Presidente
deve nomear Passos, mesmo que depois não governe, defende Santana
Lopes
Maria Lopes
13/10/2015 - PÚBLICO
Antigo
líder do PSD diz que uma "solução natural" para o país
é a coligação fazer “um acordo de viabilização de Governo com
o PS”. Critica Cavaco e os líderes do PSD e do CDS por deixarem
António Costa andar num "frenesim" de entendimentos. E
desafia Marcelo Rebelo de Sousa a dizer o que faria.
Pedro Santana Lopes
não tem dúvidas: o Presidente da República deve nomear Pedro
Passos Coelho como primeiro-ministro, porque foi a coligação
Portugal à Frente que ganhou as eleições, e deixar que a
Assembleia da República decida se o Governo PSD/CDS deve ou não
governar. Mas avisa que "seria uma solução natural" para
o país a coligação fazer “um acordo de viabilização de Governo
com o PS”.
“Os resultados são
o que são, os preceitos constitucionais também: o Presidente da
República tem o dever de nomear o primeiro-ministro, e depois o
Parlamento deve assumir as suas responsabilidades: se votar e deixa
passar o Governo, está resolvido; se não deixa, também está
resolvido noutro sentido. Isto [o que se tem passado na última
semana] é que acho pouco clarificador”, defendeu o provedor da
Santa Casa da Misericórdia no final de um almoço-conferência do
American Club of Lisbon.
"Tem o direito
de formar Governo quem ganha as eleições, mesmo que porventura não
venha a governar. O Presidente tem a estrita obrigação, depois de
passado este ciclo (para não deixar a situação degradar-se,
institucionalmente e sistemicamente), de indigitar formalmente o
primeiro-ministro – que ainda não o fez, encarregou-se de fazer
conversações –, indigitá-lo, nomeá-lo, o primeiro-ministro
formar Governo e ir ao Parlamento", enunciou Pedro Santana
Lopes.
Depois, "cada
um assume as suas responsabilidades": "O PS, se quiser,
vota a favor de uma moção de rejeição do programa de Governo e
depois se verão, um dia, as consequências, boas ou não boas. (...)
Não podemos andar nesta diluição sistémico-institucional em que
António costa – e não o culpem por ele fazer o que outros talvez
devessem fazer – anda de uma sede para a outra, de uma reunião
para a outra, como se tivesse sido ele o encarregue de formar
Governo. Mas a culpa não é de quem o faz, é de quem não o faz.
Não podemos andar nesta diluição sistémica-constitucional."
Santana Lopes avisa
que "nem António Costa era o Deus perfeito [há um ano, quando
se candidatou a líder do PS], nem hoje em dia é o Diabo". Para
o antigo primeiro-ministro, "a questão é a dimensão de Estado
de cada actor político e sabermos tirar lições do que passou e
agirmos como deve ser para diante". Na sua opinião, o líder
socialista "não pode fazer uma maioria absoluta na secretaria -
e conhecendo-o como conheço estou convencido de que, mesmo que
pudesse não quereria. Outra coisa é fazer um acordo de viabilização
de Governo com o PS - que acho que é uma solução que seria natural
para o país, mas António Costa lá saberá."
Na sua intervenção
perante 140 personalidades da política portuguesa, diplomatas,
empresários e gestores de multinacionais ou ligadas aos Estados
Unidos, Pedro Santana Lopes foi crítico da actuação da coligação
- que considera que tem sido secundada por António Costa -, defendeu
o dever de Cavaco Silva nomear Pedro Passos Coelho, falou sobre a
revisão constitucional de 1982 em que ficou definido que o
Presidente deve nomear o primeiro-ministro com base no resultado das
eleições, e desafiou os candidatos presidenciais a dizerem o que
pensam deste impasse.
Desafio a Marcelo
Questionado sobre o
leque de candidatos a Belém, o antigo líder do PSD - que chegou a
ponderar candidatar-se a Belém mas recuou - não abriu o jogo sobre
se tenciona votar ou não em Marcelo Rebelo de Sousa porque,
garantiu, ainda não "conseguiu pensar muito". “Ainda não
cheguei a uma conclusão. Eu entendo que os candidatos à Presidência
da República têm obrigação de dizer o que pensam e o que
tencionam fazer no cargo. Eu quero saber o que quem quer ser Chefe de
Estado pensa do exercício da sua função.”
Aparentemente,
apesar de conhecer a visão do professor de direito constitucional
Marcelo Rebelo de Sousa pelos manuais que escreveu, Santana não sabe
ainda o que pensa o político Marcelo Rebelo de Sousa – nem ele nem
Rui Rio, especificou. "Eu ainda não sei o que é que ele pensa
do exercício da função presidencial. Por exemplo, eu gostava
imenso de o ouvir dizer o que faria no lugar de Cavaco Silva agora.
Nomeava Pedro Passos Coelho ou não? Ou dava posse a António
Costa?", questionou Santana Lopes.
Sobre a inércia da
coligação, que está apenas a ser espectador das diligências de
António Costa, que se tem mostrado tão “activo” na busca de
entendimentos que “até parece que foi ele a ganhar as eleições”,
Santana questiona-se se não será isso uma “estratégia” da
coligação. Mas avisa: “Se for, é uma estratégia arriscada
porque ficou um pouco para trás neste processo todo…”
Se tudo se resolver
esta semana, como António Costa prometeu, “não tem mal”. “Mas
lá está: é ele que diz quando começa e quando acaba; não ouvimos
a coligação nem o Presidente, sequer, a deixar claro até quando
Passos Coelho pode continuar a desenvolver diligências para
assegurar uma base estável de Governo”, como o Chefe de Estado o
encarregou há uma semana.
“E no frenesim do
dia-a-dia o que se vê é António Costa de um lado para o outro a
desenvolver diligências. O Presidente não pode olhar para esta
dessintonia entre o que disse e o que se passa indiferente. Tem de
tomar uma atitude e a atitude é ouvir os partidos todos, fazer a sua
escolha, e nomear quem ganhou as eleições”, considera Santana
Lopes.
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