Fase
final. PS não exclui acordos separados com PCP e BE
LILIANA VALENTE /
21/10/2015, OBSERVADOR
Acordo não está fechado -
e o PS admite acordos separados com PCP e BE. Orçamentos não estão
garantidos preto no branco. Socialistas testam atualização
progressiva do salário mínimo.
A fórmula final do
compromisso entre os quatro partidos da esquerda ainda não está
fechada e, no PS, há quem admita que tudo possa acabar em vários
acordos, cada um com cada partido da esquerda. As exigências de PCP,
BE e Verdes são diferentes e, em vez de os conciliar num único
documento, os socialistas podem optar por acordos separados. Para já,
começam a estar fechados os princípios para as políticas para os
quatro anos, o que não significa que esteja garantida a aprovação
preto no branco dos orçamentos do Estado. Ou seja, o acordo
contempla apenas os princípios e políticas principais para a
legislatura, garantindo que, para os imponderáveis, há negociação
prevista e com metodologia acertada. O mesmo é dizer que PCP, BE e
Verdes têm de dar luz verde a cada documento por si só, desde
orçamentos do Estado aos programas de estabilidade.
“É um acordo que
estabelece os princípios das políticas orçamentais para os quatro
anos”, mas não dirá preto no branco que os três partidos à
esquerda (PCP, BE e PEV) aprovam, sem mais, os orçamentos da
legislatura e os programas de estabilidade, contou ao Observador
fonte da direção do PS. Outra fonte da direção acrescenta que o
espírito do documento será o mesmo que é aplicado a acordos de
coligação, sem que isso implique que os partidos façam parte do
governo. Contudo, acrescenta o dirigente socialista, também não se
pode dizer que os partidos à esquerda do PS não ficam obrigados de
votar solidariamente os orçamentos, isto porque há “várias
medidas transversais” à legislatura e os princípios serão sempre
os mesmos: cumprimento dos compromissos internacionais e respeito
pela “trajetória orçamental”, já aceites pelos partidos.
Das metas à
trajetória, à diferença no discurso
Há, mesmo assim,
uma variável importante no discurso socialista: se nos primeiros
tempos da negociação Costa salientava que o compromisso à esquerda
garantia o cumprimento dos compromissos internacionais, mudou a
semântica para garantir que BE, PCP e PEV se comprometeram com a
“trajetória orçamental”. E esta alteração é importante,
porque depois do Orçamento do Estado o governo tem de tratar do novo
programa de estabilidade, que tem, exatamente, a trajetória
orçamental – onde podem ser revistas as metas do défice e da
dívida para os anos seguintes. Também é certo que Costa disse que
este governo teria uma nova postura na Europa e essa postura,
anti-austeridade, poderia até começar com a negociação desta
mesma trajetória para ser mais favorável aos objetivos.
A direção alargada
do PS reúne-se quinta-feira à noite e nessa altura Costa levará na
mão um acordo quase fechado à esquerda e uma mão cheia de nada à
direita. Para que o acordo fique fechado faltam apenas “detalhes”
ou “pormenores”. Resta saber se isso acontece antes ou depois da
Comissão Política.
O que já estará
fechado: salário mínimo aumenta… gradualmente
Um dos últimos
pontos a fechar foi o aumento do salário mínimo nacional. Ao que o
Observador apurou, o que ficou estabelecido entre os partidos não
foi um valor concreto mas uma “fórmula para o ritmo de
atualização” ao longo da legislatura para apresentar à
concertação social, confirmou fonte das negociações.
Além do salário
mínimo, na “política de rendimentos”, Costa aceitou “uma
aproximação” nas outras medidas que estavam em cima da mesa, como
a descida da TSU (para trabalhadores e empregadores) ou a reposição
dos salários dos funcionários públicos. Aproximação leia-se
deixar cair, mas isto não quer dizer que não haja outras medidas
com o mesmo efeito.
Orçamentalmente,
abandonar a descida da TSU (dos trabalhadores) tem quase o mesmo
impacto do que repor os cortes nos salários dos funcionários
públicos – mesmo que a opção seja a de devolver 20% do corte a
cada trimestre como escreveram já vários jornais -, mas o
público-alvo não é o mesmo. Repor os salários só devolve
rendimento a uma franja da sociedade, os funcionários públicos,
deixando os do privado de fora. Para isso, resta o IRS (também ele
um imposto universal, por isso qualquer mexida beneficiará também
os trabalhadores do Estado). E nesse ponto, ainda não está fechada
a questão da sobretaxa do IRS.
Fonte dos
socialistas diz que a fórmula de abranger os trabalhadores do
privado e as empresas (desistindo o PS da descida da TSU para as
empresas) na política de rendimentos pode passar por outra medida
“mais criativa”.
Se nestes pontos,
até à hora de fecho deste artigo, ainda havia indefinições, há
outros que já estão fechados como o descongelamento das pensões ou
uma imposição do PCP que passava pela redefinição da política
sobre as empresas públicas. Até onde a privatização da TAP ou as
concessões das transportadoras podem ser travadas, só nos termos do
acordo se verá.
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