Helena Roseta diz que isenção ao
Benfica “não tem fundamento legal”
INÊS BOAVENTURA
24/02/2015 - PÚBLICO
Presidente da Assembleia Municipal
de Lisboa avisa que a proposta de isentar o clube do pagamento de 1,8 milhões
de euros em taxas dificilmente passará no órgão a que preside.
A presidente da
Assembleia Municipal de Lisboa disse nesta segunda-feira que a isenção de taxas
urbanísticas ao Benfica que foi proposta pela Câmara de Lisboa “não tem
fundamento legal”, acrescentando que aquele órgão “muito seguramente” não a irá
aprovar. Até porque se o fizesse, avisa, os eleitos que a viabilizassem
poderiam estar “a incorrer numa pena de crime, com uma sanção penal elevada”.
Em causa está a
proposta que prevê a submissão à assembleia municipal “da aceitação da isenção
do pagamento da taxa TRIU [Taxa pela realização, manutenção e reforço de
infra-estruturas urbanísticas] e da compensação urbanística” ao Sport Lisboa e
Benfica, num valor aproximado de 1,8 milhões de euros. Esta proposta foi aprovada
pela câmara há cerca de duas semanas, com os votos contra de toda a oposição e
da vereadora Paula Marques, que integra a maioria em nome dos Cidadãos por
Lisboa.
No dia seguinte à
aprovação, o autor da proposta fez a sua defesa em declarações ao PÚBLICO. “Estamos
permanentemente a aprovar subsídios para instituições que fazem o que o Benfica
faz”, justificou o vereador do Urbanismo, lembrando o trabalho realizado pelo
clube em várias modalidades “amadoras” e “o papel social relevante” da Fundação
Benfica. Para Manuel Salgado, apesar de “politicamente incorrecta”, esta
isenção de taxas é “sensata”.
Este domingo,
face à polémica que se gerou em torno do assunto, o município emitiu um
esclarecimento intitulado “Câmara de Lisboa não isentou Sport Lisboa e
Benfica”. Nele diz-se que, “sendo a competência para isenção de taxas da
Assembleia Municipal de Lisboa, entendeu a câmara submeter à assembleia
municipal a pretensão do Sport Lisboa e Benfica para que a possa apreciar e
decidir”.
“Não estamos a
brincar”
Em resposta a
esse esclarecimento, a presidente da assembleia municipal sublinhou nesta
segunda-feira à noite, no seu comentário habitual na SIC Notícias, que a
proposta só vai ser sujeita ao escrutínio deste órgão autárquico porque a
câmara a aprovou previamente. Helena Roseta, que foi eleita na lista do PS em
representação dos Cidadãos por Lisboa, adianta que “muito seguramente” a
isenção de taxas ao Benfica vai ser chumbada pelo órgão a que preside, dado que
“não tem fundamento legal”.
“Estou convencida
de que isto não passará, até porque na legislação há uma coisa chamada
responsabilidade dos titulares de cargos políticos, e se um autarca aprovar um
benefício que não tenha enquadramento legal, que é um benefício a terceiros,
pode incorrer numa pena de crime, com uma sanção penal elevada. E, portanto, não estamos a brincar”, afirmou a autarca.
Helena Roseta
aproveitou ainda para enviar um recado à maioria liderada por António Costa: “É
bom que as pessoas percebam que as câmaras municipais não têm o poder absoluto.
Sobre as câmaras existe uma coisa chamada assembleias municipais e, no caso
concreto de Lisboa, a assembleia municipal dedica muito do seu tempo a
fiscalizar os actos do executivo.”
PSD aplaude
Estas palavras
não passaram despercebidas à vereação do PSD na Câmara de Lisboa. “Acabei de
ouvir Helena Roseta afirmar que a isenção ao Benfica é ilegal e não passará na
assembleia municipal”, sublinhou António Prôa numa declaração enviada ao
PÚBLICO, na qual lembra que se opôs à proposta por considerar que ela configura
“um tratamento especial que é injustificado”.
“Aquilo a que se
assistiu nos últimos dias foi a tentativa de a câmara afastar a
responsabilidade da autoria da proposta. Apontar o Benfica como responsável
pela proposta de isenção não é sério”, critica António Prôa. "Tudo o mais
são subterfúgios de quem quer fugir das responsabilidades”, afirma o vereador
social-democrata, acrescentando que “resta saber quem assume a ilegalidade”
apontada por Helena Roseta.
Essa isenção de
taxas, no valor de cerca de 1,8 milhões de euros, foi solicitada pelo Sport
Lisboa e Benfica, que para tal invocou um protocolo celebrado com o município
em 1995. A
jurista da Divisão de Loteamentos Urbanos da câmara que analisou esta questão
concluiu que a isenção que estava prevista nesse documento não abrange a
alteração ao loteamento agora aprovada e o aumento da área de construção nele
prevista, pelo que não deverá ser aplicada.
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