Sem-abrigo
de Lisboa reclamam ajuda idêntica à dos refugiados
"É
injusto para quem é português" que os refugiados tenham
"direito a tudo e mais alguma coisa". "Não estou
contra os refugiados que fogem dos países deles à procura de uma
vida melhor", defende, considerando, no entanto, que "o
Governo português havia de investir mais no apoio à população
portuguesa".
19.10.2015 às
9h5537 / EXPRESSO
“Os
refugiados são acolhidos, dão-lhes casa. Aos sem-abrigo não dão
nada”, lamenta um, reivindicando que “o que se faz a uns se faça
a outros”
LUSA
A viverem pelas ruas
da cidade de Lisboa, algumas pessoas em situação de sem-abrigo
diizem compreender o apoio de Portugal no acolhimento de refugiados,
mas queixam-se de não terem ajuda semelhante por parte do Governo.
Portugal está
"praticamente" pronto para acolher 4500 refugiados, e
várias instituições sociais e municípios têm-se mobilizado para
ajudar. Porém, há também quem se tenha manifestado contra a
entrada de refugiados, tendo como mote "Cuidar dos Nossos
Primeiro" e dando como exemplo a situação dos sem-abrigo.
A dormir pelas ruas
de Lisboa, José Manuel Saraiva, de 53 anos, mostra-se solidário com
o acolhimento aos refugiados, por considerar que é uma situação
"muito pior" comparada à condição de sem-abrigo.
"Não me afeta
que o Estado ajude. Prefiro que não me ajudem a mim e que os ajudem
a eles", afirma à agência Lusa este lisboeta, sem-abrigo há
cerca de seis anos, acreditando que o apoio aos refugiados "será
uma situação pontual".
Para José, o caso
dos refugiados é complicado por virem de países em guerra,
explicando que "é muito difícil ver imagens de crianças e
outras pessoas a morrerem todos os dias".
José Manuel Saraiva
tinha uma vida estável pessoal e profissionalmente, mas quando se
divorciou viu-se sem rumo, deixou o emprego e foi viver para a rua.
Reconhece o erro de ter optado pelo caminho "mais fácil, o
andar para a frente talvez é mais difícil".
"A pessoa
depois habitua-se também a ficar nesta situação e pouco faz para
sair dela", admite, criticando o facto de nunca ter recebido
qualquer subsídio ou apoio do Estado.
Há mais de uma
década que Fernando Domingues, de 62 anos, vive na rua, após ter
ficado desempregado e nunca mais ter conseguido arranjar emprego,
conta. Costuma abrigar-se junto à igreja de Arroios, em Lisboa, onde
recebe o apoio das carrinhas das instituições que distribuem
alimentação.
Questionado sobre o
acolhimento de refugiados em Portugal, Fernando diz não estar
contra, mas lamenta o facto de os sem-abrigo não terem apoios
semelhantes. "Os refugiados são acolhidos, dão-lhes casa. Aos
sem-abrigo não dão nada", lamenta, reivindicando que "o
que se faz a uns se faça a outros".
José Rebelo, de 47
anos, e a companheira Arminda Rocha, de 50, pernoitam nas ruas da
capital há cerca de três anos, devido à "falta de dinheiro,
falta de trabalho e dependência de álcool". Atualmente, o
casal está inserido num programa de combate ao alcoolismo, pois
pretende "reiniciar outra vez, de uma forma diferente", diz
José, acrescentando esperar a atribuição de uma casa social.
José Rebelo deixa
ainda um desabafo que não esconde uma mágoa: "É injusto para
quem é português" que os refugiados tenham "direito a
tudo e mais alguma coisa". "Não estou contra os refugiados
que fogem dos países deles à procura de uma vida melhor",
defende, considerando, no entanto, que "o Governo português
havia de investir mais no apoio à população portuguesa".
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