um capítulo da viragem nacionalista em vários
países europeus, com as suas políticas anti-imigração,
eurocépticas e mais viradas para dentro do que para a procura de
soluções em conjunto na União Europeia.”
Nacionalistas
eurocépticos vencem eleições na Polónia
ALEXANDRE MARTINS
25/10/2015 – 20:13
Lei
e Justiça, do ex-primeiro-ministro Jaroslaw Kaczynski, põe fim a
oito anos de poder da Plataforma Cívica, do centro-direita.
Os polacos foram às
urnas este domingo e deram uma vitória esmagadora ao partido
nacionalista Lei e Justiça, muitas vezes comparado ao Fidesz do
primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán.
A grande derrotada
foi a Plataforma Cívica, de centro-direita, que liderou o país
durante oito anos de forte crescimento económico, mas que acabou por
ser penalizada devido a um escândalo que provocou demissões no
Governo e à percepção de que o sucesso económico do país não
chegou ao bolso da maioria dos cidadãos.
De acordo com os
números avançados logo após o encerramento das urnas, o Lei e
Justiça obteve 39,1% contra 23,4% da Plataforma Cívica – nenhum
partido de esquerda teve votos suficientes para entrar no Parlamento.
Com estes resultados, os nacionalistas eurocépticos poderão
governar sozinhos, com 242 deputados num Parlamento com 460 lugares.
A vitória dos
nacionalistas do Lei e Justiça significa também o regresso em
grande do seu líder, o polémico Jaroslaw Kaczynski, que foi
primeiro-ministro durante pouco mais de um ano, entre 2006 e 2007,
antes de a Plataforma Cívica ter iniciado um ciclo de duas vitórias
consecutivas.
Jaroslaw – irmão
gémeo do ex-Presidente Lech Kaczynski, que morreu num acidente
aéreo, em 2010 – não é o candidato a primeiro-ministro pelo Lei
e Justiça, mas é o seu líder, e a generalidade dos analistas
acredita que será ele a puxar os cordelinhos da governação, atrás
de Beata Szydlo.
A chegada ao governo
do Lei e Justiça é mais um capítulo da viragem nacionalista em
vários países europeus, com as suas políticas anti-imigração,
eurocépticas e mais viradas para dentro do que para a procura de
soluções em conjunto na União Europeia.
Durante a campanha,
o líder do partido que venceu as eleições deste domingo na Polónia
disse que os migrantes e refugiados "já trouxeram doenças como
a cólera e a disenteria para a Europa, tal como todo o tipo de
parasitas e protozoários".
Para além das
posições duras em relação à chegada de milhares de pessoas de
países da África subsariana, do Médio Oriente ou da Ásia –
muitas em fuga de guerras e perseguições em países como a Síria,
o Iraque ou o Afeganistão –, o Lei e Justiça defende uma pressão
maior sobre a Rússia, o que pode originar ainda mais divisões no
seio da União Europeia e pôr em risco a relação privilegiada do
país na última década com a Alemanha.
Em particular, o
partido nacionalista de direita promete ser inflexível na exigência
de ter uma base permanente da NATO, uma medida a que a chanceler
Angela Merkel se opõe. "As relações entre a Polónia e a
Alemanha iriam sem dúvida piorar com o Lei e Justiça. A única
questão é saber se iriam piorar muito ou pouco", disse ao site
da revista norte-americana Politico o analista Lukasz Lipinski, do
think tank Polityka Insight.
A economia polaca
tem crescido acima dos 3% ao ano na última década – e o facto de
não estar na zona euro permitiu-lhe passar ao lado da recessão que
afectou a maioria dos países europeus, em 2009 –, mas isso não
bastou para que a Plataforma Cívica renovasse a confiança dos
eleitores. Apesar do sucesso dos números, muitos dos 38 milhões de
polacos continuam sem sentir melhorias nas suas carteiras, devido à
precariedade do trabalho e aos baixos salários, algo que tem sido
aproveitado pelo populista Lei e Justiça.
Marcadamente
católico, o partido propõe a redução da idade da reforma de 67
para 65 anos entre os homens e para 60 anos entre as mulheres (para
que possam passar mais tempo com a família); o aumento do salário
mínimo; e o aumento das taxas de impostos para os bancos.
O descontentamento
entre grande parte da população foi resumido ao jornal britânico
Guardian por Grzegorz Piotrowska, um canalizador de 38 anos: "Na
Polónia continuamos a ser pobres. Dois milhões de polacos saíram
do país para trabalharem em outros países da União Europeia. Se
ficarmos aqui, limitamo-nos a lutar. Abrem restaurantes finos por
todo o lado, mas eu nem consigo pagar um café no Starbucks. O Lei e
Justiça quer tornar este país mais parecido com a Alemanha."
Esta é a segunda
grande vitória do Lei e Justiça em apenas cinco meses, depois de
Andrzej Duda ter sido eleito Presidente da República em Maio, à
segunda volta, derrotando Bronislaw Komorowski.
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