Presidente da EMEL foi demitido
por António Costa
JOSÉ ANTÓNIO
CEREJO e NUNO SÁ LOURENÇO 24/02/2015 - PÚBLICO
Anterior vereador da Mobilidade já tinha feito graves acusações ao gestor.
António Costa
decidiu afastar António Júlio de Almeida da presidência da EMEL- Empresa
Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa. A decisão, que se prende
com irregularidades que já tinham sido detectadas no mandato anterior, surge
precisamente um ano depois de António Costa e o vereador Manuel Salgado, que
tem actualmente a tutela da empresa, terem reconduzido Júlio de Almeida com os
votos contra dos vereadores dos Cidadãos por Lisboa e do PCP.
Júlio de Almeida,
que tem actividade privada no sector imobiliário, tinha entrado em divergência
no mandato anterior com outros membros do Conselho de Administração da empresa
e com o vereador que a tutelava, Nunes da Silva, dos Cidadãos por Lisboa. No
princípio do ano passado, dias antes de António Costa ter decidido reconduzir o
presidente da empresa por pressão de Manuel Salgado, Nunes da Silva,
actualmente deputado municipal, escreveu no PÚBLICO um artigo de opinião
particularmente incisivo em que acusava o gestor de não cumprir as orientações
da tutela, “ao mesmo tempo que se furtava ao pagamento anual da renda de
concessão [da empresa] à Câmara de Lisboa”.
Na fase final do
seu anterior mandato, Júlio de Almeida entrou em choque frontal com dois outros
administradores da empresa, que repetidamente se recusaram a assinar actas do
Conselho de Administração por entenderem que elas não correspondiam às decisões
tomadas. Em algumas dessas actas era referida a aprovação de deliberações sobre
contratos, nomeadamente de aquisições de serviços de arquitectura no valor de
centenas de milhares de euros, que nunca teriam sido aprovadas e que contavam
com a oposição desses administradores. Na perspectiva desses gestores, tais
contratos seriam ilegais e contrários aos interesses da empresa.
Apesar da
polémica sobre as actas, os pagamentos em causa terão sido efectivamente feitos
e os factos, além de terem sido reportados a António Costa e a Manuel Salgado,
foram transmitidos a entidades inspectivas e fiscalizadoras exteriores à
câmara.
Pouco depois da
sua recondução como presidente da empresa, Júlio de Almeida iniciou um processo
de despedimento de uma dezena de quadros da próximos dos dois administradores
que o haviam contestado e, paralelamente, contratou diversas pessoas da sua
confiança.
Posto ao corrente
desta situação, o vice-presidente da autarquia, Fernando Medina, opôs-se ao
despedimento daquele grupo de trabalhadores e, na sua condição de responsável
pelas Finanças do município impôs a Júlio de Almeida, no fim do ano passado, o
pagamento à câmara de cerca de 13 milhões de euros relativos às rendas da
concessão que aquele se recusara a pagar até então.
A gota de água
terá sido o facto de Júlio de Almeida, contrariando as instruções de Fernanado
Medina, ter avançado há dias com a concretização do despedimento dos
funcionários mais ligados aos anteriores administradores. Informações não confirmadas
referem também que a câmara terá tido conhecimento de que uma acção inspectiva
das Finanças ou do Tribunal de Contas, em fase de conclusão, apontaria para
práticas ilegais da responsabilidade de Júlio de Almeida.
O porta-voz da
EMEL, Diogo Homem, confirmou a demissão ao PÚBLICO, acrescentando apenas que se
trata de uma decisão do accionista. O PÚBLICO tentou ainda falar com Júlio de
Almeida e obter uma comentário oficial da Câmara de Lisboa sobre o assunto, mas
não obteve resposta até agora.
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