França
quer um pré-acordo climático já em Outubro
Nova
ronda de negociações para um novo tratado global para as alterações
climáticas iniciam-se em Bona
Ricardo Garcia e
Miguel Castro Mendes, Bruxelas / 2-6-2015 / PÚBLICO
O Governo francês
quer que até Outubro haja um pré-acordo sobre o novo tratado
climático internacional que se espera seja aprovado no final do ano
numa cimeira da ONU em Paris. O ministro dos Negócios Estrangeiros,
Laurent Fabius, disse que o país organizará duas reuniões
internacionais a nível ministerial, a 20 e 21 Julho e a 7 de
Setembro, de modo a tentar acelerar as difíceis discussões neste
momento em curso.
“O objectivo é
que cheguemos a um pré-acordo em Outubro”, disse Fabius, na
abertura de uma nova ronda prévia de negociações das Nações
Unidas, ontem, em Bona, na Alemanha.
A conferência de
Paris, no final do ano, é decisiva e dela deverá sair um documento
vinculativo internacional, com medidas a adoptar a partir de 2020
para conter o aumento da temperatura média global a 2oC até ao
final do século. Por ora, no entanto, o que está sobre a mesa é um
rascunho com 86 páginas e que é sobretudo um repositório de
posições dos diferentes países, muitas delas antagónicas e
incompatíveis. “Dispomos hoje de um projecto de acordo, mas é um
texto longo e que, sobre muitos aspectos, não faz escolhas”, disse
Laurent Fabius.
Os encontros
ministeriais que a França propõe somam-se a mais duas rondas
negociais oficiais que terão lugar no final do Verão e em Outubro,
antes da conferência de Paris.
O Governo francês
quer evitar que Paris seja um fracasso como o foi a conferência de
Copenhaga, em 2009. No calendário das Nações Unidas, era então
que se deveria ter chegado a um novo tratado, para substituir o
Protocolo de Quioto, de 1997. Mas Copenhaga falhou e o Governo
dinamarquês foi criticado pela forma como presidiu a conferência.
Desde então, o
próprio formato das negociações das Nações Unidas, em que tudo
tem de ser aprovado por consenso, tem sido alvo de críticas. “As
negociações da ONU são totalmente inadaptadas à urgência
climática”, disse a ministra francesa da Ecologia, Desenvolvimento
Sustentável e Energia, Ségolène Royal, numa entrevista ao diário
Le Monde. “É preciso mudar o método: colocar sobre a mesa um
documento com os compromissos dos países que estiverem mais à
frente, com os da União Europeia, e pedir aos que não estiverem de
acordo para se exprimirem”, completou.
Até agora, 37
países apresentaram à ONU as suas promessas individuais de medidas
para limitar as emissões de gases com efeito de estufa. A mais
ambiciosa é a dos 28 países da União Europeia, que fixaram uma
meta vinculativa de redução de 40% das emissões até 2030, em
relação a 1990.
A ONU espera ter
todos os compromissos nacionais até Outubro. “Será a primeira vez
que isso acontece, e pela primeira vez teremos uma imagem da situação
de cada país no que toca a emissões”, disse ao PÚBLICO Janos
Pasztor, secretário-geral adjunto da ONU para as alterações
climáticas.
“É claro que as
contribuições nacionais não serão suficientes para ficarmos
abaixo do objectivo dos 2oC”, alerta, no entanto, Pasztor. A esses
compromissos, será necessário acrescentar “um acordo que tenha
mecanismos de monitorização e que seja mais ambicioso à medida que
o tempo passa”.
Um dos pontos-chave
das negociações de Paris “será a diferenciação entre o Norte e
o Sul”, afirma Pasztor. No Protocolo de Quioto, esta separação é
clara, pois fixa metas de redução de emissões apenas para os
países desenvolvidos. Não haverá acordo em Paris, porém, se o
novo tratado não vincular a todos os países. “O que era verdade
anteriormente pode ser ou não ser verdade no novo acordo, e isso
será parte das discussões”, completa o responsável da ONU.
O início da ronda
de Bona coincide com um apelo de seis petrolíferas — BP, Shell,
Statoil, Total, Eni e BG — para que haja um mecanismo que crie um
preço mundial para o carbono.
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