Cansado
da novela política? Calma. Portugal arrisca-se a ficar mais mês e
meio sem Governo
MIGUEL SANTOS
/19/10/2015, OBSERVADOR
Imagine
que tudo se desenrola como hoje parece: Passos toma posse, mas PS, BE
e PCP derrubam o líder da PàF. Costa torna-se primeiro-ministro.
Mas quanto tempo pode demorar este processo?
Se tudo correr como
o posicionamento das peças no tabuleiro do xadrez político parece
fazer adivinhar, Portugal arrisca-se a ficar mais um mês e meio sem
Governo. Para perceber porquê é preciso olhar para os próximos
passos.
Cavaco Silva vai
ouvir todos os líderes partidários com assento parlamentar até
quarta-feira. Nesse dia, como avançou a TVI24, o Presidente da
República deverá indigitar Passos Coelho como primeiro-ministro,
mesmo sabendo que sociais-democratas e centristas dificilmente
conseguirão fazer aprovar o programa do Governo na Assembleia da
República.
Posto isto, Passos
terá então a tarefa de escolher quem se vai sentar ao seu lado no
Conselho de Ministros. A formação do próximo Governo será, ao que
tudo indica, rápida. Em 2011, depois de ter vencido as eleições de
5 de junho sem maioria absoluta, Passos teve de dar a mão a Paulo
Portas e construir um Governo a duas cores. Duas semanas depois, a 21
de junho, tomava posse XIX Governo Constitucional de Portugal.
Agora, Passos deve
reunir-se de algumas figuras que já o acompanharam nesta legislatura
e, talvez, de outros nomes fortes – foi isso que sugeriu Luís
Marques Mendes, no seu espaço de comentário na SIC, quando disse
que o líder da coligação “devia surpreender com um grande
governo nas figuras. Tem que ter um governo forte, de qualidade”. O
ex-líder social-democrata explicava porquê: “[Passos] Não pode
ter um governo pífio, de segundas linhas, até para condicionar o
adversário. Se as pessoas virem um governo forte, consideram ainda
mais absurdo derrubar um bom governo”.
Depois de tomar
posse, o social-democrata terá 10 dias para fazer aprovar o seu
programa de Governo no Parlamento. E é aqui que as coisas se começam
a complicar. Catarina Martins e Jerónimo de Sousa já garantiram que
vão apresentar uma moção de rejeição ao programa da coligação.
Resta agora saber o que fará António Costa. O líder socialista tem
dito que não será “irresponsável” e não derrubará o
Executivo de Passos e Portas se não tiver uma alternativa estável.
E é nisso que têm trabalhado PS, Bloco e PCP.
Se os três partidos
chegarem a entendimento e deixarem cair o Governo PSD/CDS abre-se
então um novo capítulo. Cavaco Silva terá de ouvir novamente todos
os líderes partidários e, se assim o entender, indigitar então
Costa como primeiro-ministro, apoiado por bloquistas e comunistas.
São muitos “se’s”, mas, ainda assim, é uma hipótese que
parece ganhar força ao mesmo ritmo que as negociações entre
Passos, Portas e Costa parecem chegar a um ponto sem retorno.
Neste cenário, o
líder socialista tornava-se primeiro-ministro e teria de formar
Governo. Com bloquistas e comunistas? Parece improvável. António
Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa deverão chegar a um
acordo de incidência parlamentar que permita fazer aprovar, no
Parlamento, o programa de Governo socialista e o Orçamento do Estado
para 2016. Se o acordo vai ser desenhado para um ano ou quatro anos é
ainda muito cedo para dizer.
Assim que tomar
posse – e se chegar a tomar posse -, António Costa terá 10 dias
para fazer aprovar o programa de Governo no Parlamento. Ora, este
processo estaria concluído, na melhor das hipóteses, na primeira
semana de dezembro. António Costa, já na pele de primeiro-ministro,
teria então de desenhar, discutir e fazer aprovar o Orçamento do
Estado para 2016. Com o calendário muito apertado, muito
dificilmente conseguiria ter o Orçamento pronto antes do final do
ano e o país entraria assim em gestão orçamental por duodécimos –
cairiam o corte nos salários da função pública, a sobretaxa de
IRS, o congelamento das pensões ou taxa sobre o setor energético.
Um buraco de muitos milhões nas mãos do próximo Governo.
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