Costa criticado por tentar
“passar entre os pingos da chuva” na isenção de taxas ao Benfica
INÊS BOAVENTURA
24/02/2015 - PÚBLICO
Da esquerda à direita, a proposta da câmara mereceu críticas da assembleia
municipal, cuja presidente afirma que ela “não tem fundamento legal”.
A proposta de
isentar o Benfica do pagamento de taxas no valor de cerca de 1,8 milhões de
euros não constava da ordem de trabalhos da Assembleia Municipal, mas foi um
dos temas em destaque na reunião desta terça-feira.
Da esquerda à
direita, foram várias as críticas à proposta camarária: para o PCP está em
causa “uma borla totalmente injustificada”, enquanto o PSD acusa António Costa
de estar a tentar “passar entre os pingos da chuva, para ver se o Benfica não
fica zangado”.
Na intervenção
que fez a propósito da informação escrita que envia trimestralmente à
assembleia, o presidente da câmara falou das finanças municipais, do turismo,
da requalificação da frente ribeirinha, das acessibilidades pedonais ao
Castelo, dos horários recentemente introduzidos em algumas zonas de diversão
nocturna e de transportes públicos. Sobre a recente polémica em torno do
Benfica não disse uma palavra, como sublinhou o deputado Ricardo Robles.
O autarca
bloquista criticou o "esclarecimento" publicado no domingo pela
câmara em vários jornais, no qual se dizia que a competência para a isenção de
taxas é da assembleia, afirmando que ele “esclarecia muito pouco”. Notando que
no complexo do estádio do Benfica há toda “uma área realizada sem autorização
municipal”, Ricardo Robles defendeu que havendo um parecer negativo de um
serviço municipal relativamente à isenção de taxas ela nem sequer devia ter
sido proposta pela câmara.
Já Modesto
Navarro, do PCP, condenou que a maioria que governa o município tenha proposto
“uma borla de 1,8 milhões de euros a uma sociedade desportiva”, “uma borla
totalmente injustificada”. Com isto, diz o deputado, aquilo que se está a fazer
é “a dar mais benefícios a quem tem mais".
Pelo PSD, Victor
Gonçalves fez também referência ao "esclarecimento" do município, dizendo
que com ele “o presidente da câmara não quis assumir qualquer responsabilidade”
relativamente à isenção de taxas, tentando “passar entre os pingos da chuva,
para ver se o Benfica não fica zangado”.
Só após alguma
insistência é que António Costa se pronunciou sobre o assunto, essencialmente
para insistir em que “a isenção só pode ser decidida pela assembleia”. “Não
vejo que haja qualquer drama”, disse ainda o autarca socialista, acrescentando
que se aquele órgão chumbar a proposta, o Benfica tem a possibilidade de
recorrer aos tribunais.
A discussão da
proposta no plenário da assembleia municipal ainda não foi agendada, até porque
terá de ser previamente analisada em sede de comissão, mas a presidente do
órgão deliberativo do município está
convicta de que “muito seguramente” ela irá ser chumbada.
Helena Roseta
considera que esta proposta, que o vereador do Urbanismo classificou como
“sensata”, “não tem fundamento legal” e avisa que caso ela fosse aprovada quem
a viabilizasse estaria “a incorrer numa pena de crime, com uma sanção penal
elevada”. Quanto à adjectivação usada por Manuel Salgado, a presidente da
assembleia disse ao PÚBLICO que a isenção de taxas “não só não é sensata como é
ilegal”, sublinhando que o vereador “não tem competências” para a autorizar.
Esta tomada de
posição de Helena Roseta, eleita na lista do PS em representação dos Cidadãos
por Lisboa, está a ser vista por vários autarcas da oposição como um sinal de
que nem tudo está bem na maioria que governa a câmara e a assembleia municipal.
Na reunião desta
terça-feira da assembleia municipal foi aprovada uma moção, do Parque das
Nações Por Nós, “pela manutenção do Oceanário de Lisboa na esfera do domínio
público”. O CDS votou contra, o PSD e o MPT abstiveram-se e os restantes
eleitos votaram a favor. Foi também aprovada, por unanimidade, uma moção do PEV
apelando à câmara para que promova “a recuperação e reabilitação” do Pavilhão
Carlos Lopes, voltando a consagrá-lo ao “usufruto lúdico e desportivo da
cidade”.
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