Portugal
é o 12.º país do mundo com mais emigração
ALEXANDRA CAMPOS
28/10/2015 - PÚBLICO
A
conjugação da alta emigração com a baixa imigração coloca
Portugal na lista dos países de "repulsão".
É o próprio
Governo que assume num relatório oficial que Portugal é hoje,
"sobretudo, de novo, um país de emigração”, comentando o
número das saídas de cidadãos nacionais para o estrangeiro em
2014, cerca de 110 mil, valor quase idêntico ao do ano anterior. Mas
esta quarta-feira o secretário de Estado das Comunidades
Portuguesas, José Cesário, quis desdramatizar a situação e até
considerou que os números podem significar que se está a assistir
ao “começo de uma inversão” do fenómeno.
No total, o Banco
Mundial estima que haverá cerca de 2,3 milhões de portugueses a
viver no estrangeiro (há pelo menos um ano), mais de 600 mil dos
quais em França (dados de 2010). Portugal era já, então, o 12.º
país do mundo com mais emigrantes, considerando a percentagem da
população que tinha ido trabalhar para o estrangeiro. A conjugação
dos fenómenos de "alta emigração com baixa imigração"
colocava mesmo Portugal na lista dos países europeus de "repulsão",
ao lado da Bulgária, Roménia e Lituânia.
São dados que
constam do Relatório da Emigração, esta quarta-feira divulgado, e
que já tinham sido antecipados (números provisórios) em Setembro
pelo PÚBLICO. Na altura, o coordenador do Observatório da
Emigração, Rui Pena Pires, destacava que a emigração não estava
a abrandar, ao contrário do que seria de esperar, e acentuava que os
números correspondiam ainda a uma estimativa prudente, abaixo da
realidade. “Eu estava à espera que os valores começassem a
baixar. Toda a gente estava à espera, incluindo o Governo”, dizia
Rui Pena Pires. É, aliás, necessário recuar à década 1960 ou de
1970 para se encontrarem valores tão elevados durante dois anos
consecutivos, acentuava então, lamentando que o crescimento da
economia não tivesse resultado na criação de emprego.
Comentando os
números agora oficiais à Lusa, José Cesário diz também que os
valores de 2013 e 2014 são "da mesma ordem" que os
observados nos anos de 1960 e 1970, mas vai adiantando que no
relatório sobre 2015 os números já serão menores. Apesar de
reconhecer que “estamos ainda confrontados com uma dimensão muito
significativa do fenómeno migratório de cidadãos nacionais”, o
secretário de Estado interpreta a “estagnação no número das
saídas” como um eventual “começo da inversão deste fenómeno".
Explicação? A economia portuguesa está a "começar agora a
criar empregos", levando a que menos pessoas sintam necessidade
de ir trabalhar para o estrangeiro, alega.
Também o número
dos chamados "emigrantes definitivos" (que ficam fora de
Portugal por um período superior a um ano) está, "nalguns
casos, bastante abaixo" do de outros países europeu, destacou
José Cesário, antecipando que, “se as empresas portuguesas se
internacionalizarem”, iremos ter “cada vez mais portugueses a
circularem no mundo”.
Enquanto isso não
acontece, os dados oficiais indicam que o fenómeno da emigração
ainda não abrandou em 2014. Para onde têm ido trabalhar os
portugueses? Basicamente para outros países da Europa, com o Reino
Unido à cabeça (31 mil, em 2014), a Suiça (20 mil, em 2013), a
França (18 mil, em 2012) e a Alemanha (10 mil, em 2014). “A
emigração portuguesa é hoje, no essencial, uma emigração
realizada no interior do espaço europeu. Dos 21 países de destino
para onde se dirigem mais emigrantes portugueses 14 são europeus",
refere o relatório.
Fora da Europa, os
principais países de destino da emigração portuguesa são Angola
(5 mil em 2014, 6.º país de destino), Moçambique (4 mil em 2013,)
e Brasil (2 mil em 2014). Analisando os fluxos de saída a partir do
seu impacto no destino, consta-se que os portugueses representam 17%
dos imigrantes entrados no Luxemburgo em 2014, 12% na Suíça em 2013
e 12% em Macau em 2014, bem como 8% em França em 2012.
Mais de 300 detidos
e deportados
O relatório permite
ainda perceber que há portugueses em situação complicada no
estrangeiro. No ano passado, 303 portugueses foram detidos no
estrangeiro, sobretudo devido a tráfico de droga. A maior parte das
detenções ocorreu em França (84), seguindo-se o Brasil (54), o
Reino Unido (53) e Espanha (42). Em 136 casos, porém, as autoridades
não explicaram os motivos da detenção, que surgem assim omissos no
relatório. No final do ano, 271 ainda permaneciam detidos.
Quanto ao número de
deportações, expulsões e afastamentos, este ascendeu a 302, mais
de metade do Canadá (160), seguindo-se o Reino Unido (72) e os
Estados Unidos (49).
Também há
portugueses enganados no estrangeiro, mas, segundo o relatório, as
autoridades apenas registaram 63 casos de exploração laboral, com a
França a liderar o número de queixas (16), seguindo-se a Alemanha e
Angola (sete, cada), Reino Unido e Países Baixos (seis, cada).
No mesmo período as
emergências consulares diminuíram face a 2013, totalizando 113
ocorrências, menos 74 do que ano ano anterior. Mas os serviços
foram muito solicitados, recebendo quase 11 mil chamadas telefónicas
e mais de 7500 mensagens de correio electrónico.
Sem comentários:
Enviar um comentário