Maria Luís diz que não sugeriu
mudanças no acordo, jornal diz que pressionou Schäuble
Lusa e PÚBLICO
21/02/2015 - 22:02
(actualizado às 13:05 de
22/02/2015)
"O Governo português
esteve mais preocupado em impor austeridade aos gregos do que a perceber que
uma negociação positiva para os gregos seria também positiva para Portugal e
para a Europa", critica socialista João Galamba.
O deputado socialista
João Galamba criticou neste domingo a postura da ministra das Finanças durante
as negociações com a Grécia, considerando que o Governo português esteve mais
interessado em defender as suas políticas de austeridade do que o interesse
nacional, depois de o jornal alemão Die Welt ter noticiado que Maria Luís
Albuquerque pediu ao homólogo alemão, Wolfgang Schäuble, para ser firme nas
negociações com Atenas.
A ministra das Finanças
disse, no sábado à noite, em declarações à TVI que não sugeriu alterações ao
acordo do Eurogrupo com a Grécia, e que colocou apenas questões relacionados
com procedimentos, depois de na Grécia terem surgido rumores que Portugal e
Espanha dificultaram o acordo.
“Não sugeri a alteração
de uma única vírgula”, disse a ministra numa entrevista ao Jornal das 8 da TVI.
O ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis, tinha-se escusado a comentar a
situação por "boas maneiras". "Os ministros das Finanças
português e espanhol são meus colegas, e eu percebo que têm as suas próprias
prioridades políticas. Foram motivados por essas prioridades políticas e eu
respeito isso", declarou.
“Não sei por que o
ministro das Finanças terá dito isso”, insistiu Maria Luís Albuquerque,
afirmando ter colocado apenas questões de procedimentos.
Mas, de acordo com o Die
Welt, que cita fontes bem informadas,
Maria Luís Albuquerque terá "pedido pessoalmente" a Schäuble para "se manter duro" nas
negociações com a Grécia que, na sexta-feira, acabou por conseguir um
entendimento para a extensão do acordo por quatro meses.
"O Governo
português, em vez de defender o interesse nacional e o interesse da Europa,
esteve mais preocupado em defender os seus próprios interesses e o seu próprio
discurso dos últimos três anos. Quem perdeu com isso foi o povo
português", afirmou aos jornalistas o deputado do PS João Galamba neste
domingo, reagindo às palavras da ministra e à notícia do jornal alemão.
"O Governo português
esteve durante todo este processo de negociações com a Grécia mais preocupado
em impor austeridade aos gregos do que a perceber que uma negociação positiva
para os gregos seria também positiva para Portugal e para a Europa",
afirmou ainda o socialista.
As declarações de Maria
Luís Alburquerque foram uma tentativa de "apagar esta imagem",
afirmou. "Mas as justificações da ministra não colhem, porque já são
demasiadas descrições do que se passou na reunião do Eurogrupo e demasiadas
descrições do que foi o comportamento do Governo português nas últimas semanas
para que Maria Luís Albuquerque, dê as entrevistas que der, faça as declarações
que fizer, possa apagar essa imagem".
A ministra das Finanças
tinha salientado no sábado que “o Governo português esteve sempre do lado dos
18 estados-membros do Eurogrupo” que propuseram o acordo. Estranhou as críticas
de colagem à Alemanha, e mostrou-se “feliz” por terem sido 19 a subscrever o
documento, que contou também com a concordância da Grécia.
“A minha intervenção foi
no sentido de ser seguido o procedimento habitual”, nomeadamente que a troika
reporte ao Eurogrupo a avaliação das medidas da Grécia, disse a ministra
portuguesa à TVI. “A questão que coloquei tem a ver com o procedimento no
sentido de ser seguido o procedimento habitual que é a troika, depois de
avaliar as medidas, reportar aos elementos do Eurogrupo, explicando qual foi a
sua avaliação”, acrescentou.
“Também podemos dizer que
estamos colados às posições do Chipre ou da Estónia”, comentou, sublinhando
ainda que não se considera "aluna, mas sim colega" de Schäuble, o seu
homólogo alemão.
Maria Luís Albuquerque
sublinhou que todos ganharam com o acordo “em particular a Grécia” e
acrescentou que não faria sentido adoptar a flexibilização proposta para a
Grécia em Portugal, pois esta faz parte de um programa que Portugal acabou há
quase um ano. “Não faz sentido pensar nos mesmos termos, a situação de Portugal
é distinta da Grécia”, vincou.
O Governo grego tem de
enviar até segunda-feira uma lista de medidas à troika. Só se a avaliação for
positiva se poderá dar início aos procedimentos parlamentares exigidos por
alguns países para aprovar a extensão do programa.
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