“Até
agora, os alemães tiveram uma fé quase cega na chanceler. Esta é a
primeira vez que a maioria da população está contra ela. Muitas
pessoas consideram que ela não está a fazer a coisa certa”,
comentou ao Tagesspiel Werner Patzeit, investigador na Universidade
Técnica de Dresden.
Tanto
assim é que, quando a UE protesta contra os muros construídos pela
Hungria para tentar travar os migrantes, o líder sindical da polícia
veio defender que a Alemanha precisa de construir também uma vedação
ao longo das suas fronteiras se quiser de facto travar o fluxo
migratório.”
Manifestação
do Pegida põe à prova política para os refugiados de Merkel
CLARA BARATA
19/10/2015 - PÚBLICO
Alemães
duvidam da capacidade do seu país em absorver tantos requerentes de
asilo e sobre o bom senso da sua chanceler, que agora apenas 37%
apoiam e aumentam os actos de racismo.
"Merkel tem de
se ir embora", gritam os apoiantes do Pegida em Dresden esta
segunda-feira, na grande manifestação com que o grupo este grupo
anti-imigração e anti-islão está a comemorar o seu primeiro
aniversário. A política de portas abertas aos refugiados da
chanceler alemã Angela Merkel, inflexível perante muitas hesitações
e manifestações de egoísmo de outros líderes europeus, está ter
o seu preço: pela primeira vez, a maioria dos alemães tem uma
opinião negativa sobre a forma como conduz o país, e movimentos
racistas e potencialmente violentos, como o Pegida, ressurgem com
renovada força.
Os alarmes estavam
todos a vermelho para esta manifestação: 15 mil, 20 mil pessoas
eram esperadas para esta iniciativa do grupo que se autodenomina
Europeus Patrióticos contra a Islamização do Ocidente (Pegida).
Após um período em que entrou em declínio, a vaga de refugiados do
Médio Oriente fê-lo ganhar nova força e o apoio de outros líderes
de extrema-direita europeus, como o holandês Geert Wilders, foi
fundamental. Nas últimas semanas, este movimento nascido no Leste da
Alemanha tem conseguido juntar entre 7000 e 9000 pessoas em
manifestações semanais, à segunda-feira, em Dresden.
Segundo a televisão
regional MDR, foram destacados 1300 agentes para manter a ordem na
manifestação, que inclui um contra-protesto que parece ter juntado
14 mil pessoas pessoas e não apenas as seis mil que eram esperadas,
a favor da imigração, segundo a agência alemã DPA. Já houve
vários incidentes, com agressões e feridos, em ambos dos lados, no
centro de Dresden, relata o canal.
As autoridades
tinham lançado alertas, tentado afastar as pessoas das
manifestações. “Não sigam os preconceituosos, os que têm ódio
no coração”, declarou o porta-voz da chanceler, Steffen Seibert.
Com o país ainda em choque por causa do ataque à faca devido a
“motivações racistas” contra Henriette Reker, a candidata
entretanto eleita presidente da câmara de Colónia, que se destacava
na coordenação do acolhimento aos refugiados, o receio de ataques
semelhantes é bem real.
Nas manifestações
anteriores do Pegida surgiram forcas com cartazes atados ao nó,
dizendo “Reservado para Angela Merkel” e “Reservado para Sigmar
Gabriel”, o ministro da Economia e líder do SPD (o Partido Social
Democrata alemão, de centro-esquerda, o aliado de Merkel na grande
coligação que governa a Alemanha). O Comissário para os Direitos
Humanos do Governo alemão considerou que era “um apelo à
violência” e que tinham sido excedidos os limites da liberdade de
opinião e manifestação.
A agência de
informação interna mantém o Pegida debaixo de olho. “A exibição
das forcas na semana passada é um exemplo claro de que o potencial
de agressão desde grupo está a aumentar”, disse um porta-voz. O
fundador desta formação, Lutz Bachmann, foi acusado pelo Ministério
Público alemão de incitação ao ódio, de insultar refugiados de
guerra e requerentes de asilo na sua página do Facebook, usando
palavras como “lixo” e “gado”.
Acabou a fé cega
Alguns sectores
nunca aceitaram bem a abertura do país aos refugiados do Médio
Oriente, mas estes inicialmente foram recebidos com brinquedos, fruta
e doces nas estações de comboio. Mas as dificuldades logísticas,
sobretudo a falta de locais para as alojar –– estão a assustar
os alemães, confrontados com a possibilidade bem real de ter de
receber pelo menos um milhão de pessoas até ao final do ano.
Dados relativos a 9
de Outubro mostram que 45% dos alemães acreditam que o seu país
conseguirá lidar com o grande número de refugiados que estão a
chegar, mas 51% duvida. É uma grande mudança relativamente a
Setembro, quanto 57% acreditava que a Alemanha conseguiria absorver
todos os pediam asilo.
Tanto assim é que,
no fim-de-semana, a sondagem semanal Emnid revelou que o apoio ao
Governo caiu para 37% - em meados de Setembro, ainda tinha 41% de
apoio. “Merkel está a lutar para manter o poder”, titulava o
Bild am Sonntag, um jornal de massas alemão.
O título não deixa
de ser sensacionalista – até porque Merkel não tem um rival
óbvio. Mas ilustra as dificuldades da chanceler. “A sua abordagem
à crise dos refugiados, simbolizada por frases como ‘podemos
fazê-lo’ e ‘o direito ao asilo não tem fronteiras’ está a
ter um preço alto para a antes muito elogiada rainha das sondagens”,
escreve o jornal Tagesspiel. Segundo dados do INSA, outro instituto
de sondagens, citados pela revista Focus, cerca 33% dos alemães
considera que Merkel devia demitir-se.
“Até agora, os
alemães tiveram uma fé quase cega na chanceler. Esta é a primeira
vez que a maioria da população está contra ela. Muitas pessoas
consideram que ela não está a fazer a coisa certa”, comentou ao
Tagesspiel Werner Patzeit, investigador na Universidade Técnica de
Dresden.
Tanto assim é que,
quando a UE protesta contra os muros construídos pela Hungria para
tentar travar os migrantes, o líder sindical da polícia veio
defender que a Alemanha precisa de construir também uma vedação ao
longo das suas fronteiras se quiser de facto travar o fluxo
migratório.
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