Cavaco
ainda não acredita
Leonete Botelho
30/10/2015 -
A intervenção do
Presidente da República na tomada de posse do governo PSD/CDS tenta
corrigir a linha das interpretações do discurso que proferiu há
uma semana, quando anunciou ter indigitado Passos Coelho como
primeiro-ministro. Desde logo, ao sentir necessidade de justificar a
opção que tomou: pelos resultados eleitorais, pelo “costume
político-constitucional” de que forma governo quem ganhou as
eleições e – last but not least - porque as outras forças
políticas, de esquerda, ainda não lhe apresentaram “uma solução
alternativa de Governo “estável, coerente e credível”.
Todo o discurso
completa depois esta linha de raciocínio sobre o que representa,
para ele, a estabilidade, a coerência e a credibilidade. Pese embora
estas três palavras não sejam as mais repetidas no discurso, Cavaco
Silva acentua a importância da estabilidade e da credibilidade para
aquilo que define como o “superior interesse nacional”. E este é
todo virado para a manutenção da “linha de rumo”.
Palavras como
“consolidar”, “prosseguir”, “preservar”, “não
regredir”, “fidelidade aos compromissos” reforçam a ideia de
estabilidade, responsabilidade e credibilidade que tanto repetiu.
Sempre com a economia no topo das preocupações.
Nas duas páginas e
meia de intervenção, o Presidente da República enumera as
obrigações de Portugal em matéria de disciplina orçamental, do
Pacto de Estabilidade ao Tratado Orçamental, passando pela dívida e
pelo défice, União Bancária e Parceria Transatlântica de Comércio
e Investimento.
Recorda o programa
de assistência depois do país ter estado “à beira da
bancarrota”, enaltece os “sinais de esperança” e acena com os
riscos de se perder a credibilidade externa que permitem os meios de
financiamento. Mas reserva apenas uma frase para falar do combate ao
desemprego e da promoção de justiça social.
Por fim, o
Presidente evoca a importância da estabilidade política, sem a
qual “Portugal torna-se um país ingovernável” e “ninguém
confia num país ingovernável”. Desta vez, as referências
implícitas ao PCP e ao BE são menos crispadas, mas não deixam de
estar lá. Como está lá a dúvida profunda que Cavaco Silva tem em
relação a um governo apoiado por estes dois partidos. A
palavra-chave deste discurso é a credibilidade. E Cavaco ainda não
acredita.
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