25 DE OUTUBRO DE 2015
António Barreto in DN online
O modo como os
chefes de partido, que se julgam donos dos deputados, se referiram ao
Parlamento diz tudo sobre o papel desta instituição. Afirmaram o
que lhes convinha, sobre um futuro governo, sem jamais ponderar a
hipótese de que o voto livre de um deputado não seja totalmente
previsível. Até o Presidente da República apelou aos deputados
para votarem de uma maneira ou de outra. Na direita ou na esquerda, o
desprezo pelos deputados sempre foi uma constante. Ora, mesmo que
votem com disciplina, como fizeram para eleger o seu Presidente, têm
de ser ouvidos. O problema é que o Parlamento não passa de uma
comissão interpartidária para resolver formalidades.
A "disciplina
de voto", regime anticonstitucional, vai vigorar em pleno a
partir de agora. Não é novidade que o PC e o Bloco desprezem a
independência dos deputados. Mas custa ver o PS alinhar pela mesma
medida. Este desprezo pode ir a extremos inéditos: Costa está
pronto a fazer governo, baseado num acordo que ninguém viu, nem
Presidente nem deputados. Nem o PS! Muito menos o povo.
Não
é novidade que PC e Bloco desprezam a independência dos deputados.
Mas custa ver o PS fazer o mesmo
A décima terceira
legislatura começa da pior maneira. A fractura entre a esquerda e a
direita é total. As acusações mútuas são absolutas. A oposição
da esquerda ao Presidente da República é ríspida. A intervenção
deste, na véspera, foi desastrada. O PC trata o PR por "subversivo".
Os deputados do PS designam o comportamento do Presidente de
"ilegítimo" e "anticonstitucional". Os hábitos
dos comunistas já contagiaram os socialistas. A primeira intervenção
do presidente da Assembleia, Ferro Rodrigues, foi desastrosa.
Depois da
inquietação, chegámos à incerteza. O Presidente indigitou Passos
Coelho. Fez bem. Este, se não desistir, vai apresentar-se ao
Parlamento. Faz bem. O Parlamento deverá rejeitá-lo. É seu
direito. Seria um governo de minoria frágil. Se não lhe passar pela
cabeça manter o governo em gestão durante meses, o Presidente
deverá designar um segundo primeiro-ministro, que, tudo leva a crer,
será António Costa. Faz bem. O enorme erro do governo de maioria de
esquerda não se corrige com o erro medonho que seria o de o
Presidente deixar o país com um governo de gestão...
O
enorme erro do governo de maioria de esquerda não se corrige com o
erro de um governo de gestão
Costa, que até hoje
se vangloria de ter um acordo, por enquanto secreto, com o Bloco e o
PCP, formará governo, só socialista ou mal acompanhado, que deve
passar no Parlamento. Será um governo refém e de maioria
dependente. Mas passará. Para uma vida breve. O PS e António Costa
ficaram prisioneiros de uma ambição menor e de dois partidos que
precisam dele para o destruir. Ao julgar que os abraça, o PS vai
dissolver-se nos seus aliados de hoje, do momento, mas inimigos de
sempre.
O PS deixou de ser
um obstáculo à chegada dos comunistas ao poder. O PCP deixou de
considerar o PS como um adversário. O PS não resistiu à campanha
de desgaste levada a cabo pelo Bloco. O PS deixou de ter relações
especiais com os grupos económicos portugueses e multinacionais. O
poder económico e financeiro deixou de acreditar no PS. E o PS, com
as mãos a arder, vai virar-se para a política e deixar a
economia...
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