Grécia quer chegar a acordo sobre
a dívida “até ao fim de Maio”
França está disponível para
ajudar novo Governo de Atenas a conseguir um entendimento com os parceiros
internacionais. Mas exclui cenário de perdão da dívida
João Manuel Rocha / 2-2-2015 / PÚBLICO
A Grécia quer chegar a um
acordo global sobre a sua situação financeira “até ao fim de Maio”. O prazo foi
fixado pelo ministro das Finanças, Yanis Varoufakis. “Até lá, não vamos pedir
novos empréstimos”, disse.
Mas Varoufakis, que
falava ontem em Paris, depois de um encontro com o ministro das Finanças
francês, Michel Sapin, pediu tempo para explicar a posição do novo Governo
grego aos parceiros europeus.
O ministro espera colocar
“em cima da mesa” as propostas detalhadas do executivo de Atenas sobre a dívida
até ao fim de Fevereiro. “Depois, no prazo de um mês, talvez seis semanas,
poderemos chegar a um acordo”, disse, citado pela AFP, na conferência de
imprensa conjunta que seguiu ao encontro.
Varoufakis disse que o
pagamento da dívida deve estar ligado à retoma do crescimento e que o seu país
se tornou “viciado em endividamento”. “Fomos eleitos para pôr fim a essa
dependência”, declarou.
O prazo fixado pelo
ministro é compatível com os compromissos da dívida — o país precisará de dez
mil milhões de euros para a financiar, mas só no Verão. A questão que exigirá
um entendimento no mais curto prazo é o acesso da banca grega ao Banco Central
Europeu para assegurar a liquidez, depois de terminar o actual programa da
troika, no final de Fevereiro.
Em Paris, Varoufakis
ouviu Michel Sapin manifestar disponibilidade de França para ajudar o novo
Governo grego a chegar a um acordo com os parceiros internacionais sobre a
dívida. O ministro francês considerou legítima a preocupação de Atenas em
alivar esse fardo. Frisou, segundo a Reuters, que o lugar da Grécia é na zona
euro e acrescentou que qualquer novo acordo deve ter em conta as reformas estruturais
que o Executivo se prepara para apresentar.
Horas antes do encontro,
Sapin disse à televisão Canal+ que é legítimo o Governo de Atenas querer
discutir formas de redução do peso da sua dívida, mas excluiu um cenário de
perdão. “Podemos discutir, podemos dilatar o pagamento no tempo, podemos
reduzir o seu peso, mas não anular”, disse.
Varoufakis disse que
deseja deslocar-se em breve a Berlim, Helsínquia, Bratislava, Madrid e
Frankfurt, sede do Banco Central Europeu, para explicar a posição do seu
Governo. Afirmou já ter recebido uma amável carta do ministro das Finanças
alemão, Wolfgang Schäuble, à qual já respondeu, e adiantou que poderia ser
marcado um encontro em 24 horas.
A Alemanha é uma forte
defensora da disciplina orçamental e detém uma parte importante da dívida
grega. A chanceler, Angela Merkel, afastou, no sábado, a possibilidade de a
perdoar. “Não vejo como pode haver um novo perdão”, afirmou, depois de recordar
que já houve uma redução da dívida por parte de credores privados.
Uma sondagem divulgada
ontem pelo Bild am Sonntag indica que 62% dos alemães são favoráveis à
manutenção da Grécia no euro e que apenas 26% querem o país fora da moeda
única. Revela também que 68% são contra um abate da dívida.
Não há choque Norte-Sul
O ministro grego afastou
a ideia de um choque de interesses entre países da União Europeia. “Quem
considerar que há um conflito entre o Norte e Sul é inimigo da Europa. Não é
esse o espírito com que estamos a reunir-nos com os nossos parceiros”, disse,
segundo o jornal grego
Kathimerini.
Em Paris, Varoufakis quis
também clarificar a declaração que motivou a crispação do presidente do
Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, na sextafeira, em Atenas, quando disse não quer
dialogar com a delegação da
troika. “É um grupo de
tecnocratas. Parte do nosso mandato é repensar o programa [de assistência
financeira]. Os tecnocratas não estão autorizados a fazê-lo.”
A visita a França foi a
primeira etapa da ofensiva diplomática grega para procurar apoios para rene-
gociar a dívida pública.
Hoje estará em Londres e amanhã em Roma. O primeiro-ministro, Alexis Tsipras,
vai amanhã a Roma e na quarta a Paris. Está também previsto um encontro com o
presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, ainda sem data marcada.
Para os encontros que
está a ter, Varoufakis preparou uma “abordagem técnica do dossier”, com
“argumentos rigorosos e quantificados”, que lhe permitam “obter apoios”, disse
a sua equipa à AFP.
A sua linha de
argumentação passa por sublinhar que a austeridade não penaliza apenas a
Grécia. “Somos contra [o programa de austeridade], não só porque não beneficia
a Grécia, mas também porque é muito prejudicial para toda a Europa”, disse ao
semanário grego To Vima.
“Não esqueçamos que isto
não é apenas uma crise grega. Temos a Itália, cuja dívida não é viável; a
França, que sente a deflação soprar na nuca; e mesmo a Alemanha entrou em
deflação”, numa fase de baixa de preços, afirmou, citado pela AFP.
Depois da tensão
provocada pela declaração de que Atenas não quer dialogar com a delegação da
troika, as mais recentes declarações dos dirigentes gregos vão no sentido de um
apaziguamento ou, na sua versão, de esclarecimento da sua posição.
Na sexta-feira à noite,
Alexis Tsipras telefonou ao governador do Banco Central Europeu, Mario Draghi,
para sublinhar palavras que já pronunciou mais do que uma vez nos últimos dias:
“a vontade de encontrar uma solução mutuamente benéfica para a Grécia e para a
Europa”.
A mesma fonte oficial que
deu esta informação à Reuters disse que, já depois da tensa conferência de
imprensa de Varoufakis e Dijsselbloem, o presidente do Eurogrupo telefonou ao
chefe do Governo grego para lhe assegurar que as negociações continuam.
No sábado, num
comunicado, Tspiras garantiu que “ninguém quer entrar em conflito” e nunca
houve “intenção de agir de maneira unilateral”. Tsipras disse precisar de
“tempo para respirar e criar um “programa de recuperação de médio prazo”.
Numa declaração à agência
Bloomberg, o chefe do Governo declarou-se “absolutamente confiante” de que em
breve se chegará a um “acordo mutuamente benéfico, tanto para a Grécia como a
Europa no seu todo”. “A discussão com os nossos parceiros europeus apenas começou”,
disse também.
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