Costa
vive impasse à esquerda e à direita
SÃO JOSÉ ALMEIDA e
MARIA JOÃO LOPES 18/10/2015 - PÚBLICO
Maria
Luís desmente Costa e Marco António diz que a coligação quer
negociar. No PCP começa a ser dado por adquirido que não haverá
acordo. O Editorial do Avante! apoia a manifestação contra a Nato.
Na direcção do PCP
instala-se a ideia de que não será concretizada a hipótese de
acordo com o PS e o BE para que haja um governo minoritário dos
socialistas apoiados à esquerda no Parlamento.
De acordo com
informações recolhidas pelo PÚBLICO, há dirigentes comunistas que
consideram que é arriscado ensaiar um acordo com António Costa
quando surgem sinais de instabilidade dentro do PS, indicativos de
que o actual secretário-geral está fragilizado e não domina o
partido. De acordo com um desses responsáveis, “é preciso vontade
política para impor uma decisão destas”, mas, adverte outro
responsável comunista: “Uma coisa era Costa ter ganho as eleições
e abrir negociações connosco, outra muito diferente é fazê-lo sem
sequer dominar o seu partido.”
Com mais “reuniões
técnicas” do PS com o BE e do PS com o PCP previstas para a
semana, embora sem data e hora marcada, começa a instalar-se algum
cepticismo entre socialistas, bloquistas e comunistas de que possa
ser estabelecido um acordo em tempo útil de os três poderem
comunicar ao Presidente da República as condições e as
características do seu entendimento, nas audiências de terça-feira,
PS e BE, e quarta, PCP e o PEV.
As negociações do
PS com o PCP e o BE têm corrido de forma diversa. Com o BE mais
concretas, com o PCP mais políticas. Muito do que o BE propôs ainda
não foi abordado, mas há um impasse real em relação à Segurança
Social. Isto quando Catarina Martins e Mariana Mortágua já
afirmaram que o BE apenas garante a viabilização do programa de
Governo do PS e o Orçamento do Estado para 2016. Ou seja, não há
forma de o BE dar um acordo de legislatura ao PS, condição que pode
ser importante para o Presidente da República.
Já com o PCP, a
negociação está ainda mais atrasada. No sábado, Jerónimo de
Sousa repetiu a ideia de que “nada impede o PS de formar governo e
entrar em funções”, como alternativa a um governo do PSD-CDS. E
repetiu que o PCP não se oporá a um governo do PS, “mesmo num
quadro em que o PS insista no seu programa e que não seja possível
– o que de facto não é fácil – encontrar uma convergência
sobre um programa de governo”.
Jerónimo de Sousa
tem, aliás, reproduzido a posição do PCP que na quinta-feira veio
reafirmada no editorial do Avante! Nessa rúbrica do jornal oficial
do PCP, que verte as posições do Comité Central, está expresso
que “o programa do PS não responde à aspiração de ruptura com a
política de direita”. E garante que “sejam, porém, quais forem
as circunstâncias e a evolução da situação, os portugueses podem
ter como garantido que os votos do PCP contribuirão sempre para
todas as medidas que forem úteis para os trabalhadores, o povo, o
país e opor-se-ão a tudo o que signifique mais exploração,
empobrecimento, injustiças sociais e declínio nacional”. O mesmo
editorial que termina a apoiar “a iniciativa pela Paz e contra a
NATO a realizar em Lisboa no próximo dia 24 de Outubro.”
Coligação
disponível
Embora tecendo duras
críticas às afirmações Costa e à carta por estes enviada a
Passos Coelho, que o PÚBLICO divulgou, o vice-presidente do PSD,
Marco António Costa, fez questão de ressalvar, no sábado, que a
direita está disponível para prosseguir as negociações.
“Nunca
abandonaremos uma atitude séria de negociação. Nunca viraremos as
costas ao nosso país. Nem nunca viraremos as costas a uma atitude
construtiva de negociação. Mas não estamos disponíveis para
simulacros negociais, nem para arrastar na praça pública esta
tentativa de inquinar uma negociação séria com insinuações
infundadas que só podem estar justificadas em desespero político”,
disse Marco António Costa aos jornalistas, considerando “inaceitável
que, a meio de um processo negocial se lance estas atoardas
injustificadas para tentar criar sombras na opinião pública que não
têm o mínimo fundamento”.
Na sexta-feira à
noite, na TVI, Costa sugeriu que um das razões pelas quais a
conversa com a coligação de direita azedou foi por causa de “uma
má notícia para o país que um dia os portugueses vão saber”. E
acrescentou: “Foram sempre deixando cair uma nova surpresa
desagradável que um dia vão ser tornadas públicas sobre a real
situação financeira do país.”
Horas depois de
Marco António falar, e sublinhado que se pronunciava na “qualidade
de militante e deputada eleita do PSD”, Maria Luís Albuquerque
reagia: “Em política não vale tudo e do PS esperar-se-ia um
comportamento responsável e verdadeiro perante os portugueses.”
Numa nota à comunicação social, afirma que “a situação das
finanças públicas portuguesas é absolutamente transparente e é
permanentemente auditada por entidades independentes nacionais e
externas”.
Diz ainda que “nada
do conteúdo da referida reunião é susceptível de suportar as
insinuações proferidas pelo secretário-geral do PS, nem no
decorrer da mesma foram suscitadas quaisquer preocupações ou
informações sobre temas que não sejam do conhecimento público
(como é o caso do processo de privatização da TAP ou a
investigação aprofundada sobre o Banif iniciada pela Direcção-Geral
da Concorrência da Comissão Europeia) ou que sejam passíveis de
gerar alarme sobre a situação actual e perspectivas futuras do
país”. E garante que “toda a informação relevante
disponível”, sobre “a execução orçamental de 2015 e ponto de
situação da actualização do cenário macroeconómico, foi
fornecida verbalmente” e por escrito.
Já sobre a carta a
Marco António considera que esta “enferma” de “três vícios”:
parte do princípio de que o programa vencedor das legislativas foi o
socialista; não apresenta uma metodologia para o “avanço das
negociações”, como a direita esperava; não apresenta uma
contraproposta e ainda tenta criar a “ideia artificial” de que as
negociações só correm bem à esquerda.
Ainda assim,
garantiu que, da parte da PaF, “haverá sempre uma atitude
construtiva para um diálogo efectivo” e vão “responder” à
carta, mesmo que, diz, não apresente um caderno de encargos e se
limite a elencar de forma “avulsa” e “completamente irrazoável”
um conjunto de ideias que partem do princípio que o programa do PS
foi vencedor.
“Não temos uma
posição que nos permita sozinhos governar e, por isso, é que
estamos abertos e empenhados desde o primeiro momento numa atitude
séria de negociação com o partido que comunga com os partidos da
coligação um dos valores essenciais da nossa democracia e do
projecto internacional”, declarou.
E acrescentou ser
“claro para todos os portugueses que há uma tentativa de criar uma
ideia artificial na sociedade portuguesa de que as negociações só
correm bem com a esquerda, com a coligação PaF essas negociações
nunca correm bem”. Tal, defende Marco António Costa, “é um
sofisma, não corresponde à verdade”.
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