O que se passa entre o PS e
Sócrates
João Marques de
Almeida
7/12/2014
Sócrates tem um grande poder: as vitórias do PS nas legislativas e de
Guterres nas presidenciais dependem dele. Se ele quiser, Costa e Guterres
perdem. A sucessão de visitas mostra que o PS sabe disso
Há alguma coisa
de estranho nas visitas dos dirigentes do PS ao antigo PM, José Sócrates. Claro
que se pode sempre usar o argumento da “amizade”, como todos têm feito. Não
será necessário escrever um ensaio sobre a amizade, e sobretudo sobre a amizade
em política, para perceber que há qualquer coisa mais do que a amizade. E a
maior surpresa veio com as declarações do actual líder socialista, António
Costa. Vai, obviamente, “visitar um amigo”, mas só durante as “férias do
Natal”. Se é mesmo um “amigo”, e a se a visita é a “título pessoal”, não
arranjará António Costa algum tempo, nem que seja num Domingo, para ir visitar
um amigo? E por que razão, o líder do PS sentiu necessidade de anunciar a
visita com semanas de antecedência? A outra visita surpreendente foi a de
Guterres. Não a visita, mas a sua duração: “vinte minutos.” Quem vai a Évora, pode
ficar um pouco mais. Por exemplo, Silva Pereira, um “verdadeiro amigo”, ficou
uma hora e meia. Como se explica os 70 minutos de diferença? Pelos respectivos
níveis de amizade?
A estratégia do
PS em relação ao “caso Sócrates” tem sido a seguinte: até ao julgamento,
Sócrates deve ser considerado inocente; e a “amizade pessoal” exige
“solidariedade” numa hora difícil para um “amigo”. Formalmente, tudo bem e
estou absolutamente de acordo. Mas a história está longe de acabar aqui. Os
próximos episódios políticos são as eleições legislativas em Setembro/Outubro
de 2015 e as presidenciais em Janeiro de 2016. E os casos de que Sócrates é
acusado aconteceram durante o período em que liderava um governo socialista. No
período em que, parafraseando o discurso de António Costa no Congresso do seu
partido, “o PS tinha uma maioria, um governo e um Presidente.” Não foi depois
de Sócrates ter abandonado São Bento. Ou seja, o que estará em causa é o
comportamento de Sócrates como chefe de um governo, e não como um cidadão na
sua vida privada. E esta é a diferença que pode ser fatal para o PS.
Além de terem
mostrado a sua “solidariedade”, o que terão dito os dirigentes do PS a Sócrates
em Évora? E que mensagens estará António Costa a enviar com o anúncio da sua
visita? Todos nós sabemos que José Sócrates é um “animal feroz” (eu só o sei
porque ele o anunciou aos portugueses numa entrevista; como nenhum dos seus
camaradas alguma vez o desmentiu, presumo que seja verdade). Mas há uma coisa
que sei: os “animais ferozes” não gostam de ser mal tratados. E Sócrates está
absolutamente convencido que foi mal tratado. As suas cartas não são apenas
“cartas de ódio”, são também “cartas de ameaças” ao seu partido. Sócrates tem
um grande poder: as vitórias do PS nas eleições legislativas e de Guterres nas
presidenciais, dependem dele. Se ele quiser, Costa e Guterres perdem. E a
sucessão de visitas mostra que o PS sabe isso. A visita de Guterres foi, na
minha opinião, a declaração de que é, pelo menos, pré-candidato presidencial. Sócrates
decidirá se também será candidato. Calculo que em Évora, os amigos de Sócrates
lhe dirão qualquer coisa como “tem calma e não prejudiques o partido.”
Estamos perante
um jogo muito complicado e perigoso. O PS precisa do silêncio de Sócrates para
ganhar. Mas Sócrates tem que fazer barulho e de escrever cartas para o PS não
se concentrar demasiado em Lisboa – em São Bento e em Belém – esquecer que
Évora existe. Sócrates continuará a recordar regularmente que Évora também é
Portugal. Quanto tempo poderá este jogo durar? E quanto tempo o país aguentará?
Há ainda outras
questões por responder. Conseguirão os socialistas domar o “animal feroz”? Até
agora não o conseguiram, e já enviaram os pesos pesados. A segunda questão é
bem mais perturbante: estão a prometer alguma coisa a Sócrates em troca do seu
silêncio?
António Costa vai visitar
Sócrates nas próximas semanas
PÚBLICO
06/12/2014 - 09:50
Líder do PS diz que visita será "a título pessoal".
O líder do
Partido Socialista e presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa,
vai visitar o ex-primeiro-ministro José Sócrates, que está preso
preventivamente no Estabelecimento Prisional de Évora, por suspeita de
corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal.
António Costa,
que tem procurado manter a investigação judicial a José Sócrates afastada do
PS, afirmou ao semanário Expresso que “a visita será a título individual” e
ocorrerá nas próximas semanas. “Hei-de ir durante as férias de Natal. Só me
ficaria mal se não fosse”, disse.
José Sócrates tem
recebido várias visitas de personalidades do PS, incluindo históricos do
partido como ex-Presidente Mário Soares, Almeida Santos e o
ex-primeiro-ministro António Guterres.
Sócrates foi
detido no dia 21 de Novembro, no aeroporto da Portela, quando regressava de
Paris. Na investigação em curso, que foi baptizada como “Operação Marquês”,
também foram detidos o seu motorista, João Perna, o empresário Carlos Santo
Silva e o advogado Gonçalo Trindade Ferreira. Os dois primeiros também estão em
prisão preventiva.
Silva Pereira visitou Sócrates e
afirmou acreditar na sua inocência
Por Jornal i
publicado em 6
Dez 2014 in
(Jornal) i online
O eurodeputado do
PS Pedro Silva Pereira disse hoje acreditar “na inocência” do
ex-primeiro-ministro José Sócrates, que visitou no Estabelecimento Prisional de
Évora, acrescentando que o encontrou “bem, dadas as circunstâncias”.
“Encontrei José
Sócrates bem, dadas as circunstâncias, e com uma força interior
impressionante”, afirmou Pedro Silva Pereira aos jornalistas, à saída da prisão
da cidade alentejana, na qual Sócrates está em prisão preventiva.
O socialista, que
foi ministro da Presidência dos governos de Sócrates, afirmou ainda que o
antigo primeiro-ministro do PS lhe manifestou “uma grande determinação em lutar
pela sua inocência, pelos seus direitos e pela sua liberdade”.
“Acredito,
naturalmente, na inocência” de José Sócrates, limitou-se a acrescentar aos
jornalistas, escusando-se a tecer outros comentários, após ter visitado o
antigo líder do partido esta tarde, durante cerca de hora e meia.
A 21 de Novembro,
o antigo líder do PS foi detido e, após interrogatório judicial, ficou em
prisão preventiva, por o juiz considerar existir perigo de fuga e de
perturbação da recolha e da conservação da prova.
Está indiciado
dos crimes de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada
num processo que envolve outros arguidos, incluindo o empresário e seu amigo de
longa data Carlos Santos Silva, também em prisão preventiva.
Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário