A Gigabeira e o apartamento de
Sofia Fava
Miguel Santos 27/2/2015, OBSERVADOR
A ex-mulher de Sócrates decidiu vender o apartamento como medida de gestão
urgente. A Gigabeira, uma empresa associada a Santos Silva, comprou-o por 400
mil euros, mesmo tendo um prejuízo de 200 mil.
O enredo gira em
torno do apartamento de Sofia Fava em Alvalade e começou a ganhar vida em 2011,
ano em que a ex-mulher de José Sócrates decidiu vender o imóvel. No mesmo ano,
mais precisamente a 28 de dezembro, a Gigabeira – uma empresa de construção
civil do grupo Constrope, de que Carlos Santos Silva, amigo e alegado
testa-de-ferro do ex-primeiro-ministro, era administrador – avançou para a
compra do apartamento por 400 mil euros. Até aqui, nada de estranho. Não fosse
um pormenor importante: em 2011,
a empresa já apresentava um prejuízo de 200 mil euros.
Um ano e meio
depois, a Gigabeira colocou a antiga casa de Sofia Fava à venda por 350 mil
euros. Surgiu um interessado, que conseguiu concluir o negócio por 260 mil
euros, menos 90 mil euros do preço exigido pela empresa. Mas, se o ditado
“sorte de uns, azar de outros” é verdadeiro, aqui teve ainda mais força: pouco
tempo depois de concluir o negócio, a empresa de construção civil declarou
insolvência e o novo comprador conseguiu ficar com o apartamento apenas por 50
mil euros, valor do sinal.
Estas informações
foram reveladas no programa “Sexta às 9″, conduzido por Sandra Felgueiras, na
RTP. Contactada pela estação pública, a ex-mulher de José Sócrates acedeu a
responder às perguntas dos jornalistas e esclareceu os contornos que levaram à
venda do imóvel de Alvalade.
“Porque o valor
das obras realizadas no prédio era de montante muito superior ao previsto, como
medida de gestão urgente decidi dar por conta do pagamento do valor dessas
obras, o meu bem imóvel situado na rua Francisco Stromp, que, segundo fui
informada, interessava à empresa de construção civil que me tinha executado as
obras, para alojar os seus trabalhadores. Foi-me, na altura, solicitada, pela
empresa interessada, uma procuração irrevogável, que emiti, mas que foi usada
apenas um ano depois pelo beneficiário, o qual, em meu nome, vendeu o bem
imóvel a quem entendeu e sem o meu controle direto ou indireto”.
No entanto, dois
meses depois de vender o apartamento, como medida de “gestão urgente”, Sofia
Fava decidiu adquirir uma herdade de 12 hectares no
Alentejo, com piscina e uma casa de 600 m² . O preço? 760 mil euros.
Para o fazer,
Sofia Fava contraiu um empréstimo ao BES, garantido por uma aplicação
financeira no mesmo valor e cuja prestação mensal era de 4.488 euros. E é aqui
que se unem as pontas com Carlos Santos Silva: a ex-mulher de José Sócrates
recebeu, “entre 2010 até finais de 2014″, como a própria confirmou à RTP, uma
avença mensal do empresário no valor de 5.000 euros. Um valor que Sofia Fava
explicou fazer parte de um contrato de prestação de serviços assinado com outra
empresa de Carlos Santos Silva, a XML.
“Prestei serviço,
em dedicação exclusiva até 2013, com contrato de avença, que vigorou desde o
inicio de 2010 até finais de 2014, na área de projetos de urbanismo e ambiente,
à empresa XLM, de que o engenheiro Carlos Santos Silva é, tanto quanto sei,
sócio, tendo recebido o valor ajustado para o trabalho que executei e que se
encontra documentado. O empréstimo que me permitiu adquirir o bem imóvel no
Alentejo, está a ser pago por mim e pelo meu atual companheiro”.
Entretanto, a
ex-mulher de José Sócrates transformou a herdade na sede de uma empresa
unipessoal dedicada a várias áreas de atividade económica – “agricultura e
correspondentes atividades transformadoras, agropecuária, turismo, importação e
comercialização de bijutaria” e “colaboração em projetos de engenharia,
sobretudo fora do país”.
Quanto à
Gigabeira, mesmo apesar da crise que vivia há alguns anos, durante o período em
que José Sócrates esteve em São Bento, foi conseguindo escapar ao destino que
começava a ser desenhado desde 2011: de acordo com os dados citados pela RTP e
que estão disponíveis na plataforma online Portal Base – onde só é possível
consultar os contratos publicados a partir de agosto de 2008 – a Gigabeira
venceu todos os concursos públicos a que concorreu – 20 no total. Um valor que
passou para metade quando Pedro Passos Coelho se tornou primeiro-ministro.
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