Bolsa de Atenas ganha 8% desde as eleições e Syriza recolhe 45% de apoio
O desanuviamento
no seio do Eurogrupo entusiasmou os mercados financeiros. A bolsa ateniense
animou e os juros da dívida grega desceram. O partido líder da coligação viu o
apoio disparar para 45%. O contágio positivo beneficiou sobretudo as Obrigações
do Tesouro português.
Jorge Nascimento Rodrigues |
9:49 Sábado, 14
de fevereiro de 2015 / EXPRESSO online
Os mercados
financeiros fecharam em alta na ponta final da semana face ao desanuviamento no
seio do Eurogrupo (órgão de reunião dos 19 ministros das Finanças da zona euro)
em torno da questão grega.
O otimismo foi
reforçado com a divulgação da taxa de crescimento da Grécia em 2014, que foi
positiva pela primeira vez desde há seis anos. Depois de uma recessão
prolongada, a economia helénica cresceu 0,84% (no caso português, recorde-se
que foi de 0,9%), acima da previsão de 0,6% do anterior governo grego. O
turismo foi o "motor" da recuperação grega.
O partido líder
da coligação governamental recolhe 45,4% do apoio dos inquiridos numa sondagem
da MARC para o canal televisivo ALPHA, divulgada na sexta-feira. Nas eleições
de 25 de janeiro ganhou com 36,34% dos votos. O apoio à Nova Democracia desceu
para 18,4% e os restantes partidos representados no Parlamento viram o apoio
diminuir, em particular o Potami (o Rio) e a Aurora Dourada. Uma esmagadora
maioria de 85% dos inquiridos manifestou uma opinião positiva a respeito do
ministro das Finanças Yanis Varoufakis e 57,7% acharam que a bancarrota do país
está fora de questão. Uma percentagem de 65,2% achou que o novo governo trouxe
"esperança para algo melhor".
O índice mundial
bolsista MSCI fechou no positivo na sexta-feira e os ganhos desde 1 de
fevereiro somam 4,25%. O índice da Bolsa de Atenas fechou na sexta-feira a
ganhar 5,61%. A principal recuperação registou-se nos bancos. As ações destes
valorizaram 19,82%, regressando ao nível pré-eleitoral. Depois de oito sessões
a encerrar no vermelho e sete a valorizar desde 25 de janeiro (dia das eleições
legislativas antecipadas na Grécia), o índice ateniense apresenta um ganho
acumulado de 8,45%. Recorde-se que, desde 25 de janeiro, a maior derrocada
registou-se a 28 de janeiro com um crash de 9,24%, e a maior subida, a 3 de
fevereiro, com um ganho de 11,27%. Esta semana, o índice acumulou ganhos em
duas sessões consecutivas, a 12 e 13 de fevereiro.
Os juros (yields)
da dívida grega no prazo de referência, a 10 anos, desceram no final da semana
para 9,28%, depois de um pico de 11,08% a 11 de fevereiro. O pico foi motivado
pelo pessimismo em torno da reunião extraordinária do Eurogrupo no dia 11 e a
descida nos dois dias seguintes foi influenciada pelo regresso do otimismo em
torno da possibilidade de obtenção de um compromisso entre a Grécia e os
parceiros do euro na reunião da próxima segunda-feira em Bruxelas.
Os juros da dívida
grega a 10 anos vinham registando valores acima de 10% desde 28 de janeiro,
três dias depois da vitória eleitoral do Syriza nas eleições legislativas
antecipadas. Essa trajetória ascendente foi invertida na ponta final desta
semana. O risco de default diminuiu com a descida do custo de segurar a dívida
grega a 5 anos contra um incumprimento, de um pico próximo de 2300 pontos base
na quarta-feira - que colocava a Grécia muito perto da situação da Ucrânia, a
segunda pior posição no "clube" da bancarrota, depois da Venezuela -
para 1700 no fecho da semana.
Se o contágio
negativo da crise grega no mercado secundário da dívida soberana foi muito
limitado - com exceção de Espanha, em que os juros da dívida a 10 anos subiram
5 pontos base, de 1,5% a 6 de fevereiro para 1,55% a 13 de fevereiro -, o
contágio positivo, derivado do desanuviamento recente no Eurogrupo, beneficiou
sobretudo Portugal, com os juros das Obrigações do Tesouro a 10 anos a descerem
6 pontos base, de 2,45% para 2,39% naquele período. Durante a semana, o Tesouro
português foi ao mercado obrigacionista e realizou um leilão de dívida a 10
anos em que pagou 2,5%, a taxa mais baixa de sempre.
Situação volátil,
prudência na análise
É claro que a
situação é muito instável. Qualquer impasse ou rutura na reunião do Eurogrupo
de 16 de fevereiro provocará a reversão abrupta da trajetória.
Hugo Dixon, o
fundador das Breakingviews da Reuters, baixou ligeiramente a probabilidade de
uma saída da Grécia do euro (Grexit, na designação dos analistas), mas, como
nos referiu, mantém-na próxima de 50%, manifestamente acima do consenso dos
analistas. Para Manos Giakoumis, analista chefe do site grego Macropolis, é
recomendável prudência na análise da situação. "Não penso que a
probabilidade de uma Grexit esteja mais ou menos elevada hoje do que ontem. É
cedo de mais, por ora, para concluir que um acordo não seja obtido nos próximos
dias, ou mesmo semanas", sublinhou ao Expresso.
O panorama
bancário grego é preocupante. Desde final de novembro de 2014, quando se
agravou a crise política grega que conduziu a eleições presidenciais e
legislativas antecipadas, a fuga de depósitos soma 20 mil milhões de euros,
estimando-se, no entanto, que só 20% desse montante tenha saído do país
sobretudo para Chipre, Reino Unido, Luxemburgo e Malta. O Banco Central Europeu
(BCE) autorizou o aumento do teto da linha de emergência de liquidez disponível
a que podem recorrer os bancos locais através do banco central grego, que subiu
para 65 mil milhões de euros. No dia 18 de fevereiro, o BCE volta a apreciar a
situação, dois dias depois da reunião do Eurogrupo.
O porta-voz
governamental Gavriil Sakellaridis preparou na sexta-feira à noite a opinião
pública grega para um impasse, mas desdramatizou: "Se não se obtiver um
acordo na segunda-feira, cremos que há sempre tempo, por isso não haverá
problema".
Sem comentários:
Enviar um comentário