Compras à Alemanha agravam défice
comercial
Importações de produtos alemães, como os automóveis, e falta de apetite
pelos produtos portugueses levou défice comercial entre os dois países a subir
71%, para 1645 milhões de euros, no ano passado. Em termos globais, a balança
de bens foi negativa em mais 926 milhões de Euros face a 2013
Luís Villalobos /
10 -2-2015 / PÚBLICO
Entre os países
que estão a beneficiar do aumento do consumo privado, que suporta o crescimento
da economia portuguesa, está a Alemanha, país produtor de muitos dos novos
carros que circulam nas estradas portuguesas. No ano passado, aquele que é o
segundo maior parceiro comercial de Portugal depois de Espanha vendeu mais
12,4% face a 2013, atingindo os 7269 milhões de euros. Estas compras à
Alemanha, só por si, poderiam ser menos negativas, caso as exportações também
tivessem crescido a dois dígitos, ou mais. Só que a subida foi bastante mais
ténue, de 2,2%, para 5624 milhões.
Assim, graças a
uma maior compra de produtos vindos da Alemanha, como bens duradouros (onde se
destacam os automóveis), a balança comercial entre os dois países agravou-se
substancialmente para o lado português: se o défice era de 962 milhões de euros
em 2013, no ano passado esse valor disparou 71%, para 1645 milhões de euros. Este
é, aliás, um dos factores que ajudam a explicar o aumento do défice da balança
comercial de bens com o exterior, que, segundo os dados divulgados pelo
Instituto Nacional de Estatística (INE), subiu 926 milhões no ano passado face
a 2013, atingido um total de 10.565 milhões de euros.
Entre os cinco
maiores parceiros de Portugal (ou seja, incluindo também Espanha, França,
Angola e Reino Unido), foi com a Alemanha que se deu o maior agravamento. França,
Reino Unido e Angola são compradores líquidos dos produtos portugueses, com
destaque para este último. Já no caso de Espanha, o défice comercial é maior do
que o que existe com a Alemanha, mas subiu a um ritmo muito inferior em 2014:
mais 8% (ou 553 milhões de euros), chegando aos 7714 milhões.
Os dados que
mostram o aumento do fosso nas trocas comerciais entre a Alemanha e Portugal
surgiram no mesmo dia em que se soube que este país alcançou no ano passado o
maior excedente comercial de sempre, ao exportar produtos no valor de 1,13
biliões de euros, quando as importações se quedaram pelos 916,5 mil milhões de
euros. Ou seja, o saldo foi positivo em 217 mil milhões de euros. Embora seja
considerada o motor da economia europeia, a Alemanha tem apostado pouco no
investimento e no consumo, e bastante nas vendas ao exterior, o que
inevitavelmente afecta países da zona euro como Portugal.
Em Novembro de 2013, a Comissão Europeia
anunciou a abertura de uma investigação aprofundada sobre o excedente externo
da Alemanha, enquadrada na detecção de desequilíbrios macroeconómicos
excessivos nos Estados-membros, com capacidade de desestabilizar o euro. Na
altura, o então presidente da Comissão, Durão Barroso, afirmou que a decisão
não devia ser entendida “como um desacordo da Europa relativamente à
competitividade” da economia alemã, antes “pelo contrário”. A questão,
explicou, era saber se a Alemanha podia “fazer mais” em favor da economia
europeia.
Em termos gerais,
o que os dados do INE vieram demonstrar foi que no ano passado as exportações
de bens subiram (1,9%), mas as importações cresceram a um ritmo superior (3,2).
No caso das vendas ao exterior, esta foi a pior performance desde 2009 (quando
a taxa foi de -18,4%, no contexto da crise financeira). Em 2010 o crescimento
foi elevado, mas, desde aí, tem vindo a desacelerar.
Desafios para
2015
Rui Bernardes
Serra, economistachefe do Montepio, destaca que as exportações portuguesas
foram prejudicadas por factores temporários como o encerramento da refinaria de
Sines da Galp durante cerca de três
meses (ver página
18), e a paragens na Auto-Europa devido à fraca procura no mercado automóvel
europeu. Por outro lado, diz que, do lado das importações, estas, além de
acompanharem a evolução das exportações, o regresso ao crescimento do consumo
privado e do investimento, “terão sido empoladas por uma anormal acumulação de
stocks no início de 2014” ,
o que irá originar “efeitos positivos” este ano, com uma menor necessidade de
importações.
“As exportações
continuarão a ser um grande motor do crescimento, mas não necessariamente as
exportações líquidas de importações, já que a recuperação da procura interna
será acompanhada por um aumento de bens importados”, refere Rui Bernardes
Serra, defendendo que “a grande diferença face ao período pré-crise é que desta
feita o aumento das importações não deverá ser realizado à custa do
endividamento externo, mas financiado com as exportações”.
Factores como o
regresso de Espanha ao crescimento, a baixa do euro face ao dólar e a descida
do preço do petróleo são ajudas para este ano, mas este último factor tem
também um lado negativo, já que se antevê o decréscimo das vendas para Angola,
cuja economia está a sofrer os efeitos da queda do preço do petróleo. A descida
desta matéria-prima já levou à elaboração de um Orçamento rectificativo para
2015, que incorpora uma forte redução na despesa pública. Ao mesmo tempo,
Angola está também a impor limites à importação de diversos produtos como as
cervejas e águas (que figuram entre os mais exportados para este mercado
africano).
Para já, o que os
dados do INE mostram é uma certa volatilidade nas exportações em termos
homólogos, com vários meses negativos e outros positivos. Em termos acumulados,
houve uma subida de 2% nas vendas para Angola, menos de metade do registado no
ano anterior. No entanto, como houve muito menos compras de petróleo, a balança
foi bastante positiva para Portugal: 1570 milhões de euros.
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