Francisco
Assis: "PS não pode ser governo custe o custar"
Margarida Gomes
15/10/2015 / PÚBLICO
O eurodeputado
socialista Francisco Assis discorda das diligências que António
Costa está a fazer com o BE e o PCP com vista à formação de um
governo, e deixa claro que quem devia ser nomeado primeiro-ministro
era Pedro Passos Coelho, reservando ao PS o papel de oposição.
“Face à leitura
dos resultados eleitorais, entendo que a melhor solução para o país
é aquela que passa pelo Governo da coligação, com o PS a assumir
claramente o papel de oposição na Assembleia da República e,
naturalmente, estando disponível para dialogar permanentemente quer
com os partidos situados à sua direita, quer com os partidos
situados à sua esquerda”, declarou Francisco Assis.
Numa entrevista à
RTP 3, o eurodeputado assumiu que tem divergências em relação a
muitas pessoas do PS, nomeadamente o secretário-geral e diz que as
devia tornar públicas. Disse que ponderou muito se deveria enunciar
publicamente essa diferença ou não, mas acabou por fazê-lo por
entender que “tem responsabilidades perante o país e perante o
PS”. E explicou: “Contrariamente à leitura que tem prevalecido
nalguns sectores do PS, não considero que a questão fundamental na
nova Assembleia da República seja a distinção entre a direita e a
esquerda, porque não há uma esquerda em Portugal, há várias
esquerdas e, por isso, eu não vejo a AR num perspectiva bipolar, mas
tripolar”.
Segundo Assis, "há
o bloco de direita, que é o bloco correspondente à coligação que
obteve sensivelmente 38% dos votos nas eleições de 4 de Outubro,
sem maioria absoluta; há um bloco que representa o centro esquerda
que é o PS, que teve 32,3%, e há depois um outro bloco da esquerda
mais extremista e que é um bloco que representa sensivelmente 19% do
eleitorado, que se subdivide em dois partidos: Bloco de Esquerda e
PCP, partidos que representam sensibilidades políticas e
sociológicas diferentes”.
“Olho para o PCP
como um partido ideologicamente e doutrinariamente muito fechado e
muito conservador e olho para o BE como um partido em transformação.
Dentro do Bloco de Esquerda há, de facto, tensões internas
significativas que nos permitem projectar uma expectativa positiva em
relação ao que pode vir a ser a sua evolução, o seu comportamento
parlamentar e a sua intervenção na sociedade portuguesa”,
comparou.
O ex-líder da
bancada parlamentar socialista disse não considerar que a “clivagem
fundamental em torno de questões que têm que ver com a governação
do país seja uma clivagem colocada ao centro, mas à esquerda”. E
reforçou: “A grande clivagem situa-se à esquerda, entre o PS e as
formações situadas à sua esquerda em questões fundamentais como
sejam as questões europeias, concepção do que deve ser a Europa, a
concepção da União Económica e Monetária, a concepção do papel
do euro o Tratado Orçamental e em questões de política externa,
onde há claríssimas divergências”.
Dadas as
explicações, Assis disse que a “melhor solução para o país”
é haver um Governo liderado por Pedro Passos Coelho e não por
António Costa, o que, na sua opinião, será também a “melhor
para o PS”, porque, explicou, “eu não coloco a questão do ponto
de vista da legitimidade”.
O ex-líder da
bancada parlamentar lançou várias questões: “É possível um
governo monopartidário assente num compromisso parlamentar com o BE
e com o PC?” “Esse governo é um governo com garantia de
estabilidade política? É um governo com verdadeira capacidade
reformista?”. Assis acha que não e entende que as reformas que o
país tem que fazer - “e tem que fazer algumas” -, fazem-se mais
ao centro e menos com a extrema-esquerda. E atirou exemplos: “Uma
reforma séria da Segurança Social no sentido de a salvaguarda tal
como nós concebemos que ela deve ser salvaguarda, o mesmo
acontecendo com o Estado social, que é uma marca identitária do
PS”.
“Com a força
parlamentar que temos, é preciso impedir que a direita destrua o
Estado social”, atirou, criticando a “visão anti-reformista dos
partidos à esquerda do PS, partidos que estão muito fechados a
qualquer transformação”.
Entende Francisco
Assis que “num momento em que a Europa enfrenta uma situação
difícil não é responsável fazer um governo dessa natureza”. “Um
governo dessa natureza era um governo contranatura porque as
divergências são muito profundas e retiraria capacidade ao governo
do PS e isso seria muito negativo para o país”, assinalou.
“Nós não podemos
estabelecer um entendimento de fundo de governação num momento em
que a Europa atravessa um momento difícil e em que nós podemos
voltar a enfrentar dificuldades grandes, porque a ideia de que os
problemas do país estão resolvidos é uma ficção que nos foi
vendida em grande parte pela direita e nós podemos voltar a ter
problemas graves nos próximos tempos. Basta haver ligeiras
alterações na economia internacional ou alterações geopolíticas
e as coisas podem voltar a descambar", sublinhou
Questionado sobre as
iniciativas de António Costa para tentar formar um governo de
esquerda, Assis disse respeitar "a sua determinação e a sua
visão” e assumiu que nesta questão a sua posição é bem
diferente. “Há uma fractura. Temos entendimentos bastantes
diversos”. "Não podemos ser governo custe o custar",
frisou, por mais de uma vez. E sublinhou também que não entende "as
pressões" que estão a ser feitas a camaradas do seu partido
que pensam o mesmo que ele.
Clivagens à parte,
Assis saiu em defesa de António Costa, afirmando “compreender
perfeitamente” que o secretário-geral do PS não se tenha demitido
na eleitoral. Depois enalteceu as “capacidades extraordinárias do
líder do partido para dirigir o Governo”, caso o PS tivesse
vencido as eleições. E aproveitou para afastar uma candidatura à
liderança do partido. “A questão da liderança do partido não se
coloca nesta altura”, repetiu, lembrando que já foi candidato há
quatro anos e que essa não é uma questão que esteja no seu
“horizonte pessoal”. Depois de ter sido várias vezes questionado
sobre o assunto, Assis admitiu que “só em circunstâncias
excepcionais” poderia avançar, fazendo mesmo questão em dizer que
não queria falar mais sobre esse assunto.
Sobre as eleições
presidenciais, disse que irá fazer campanha por Maria de Belém
Roseira. “Precisamos de um candidato à Presidência da República
confiável”. E manifestou o seu desagrado pela forma como todo o
processo das presidenciais correu no partido.
Francisco
Assis admite candidatar-se à liderança do PS. "Podem contar
comigo para tudo"
Assis
candidatou-se à liderança do PS em 2011 e foi derrotado por Seguro
Socialista
já admite avançar em "condições excepcionais" e garante
que assumirá as suas responsabilidades.
LUÍS CLARO
15/10/2015 / Jornal
i online
Francisco Assis
admite voltar a candidatar-se à liderança do PS. "Serei
candidato à liderança em condições excepcionais", disse
Assis, em entrevista à RTP, garantindo que os socialistas podem
contar com ele para "tudo no PS".
Francisco Assis tem
sido um dos principais críticos da estratégia seguida por António
Costa a seguir às eleições legislativas, mas até agora tinha
colocado de lado a hipótese de avançar com uma candidatura à
liderança. O eurodeputado do PS deixou, porém, de colocar de lado
esse cenário e já admite avançar "em circunstâncias
excepcionais" e se entender que tem "essa obrigação"
Aos socialistas,
Assis quis deixar a garantia de que não fugirá ao combate: "todos
os socialistas podem contar comigo para tudo no PS. Sou um homem
disponível para assumir sempre as minhas responsabilidades, nos bons
e nos maus momentos".
O ex-líder
parlamentar voltou a contestar uma aliança com o BE e os comunistas
e defendeu que o PS deve preparar-se para ser "um partido
central no parlamento, na oposição, com sentido de
responsabilidade". Distanciando-se da linha seguida por Costa, o
o eurodeputado assumiu que discorda "radicalmente desses
partidos [PCP e BE] em questões fundamentais".
Sem concretizar em
que condições pode avançar com uma candidatura à liderança,
Assis disse esperar que "as coisas evoluam para que não
tenhamos que chegar a uma situação dessa natureza". Mas logo a
seguir garantiu ter "consciência" que tem
"responsabilidades perante o país".
E deixou algumas
indirectas para aqueles que estão na política à espera do
insucesso dos outros. "Sempre estive na primeira linha. Não
fugi, não me escondi. Nunca fiquei à espera dos insucessos dos
outros, nem estive a preparar uma espécie de carreirinha política à
espera que os outros falhassem. Esse tipo de intervenção política
repugna-me".
Assis candidatou-se
à liderança do PS em 2011 e foi derrotado por António José
Seguro. O eurodeputado socialista conseguiu 32% dos votos.
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