Portas
admite ceder lugar de número dois a Costa
RITA DINIS /
19/10/2015, OBSERVADOR
Paulo Portas está
disposto a ceder o seu lugar de número dois no Governo no caso de
haver uma coligação PSD/CDS e PS. Governo de Passos é o natural,
mas acusa PS de não ter feito "uma única" proposta.
Paulo Portas está
disponível para deixar de ser o número dois do Governo em caso de
uma coligação alargada entre o PSD, CDS e o PS. “Com certeza que
se tivesse de deixar de ser número dois num governo desses [de
coligação alargada] deixaria”, disse esta segunda-feira à noite
em entrevista à TVI, falando em “humildade política” e
sublinhando que o seu destino ou função individual “não deve
prevalecer sobre o interesse nacional”. Segundo Portas, só há uma
leitura possível dos resultados eleitorais: A coligação ganhou e
deve governar, mas como ganhou sem maioria deve fazer entendimentos
com o PS – só que o PS “ainda não apresentou uma única
contra-proposta”, lamentou. E pediu “responsabilidade” e
“humildade” democrática: “É preciso estar à altura da
vontade dos portugueses”, disse.
“Quem ganhou foi a
coligação, os portugueses querem que a coligação governe, mas
querem também que governe com compromissos e entendimentos”,
disse, notando que esses compromissos só são possíveis dentro das
regras do euro, ou seja, apenas e só com o PS. E para ilustrar isso
Paulo Portas lembrou que a nova configuração do Parlamento reúne
uma “larguíssima maioria” de cerca de “80%” de deputados que
são “pró-euro, pró-projeto europeu, pró-NATO, e pró-regras
comuns”.
Nesse sentido, o
líder do CDS alertou para o “perigo” de se estar a fazer uma
leitura diferente dos resultados das eleições e a “colocar a
governabilidade do país nas mãos do PCP ou do BE”, numa altura em
que ambos estão a levantar a voz ao PS e, “ainda por cima”, em
concorrência um com o outro. “Não acho que seja boa ideia”,
disse, alertando para os cenários de “instabilidade crónica” e
de défices “exagerados” que podem advir dos governos frágeis de
“seis meses”.
O PS diz que estes
resultados impedem a coligação de governar, mas essa é uma leitura
muito perigosa, porque os portugueses também não votaram na
instabilidade nem em nada disto que está a acontecer”, reforçou.
Instando sempre os
políticos a serem “responsáveis” e a “respeitarem o interesse
nacional”, Paulo Portas deixou ainda uma farpa a António Costa:
“Interesse nacional é muito diferente de manual de sobrevivência
partidária”, disse, acrescentando depois que não julga ninguém
por, dentro do seu partido, se demitir ou não se demitir na
sequência de resultados eleitorais.
Mas sobre o
desbloquear do impasse, Portas é claro: o normal é que o Presidente
da República indigite Pedro Passos Coelho a formar governo e que
esse governo, não tendo maioria absoluta, deve encontrar
compromissos com o PS – único partido que está dentro da tal
“maioria larguíssima” do arco pró-europeu. “Ainda tenho
esperanças que o PS caia em si”, disse, pouco depois de ter
acusado o PS de não ter levado para cima da mesa “nenhuma única
proposta negocial com hierarquização de prioridades e definição
do método para podermos chegar a qualquer acordo”.
Na mesma entrevista
à TVI, Paulo Portas disse ainda que António Costa “não teve
qualquer sentido de Estado” quando, numa entrevista ao mesmo canal
na última sexta-feira, deixou no ar a possibilidade de PSD e CDS
estarem a esconder contas e dados “graves”, não revelando quais.
Tratou-se, segundo Portas, de uma “insinuação” que depois
passou a uma “suposição” quando Mário Centeno veio reforçar
que o “grave” não era o que tinha sido nas negociações mas sim
o que “não tinha sido dito”.
Sobre isso, Portas
afirmou que não crê que “haja alguma surpresa financeira”,
defendendo-se com o elevado escrutínio das finanças públicas que é
feito por várias entidades como a UTAO, o Conselho de Finanças
Públicas, o Banco de Portugal, os credores, ou até a comunicação
social. “Primeiro não há vontade, depois não há possibilidade
de estar a fazer artimanhas”, disse.
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