Fisco recebeu lista dos
portugueses do Swissleaks para cruzar dados fiscais
Oposição acusa Paulo Núncio de
não esclarecer actuação anterior sobre “Lista Lagarde”. Governante fala em
populismo
Paulo Núncio não diz porque só
agora a AT terá pedido a informação às autoridades francesas
Pedro Crisóstomo
/ 28-2-2015 / PÚBLICO
Sem nunca dizer
quando tinha sido pedida a lista, o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais,
Paulo Núncio, anunciou ontem ao Parlamento que o fisco já recebeu o dossier com
as informações dos contribuintes portugueses incluídos no caso Swissleaks, com
contas no banco HSBC em Genebra, e que tem por base a famosa “Lista Lagarde”. A
informação pedida pela Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) às autoridades
francesas, garantiu o secretário de Estado, foi recebida ontem mesmo, dia em
que o governante foi ouvido na Comissão de Orçamento e Finanças.
Paulo Núncio não
diz porque só agora a AT terá pedido a informação às autoridades francesas
A lista “será
agora cruzada com a informação que a Autoridade Tributária já detém sobre os
contribuintes portugueses” e “será objecto de todos os procedimentos previstos
na lei”, assegurou o secretário de Estado, admitindo agir judicialmente contra
o banco HSBC se se provar o esquema de fraude e evasão fiscal. O deputado do PS
José Magalhães usou da sua ironia para exclamar: “Habemus lista.” E questionou
o secretário de Estado sobre as medidas a tomar no combate “a práticas
criminosas feitas a partir de offshores”.
Houve, porém,
várias perguntas que ficaram por responder. O debate aqueceu quando o deputado
do BE Pedro Filipe Soares acusou Paulo Núncio de fazer propaganda,
confrontando-o com o facto de a lista só ter sido pedida agora que o caso do
Swissleaks ganhou projecção internacional e não quando outros governos europeus
o fizeram, há cinco anos.
A “Lista Lagarde”
remonta a 2010, quando a actual directora-geral do FMI e ex-ministra das
Finanças entregou ao homólogo helénico uma lista de contribuintes gregos com
contas no exterior. O caso mantevese na agenda da imprensa europeia, até
culminar nas revelações envolvendo o banco HSBC na ocultação de dinheiro de
clientes.
Às críticas do
deputado bloquista, Paulo Núncio respondeu dizendo tratar-se de um “discurso
absolutamente demagógico e populista”, lembrando a troca de informação fiscais
com vários países, como a Suíça.
Núncio não
esclareceu porque só agora a AT terá pedido a lista. O deputado do PCP Paulo Sá
protestou contra o facto de o secretário de Estado não responder directamente a
questões concretas – por exemplo, se há empresas portuguesas na lista, se algum
beneficiário do perdão fiscal lançado em 2013 esteve envolvido no esquema
promovido pela filial helvética do banco britânico e se o Governo continua a
defender a realização de amnistias fiscais, onde, ironizou Paulo Sá, o
“dinheiro é lavadinho”.
E quando chegou
ao Governo, tinha alguma nota formal de alguma diligência para obter a lista de
contribuintes com contas na Suíça? À pergunta da deputada Vera Rodrigues, do
CDS-PP, Paulo Núncio, também centrista, respondeu: “Não, não foi dada ao
Governo nenhuma informação sobre qualquer tipo de lista por parte do anterior
Governo.”
Na mesma
comissão, o seu antecessor na pasta das Finanças, Sérgio Vasques, nunca
respondeu directamente se houve um pedido escrito da AT às autoridades
francesas. Sérgio Vasques disse sempre que em 2010 fez diligências junto do
então director-geral da Direcção-Geral das Contribuições e Impostos, a actual
AT, sobre esta questão.
“Quando foi do
conhecimento público, por via da comunicação social internacional, da
existência da lista, de facto falei com o professor Azevedo Pereira para saber
que démarches [poderiam ser feitas]”. “Em que dias concretos, não tenho ideia”,
continuou o ex-secretário de Estado socialista, limitando-se a dizer que “essas
démarches não trouxeram resultados”. “De concreto, é
aquilo que lhe posso transmitir”, sintetizou.
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