Lisboa é uma das dez câmaras da
AML que não publicam actas das reuniões
A divulgação das actas e das
deliberações nos sites municipais não é uma obrigação legal. Câmaras, como a de
Lisboa, servem-se desse facto para não se expor. Já Mafra, por exemplo, mostra
tudo na Internet
José António
Cerejo / 18 fev 2015 / PÚBLICO
A Câmara de Lisboa é uma das dez da área
metropolitana da capital que não publicam as actas das reuniões dos seus
executivos nos respectivos sites. Entre os 18 municípios da região, Lisboa é um
dos que menos informação disponibilizam sobre o que decidem e por que o decidem
os seus vereadores. O que mais transparente se revela nesse domínio é, de
longe, o de Mafra.
Lisboetas não têm
como saber o que se passa nas reuniões da vereação liderada por António Costa
Bem podem os
munícipes de Lisboa tentar encontrar no site da câmara as actas das reuniões da
vereação — relatos mais ou menos circunstanciados de tudo o que se passa nesses
encontros, em regra semanais, do executivo presidido por António Costa. Por
mais que se esforcem, nada lá descobrem sobre as razões que levaram cada força
política, ou cada vereador, a votar num determinado sentido os diferentes
assuntos discutidos e as propostas apresentadas.
Na página
relativa às reuniões da autarquia pode ler-se a ordem de trabalhos da última
reunião realizada, bem como a chamada acta em minuta dessa reunião. Esse
documento, por definição, contém apenas uma súmula de quatro ou cinco linhas de
cada proposta votada, bem como a indicação do número de vereadores de cada partido
que votaram a favor, ou contra, ou que se abstiveram. Na mesma página está
escrito que lá se pode aceder a todas as ordens de trabalho, actas em minuta e
deliberações de todas as reuniões efectuadas desde 2009, mas isso é verdade
exclusivamente para os dois primeiros tipos de documentos. Deliberações, ou
seja, o texto completo das propostas e outros documentos aprovados, com o
resultado da votação, nem uma.
As actas
completas das sessões camarárias não estão disponíveis, mas também não há no
site qualquer indicação sobre a forma de as obter. E a consulta do Boletim
Municipal nada adianta. Apenas se consegue encontrar as propostas aprovadas, um
ou outro documento que as fundamenta e mais nada. Mesmo assim, nunca se sabe em
que suplemento foram publicadas as resoluções tomadas numa determinada reunião.
Costa não
responde ao BE
Quanto às actas,
obrigatoriamente redigidas e aprovadas pelo executivo, o Departamento de
Comunicação da autarquia respondeu ao PÚBLICO que se trata de “documentos
públicos aos quais se pode aceder através de consulta, sempre que solicitado”.
A solicitação nem
sempre resulta, como já constataram os deputados municipais do Bloco de
Esquerda. Em Janeiro de 2014, requereram, através da presidente da Assembleia
Municipal de Lisboa, cópia integral das actas de todas as reuniões da câmara
realizadas nos três meses anteriores. Passado um ano, o pedido enviado a
António Costa ainda não obteve resposta. “Era do mais elementar bom senso que
as actas completas do executivo estivessem disponíveis no site da câmara”, diz
o deputado municipal Ricardo Robles, adiantando que esse não é o único
requerimento do BE à câmara que aguarda resposta. “Temos vários outros há
muitos meses sem resposta.”
A câmara da
capital está longe de ser a única na Área Metropolitana de Lisboa que não se dá
bem com a divulgação, por meio das actas, do que se passa nas suas reuniões. O
mesmo sucede com as Câmaras de Almada, Seixal, Sesimbra, Barreiro, Setúbal,
Odivelas, Sintra, e Amadora e Cascais. Todavia, esta última autarquia, de
maioria PSD, tem no seu site vídeos integrais de cerca de metade das reuniões
que realizou desde 2012.
A publicação das
actas não é obrigatória por lei, embora as deliberações das câmaras só adquiram
eficácia depois de as actas serem aprovadas e assinadas pelo presidente da
câmara e por quem as redigiu. O regime jurídico das autarquias locais
estabelece, no entanto, que as deliberações destinadas a ter eficácia externa
têm de ser publicadas em vários locais, incluindo os sites dos municípios, sem
especificar se se trata do texto completo ou não. O que a lei também não diz é
se a publicação dessas deliberações em boletins municipais acessíveis na
Internet,
conforme sucede com Lisboa, satisfaz esse requisito.
Ainda que metade
das câmaras da região de Lisboa não tenha as actas completas nos seus sites, a
forma como cada uma delas divulga o resultado das sessões camarárias é muito
variável. Pior do que a da capital é a de Sesimbra (maioria CDU), que, além de
não publicar as actas (integrais ou em minuta), não tem uma única deliberação
disponível no site. Nem deste mandato, nem dos anteriores. E as ordens de
trabalhos quase nada dizem sobre o conteúdo das propostas que vão ser ou foram
discutidas.
Almada (CDU)
apenas divulga “boletins de deliberação”, que nem sequer identificam as forças
políticas que votaram a favor ou contra as propostas. Limitam-se a referir que
estas foram aprovadas por unanimidade ou por maioria, dizendo muito pouco sobre
o seu teor. Também no Seixal (CDU) a divulgação das reuniões da vereação se
resume a um edital com os resultados das deliberações, em que estas são
igualmente identificadas em termos minimalistas, e com indicação de maioria ou
unanimidade na votação. Mais grave é que em 2014 não foi publicado no site um
único destes editais, tendo a prática sido retomada no mês passado.
A Câmara do
Barreiro (CDU) é um caso original. Publicou actas completas entre 2008 e Maio
de 2011, mas depois desistiu. Agora resolve a questão com editais em que
enuncia o tema das deliberações e esclarece se estas foram tomadas por maioria
ou por unanimidade. Diferente é o que se passa em Setúbal (CDU), onde a câmara,
apesar de não publicar as actas, divulga as listas das propostas aprovadas,
explicitando a forma como cada um dos partidos votou e anexando abundante
documentação de suporte a cada uma das propostas. Setúbal tem também a
particularidade de abrir à população todas as suas reuniões, enquanto a
generalidade dos municípios do país se limita a cumprir a obrigação legal de
fazer uma reunião pública por mês.
Pouco dadas a
pormenores são ainda as Câmaras da Amadora, Odivelas e Sintra, todas do PS. Na
Amadora apenas é publicado no site um “resumo de deliberações” que nem informa
se as mesmas foram aprovadas por maioria ou por unanimidade. Limita-se a dizer
que as propostas foram aprovadas. Já Odivelas divulga um “boletim municipal de
deliberações e decisões” com o texto integral das propostas aprovadas em cada
sessão, acrescentando se se verificou maioria ou unanimidade nos votos.
Em Sintra, a
regra usada é a de divulgar a síntese das propostas com a indicação de terem
sido aprovadas por maioria ou por unanimidade. Nem se conhecem as propostas
integrais, nem o sentido de voto de cada partido. Nem as actas. Mais abertas
apresentam-se as Câmaras de Alcochete (CDU), Montijo (PS) Moita (CDU), Palmela
(CDU), Vila Franca de Xira (PS), Loures (CDU), Oeiras (Independentes) e Mafra
(PSD).
Todas elas, com
mais ou menos pormenores, publicam as actas integrais nos sites, embora no caso
de Palmela a última disponível seja de Julho. Ao contrário do que é habitual,
as suas actas indicam, porém, o sentido de voto de cada um dos vereadores,
identificados pelos nomes. As de Oeiras, além de muito detalhadas, permitem
fazer pesquisa livre no interior de cada acta, o que normalmente não sucede com
as restantes. Mais longe do que todas as outras vai a autarquia de Mafra. Publica
actas integrais, desde 2006, que chegam a ultrapassar as 300 páginas, com
anexos. O relato da reunião de 29 de Dezembro passado, por exemplo, tem 27 páginas
e os anexos, que incluem as propostas e os documentos em que elas se apoiam,
contam com 326 páginas.
Está lá tudo:
desde decisões proferidas pelo presidente e pelos vereadores no uso de
competências delegadas, até declarações de voto manuscritas, listas das
adjudicações de bens e serviços, ou informações e pareceres dos técnicos
camarários sobre os assuntos votados.
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