quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

As promessas que vão ficando pelo caminho / Ministro da Energia contradiz Varoufakis e insiste que não haverá privatizações no sector.

"O Syriza sabe que o estado de graça na política é algo efémero. E se calhar mais complicado do que negociar com o Eurogrupo será explicar ao eleitorado as promessas que vão ficando pelo caminho."

As promessas que vão ficando pelo caminho
DIRECÇÃO EDITORIAL 25/02/2015 - PÚBLICO

Já são visíveis os sinais de incómodo dentro da coligação de esquerda na Grécia.

O Syriza é um partido recente que resultou de uma aliança eleitoral de 13 partidos e correntes de esquerda, desde maoístas, trotskistas, comunistas, verdes, entre outros. Quando o novo Governo apresentou o seu programa de reformas para conseguir mais tempo e dinheiro da troika, Yanis Varoufakis e Alexis Tsipras tentaram apresentar o acordo como uma vitória para os gregos. Mas à medida que a ala mais à esquerda do Syriza foi fazendo o deve e o haver do acordo, e as comparações com o memorando anterior assinado por Antonis Samaras, alguns começam a ficar desiludidos com Tsipras.

Não é por acaso que após o acordo firmado no início desta semana, o ministro das Finanças alemão tenha dito que “os gregos certamente terão um período difícil para explicar o acordo aos seus eleitores”. E assim está a ser. Primeiro foi o veterano Manolis Glezos que veio mostrar-se desiludido com as condições da extensão do regaste: “A mudança do nome da 'troika' para 'instituições', do 'memorando' por 'acordo' e dos 'credores' por 'parceiros' não altera nada a realidade anterior”, sentenciou Glezos.


Depois foi a vez de Mikis Theodorakis, outra celebridade grega, torcer o nariz ao acordo com os alemães, e esta quarta-feira foi o ministro da Energia, um dos representantes da ala mais à esquerda do Syriza, dizer que afinal as empresas de energia não iriam ser privatizadas, contrariando assim a carta que Alexis Tsipras enviou aos parceiros europeus onde garantia que as vendas em curso não iriam ser canceladas. E no meio destas dissonâncias internas, o Partido Comunista já veio marcar uma manifestação de protesto contra o novo Governo. A primeira. O Syriza sabe que o estado de graça na política é algo efémero. E se calhar mais complicado do que negociar com o Eurogrupo será explicar ao eleitorado as promessas que vão ficando pelo caminho.

Ministro da Energia contradiz Varoufakis e insiste que não haverá privatizações no sector
Panagiotis Lafazanis representa a ala esquerda do Syriza e pode abrir confronto com o líder do Governo,

Maria João Guimarães / 26-2-2015 / PÚBLICO

 Alexis Tsipras prometeu que as privatizações em que já tivessem sido lançadas ofertas ou concursos não seriam interrompidas. É o caso de parte (66%) da ADMIE. Lafazanis disse que estas não iriam em frente. “O concurso para a ADMIE não seguirá em frente”, disse Lafazanis. “As empresas não submeteram ofertas vinculativas, por isso não serão completadas. Passa-se o mesmo com a PPC.”
O ministro das Finanças veio esclarecer entretanto que, embora as privatizações não possam ser canceladas, as condições podem ser reavaliadas e alteradas — e a sua legalidade também pode ser examinada.
Lafazanis — o ministro que representa a ala de esquerda radical do Syriza, que terá cerca de um quinto dos deputados do Partido no Parlamento — já tinha sido a voz de uma posição intransigente em relação às privatizações no fim-de-semana. “São uma linha vermelha”, garantia.
Duas celebridades do Syriza — Manolis Glezos, que tirou a bandeira dos ocupantes nazis da Acrópole em 1941, e Mikis Theodorakis, o compositor de Zorba — foram das faces mais visíveis de oposição, manifestando apoio a uma posição mais dura do Governo nas negociações. Glezos foi mais duro, acusando o Governo de apenas mudar as coisas de nome, e Theodorakis pediu que os gregos dissessem “não” ao “nein” do ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble. Para tentar acalmar a oposição, o primeiro-ministro, Alexis Tsipras, visitou Theodorakis e, ainda que não tivessem sido feitas declarações, as imagens divulgadas mostravam Tsipras a apertar a mão a um sorridente Theodorakis.
Dissidências na Alemanha
Na Alemanha, cujo Parlamento tem também de aprovar o acordo numa votação marcada para amanhã, espera-se uma aprovação certa, mas não sem discussão. Dentro da União Democrata Cristã (CDU), o partido da chanceler, Angela Merkel, já há dissidências anunciadas. O deputado Wolfgang Bosbach, crítico de acordos anteriores e que já defendeu antes que a Grécia deveria deixar o euro, disse que iria votar contra a extensão de quatro meses do empréstimo à Grécia, classificando a lista de reformas prometidas pelo novo Governo como “vaga” e sem uma “solução permanente para os problemas económicos do país”.
Da Baviera, o conservador David Bendels apelou à rejeição do acordo. “Qualquer outra posição será uma negligência e uma traição ao contribuinte alemão”, defendeu num artigo publicado no Handelsblatt.
E dois responsáveis do conselho económico da CDU, Kurt Lauk e Wolfgang Steiger, manifestaram-se contra o que disseram ser “atirar dinheiro” para a Grécia.

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