quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Bruxelas vigia Portugal por excesso de “desequilíbrios macroeconómicos”


Bruxelas vigia Portugal por excesso de “desequilíbrios macroeconómicos”
Comissão Europeia deu um novo adiamento, agora de dois anos, para a França colocar o défice abaixo de 3%. Alemanha não se salva de críticas por causa da falta de investimento e excedente orçamental

Miguel Castro Mendes, Bruxelas / 26-2-2015 / PÚBLICO

Portugal saiu do Programa de Assistência Económica e Financeira (PAEF), mas os problemas da economia nacional estão longe de estar resolvidos. Esse foi o sinal dado ontem pela Comissão Europeia, que colocou Portugal no grupo de países que está sob vigilância de Bruxelas, devido a “desequilíbrios macroeconómicos excessivos”.
O comissário dos Assuntos Económicos, Pierre Moscovici, realçou os altos níveis de endividamento da economia portuguesa
A medida foi anunciada no âmbito do Semestre Europeu, onde se faz a análise à saúde económica e financeira de cada Estado-membro e suas implicações ao nível da União Europeia. “Concluímos que cinco países – França, Itália, Croácia, Bulgária e Portugal – apresentam desequilíbrios excessivos que exigem acção política decidida e monitorização específica”, anunciou o comissário dos Assuntos Económicos, Pierre Moscovici.
Portugal terminou o programa da troika em Junho de 2014, e está actualmente sujeito a uma fiscalização pós-programa para além da fiscalização no âmbito do semestre europeu. Desde 2011, o país estava fora deste radar, por estar debaixo do programa da troika de credores. Agora, no entanto, voltou a estar na mira de Bruxelas. De acordo com os responsáveis da Comissão Europeia, os “desequilíbrios excessivos” de Portugal requerem “acções decisivas” no seu combate.
O comissário explicou que, apesar de “progressos consideráveis alcançados durante o programa, tanto a nível do ajustamento económico como das políticas orçamentais, subsistem riscos importantes, ligados aos altos níveis de endividamento, tanto a nível interno como externo (público e privado), transversais a vários sectores, e que merecem muita atenção”. Ao mesmo tempo, Bruxelas chama a atenção para os riscos causados pela pressão da descida do endividamento num contexto de baixo crescimento, baixa inflação e desemprego elevado.
O PSD reagiu através do líder da bancada, com Luís Montenegro a reconhecer que Portugal está entre os países que “têm um grau de vigilância mais apertado”, mas que “isso decorre de uma situação que é conhecida”. “Nós sabemos que Portugal tem ainda de vencer importantes desequilíbrios que tem na economia, que tem de garantir a sustentabilidade da sua dívida, de continuar a trilhar um caminho de recuperação do emprego e baixa do desemprego”, afirmou, citado pela Lusa.
Se aqui parece haver consonância com Bruxelas, o certo é que a Comissão Europeia e o Governo têm mostrado visões opostas sobre as contas públicas. Enquanto o Ministério das Finanças defende que este ano o défice será de 2,7% do PIB (saindo assim do procedimento de défice excessivo por 0,3 pontos percentuais), Bruxelas contrapõe com uma estimativa de défice orçamental de 3,2%. Além disso, a Comissão Europeia tem mostrado também alguma preocupação pela ausência de implementação de reformas em áreas como as pensões, bem como pelo facto de o equilíbrio orçamental estar a ser feito muito à base do crescimento das receitas, e não por via de cortes na despesa.
França ganha tempo
O colégio de comissários também decidiu dar mais dois anos à França para fazer recuar o seu défice, que actualmente ronda os 4%, para baixo dos 3% exigidos pelas regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC). Agora, poderá alongar-se até 2017 para sair do procedimento por défice excessivo. Mesmo assim, não houve uma cedência total, já que a França pretendia ter mais três anos para o fazer. Agora, terá que apresentar um plano de reformas até o final de Abril, que será utilizado pela Comissão para decidir, em Maio, se aplica ou não à França o braço “correctivo” do procedimento por défice excessivo. O plano deverá apresentar medidas para reduzir o défice em 0,5% do PIB ainda este ano. Moscovici referiu que as reformas, adoptadas em circunstâncias políticas delicadas pela França a semana passada, “vão na boa direcção”, mas que mais esforços são necessários.
É já a terceira vez que a França recebe mais tempo para corrigir o seu défice, tendo em 2013 e 2014 obtido mais tempo. Apesar disso, Moscovici fez questão de insistir que a meta de 0,5% de redução do défice para este ano é para cumprir. De outro modo, alerta: “Não hesitaremos em utilizar todos os meios legais à nossa disposição”, onde se inclui uma pesada multa.
Nos casos da Itália e da Bélgica, que juntamente com a França tinham sido identificados em Outubro como “em risco” de violarem as regras do PEC, neste caso por dívidas públicas excessivas, os comissários decidiram que a abertura de um procedimento por défice excessivo nesta fase “não se justifica”. A Comissão Europeia cita, nomeadamente no caso de Itália, o risco de “efeitos adversos na economia italiana e, dado o seu tamanho, de impactos negativos” sobre a Europa.

Também a Alemanha não escapa a Bruxelas, com a Comissão Europeia a destacar que os seus desequilíbrios macroeconómicos requerem “acções decisivas”, além de monitorização. Neste caso, a Comissão Europeia alerta para a falta de investimento público e privado, o que bloqueia o crescimento da economia (a maior da Europa) e acentua o já elevado excedente da balança comercial e da conta-corrente (com efeitos negativos nos outros países da UE). com Luís Villalobos

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