Tal como Hegel reconhecia é nestes momentos de Crepúsculo Tenso, perigosos mas criativos, que a História é “feita”.
Seja qual for o
resultado e o desfecho, a Grécia existe. E, como já foi dito: Levantou a Cabeça!
OVOODOCORVO / António
Sérgio Rosa de Carvalho.
Grécia não chega a acordo com
parceiros europeus
SÉRGIO ANÍBAL
11/02/2015 - 23:33 (actualizado às 23:59)
Reunião do Eurogrupo termina sem solução. Na segunda-feira, há novo
encontro.
Ao fim de mais de
sete horas de discussão e de várias versões escritas e reescritas de um
comunicado conjunto final que acabou por não ser publicado, os ministros das
Finanças da zona euro não conseguiram mais do que uma promessa de que, até à
próxima segunda-feira, continuarão a tentar encontrar uma solução para a
Grécia. Para já, no encontro do Eurogrupo desta quarta-feira, não se chegou a
qualquer acordo.
“Houve muitos
progressos nesta reunião, mas não o suficiente para chegar a uma conclusão
conjunta. Vamos continuar as discussões na próxima segunda-feira”, explicou o
presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, na conferência de imprensa que
decorreu já depois da meia-noite em Bruxelas (23h em Lisboa).
A principal
divergência continua a ser a forma como se pode garantir que a Grécia tem, no
curto prazo, todo o financiamento de que precisa para chegar sem qualquer
default até Setembro, o momento em que um novo programa de longo prazo com os
parceiros europeus pode talvez ser atingido.
Por um lado, a
Grécia recusa prolongar o actual programa da troika e prefere que lhe dêem a
possibilidade de emitir mais dívida pública de curto prazo, a que chama
“financiamento ponte”. Por outro, os restantes parceiros europeus insistem que
é impossível garantir o financiamento sem que haja um programa em vigor. Os
dois lados mantiveram-se irredutíveis nestas posições.
Em comunicado
emitido a seguir ao final do Eurogrupo, o Governo grego afirmou que “uma
extensão do memorando não pode ser aceite”. Dijsselbloem, por seu lado, disse
que “uma extensão do programa foi discutida e que foi considerada por alguns
como a melhor opção, mas um acordo não foi obtido”.
Na reunião, os
responsáveis do Governo grego presentes começaram por apresentar, de acordo com
as agências económicas internacionais, um plano baseado em quatro pontos
fundamentais: a Grécia aceita 70% das medidas previstas no actual programa da
troika; os objectivos de excedente orçamental primário acordados com a troika
são revistos em baixa; o encargo da dívida pública grega é aliviado através da
sua substituição por títulos de dívida indexados ao crescimento e títulos de
dívida perpétua; e é dado ao Governo grego espaço de manobra para iniciar, no
imediato, um combate à crise humanitária na Grécia, com medidas como o
fornecimento de electricidade grátis a quem não tem meios para a pagar.
Do lado dos
outros países, a resposta centrou-se, de acordo com relatos obtidos por
diversos meios de comunicação social europeus, em garantir que a Grécia recuava
na sua posição de não aceitar a extensão do actual programa da troika. O
executivo grego foi fortemente pressionado pelos outros governos para o fazer,
mas, depois de vários contactos entre Varoufakis, em Bruxelas e o
primeiro-ministro Alexis Tsipras, em Atenas, resistiu.
De tal forma que
o habitual comunicado conjunto que sai das reuniões do Eurogrupo acabou desta
vez por não ser publicado. Os ministros redigiram mais do que uma proposta, mas
estas foram recusadas por Atenas. Questionado à saída do encontro por um
jornalista se considerava um progresso não ter saído do Eurogrupo o tradicional
comunicado ambíguo produzido quando não há acordos, Yanis Varoufakis respondeu
que “num certo sentido, isso é verdade”.
A desilusão de
Jeroen Dijsselbloem no final da reunião era evidente. “Estava a contar que nos
próximos dias até à reunião do Eurogrupo de segunda-feira, as instituições
começassem a trabalhar no terreno para implementar o que aqui fosse decidido,
mas para já nada irá ser feito, temos de esperar pela próxima reunião”, afirmou
o presidente do Eurogrupo, assinalando que começa a faltar tempo até à data
prevista para o final do programa grego, a 28 de Fevereiro.
Yanis Varoufakis,
por seu lado, fez tudo para retirar dramatismo ao falhanço na obtenção de um
acordo e aproveitou para deixar elogios aos seus colegas ministros. “Nunca foi
suposto que este Eurogrupo resolvesse quaisquer questões. Foi-me dada uma
maravilhosa oportunidade para apresentar a nossa visão, as nossas análises e as
nossas propostas. Uma vez que nos vamos reunir outra vez na segunda-feira,
penso que este foi apenas um passo até lá”, afirmou.
Ao mesmo tempo
que o Eurogrupo se desenrolava em Bruxelas, em Atenas cerca de 15 mil pessoas
manifestavam-se em frente ao Parlamento, dando o seu apoio ao Governo e
mostrando a sua oposição à continuação de um programa da troika com mais
austeridade. O recado dado ao Governo era o de que uma cedência aos parceiros
europeus não será bem recebida. “Falidos mas livres” era uma das palavras de
ordem ouvidas.
Algumas horas
antes, no interior do Parlamento, Alexis Tsipras tinha conseguido o esperado
apoio da maioria dos deputados ao seu programa de Governo. Esta quinta-feira o
primeiro ministro grego estará em Bruxelas para a sua primeira cimeira de líderes
da União Europeia. Tem encontros agendados com quatro outros líderes europeus
antes do início da cimeira. Nenhum deles é Angela Merkel.
Grécia fora do euro? Analista dá
10 razões por que não vai acontecer
EDGAR CAETANO /
11/2/2015, OBSERVADOR
Quem aposta numa saída da Grécia da zona euro está, pura e simplesmente,
errado. Não vai acontecer, diz o responsável pela estratégia macroeconómica do
influente Royal Bank of Scotland.
“Mais uma vez,
muitos economistas estão a precipitar-se ao prever uma saída da Grécia da zona
euro. E, mais uma vez, acreditamos que estão errados“, escreve Alberto Gallo,
líder da equipa de estratégia em dívida pública e pesquisa macroeconómica do
influente banco britânico Royal Bank of Scotland (RBS). Em nota enviada aos
clientes, o especialista recorda a incerteza vivida na primavera de 2012 em
Atenas e, com base nessa experiência deixa-nos “10 razões por que acreditamos
que uma saída da Grécia do euro é um cenário extremamente improvável“.
2. Há outras
formas de aliviar a dívida sem um corte direto. Alexis Tsipras e Yanis
Varoufakis ouviram várias vezes, nos primeiros dias à frente dos destinos da
Grécia, que um perdão direto da dívida (uma promessa eleitoral) estava fora de
questão. Mas o RBS diz que “há outras soluções além de um haircut da dívida”
para gerar o alívio de 64 mil milhões de euros de que a Grécia necessita,
segundo os cálculos do banco britânico. A troca por obrigações indexadas ao
crescimento económico, propostas pelo governo grego, “pode ajudar a Grécia a
ganhar flexibilidade no longo prazo e, até, a criar algum potencial de ganhos
para os credores”.
3. Para os países
do centro da zona euro, os custos de uma saída da Grécia são maiores do que os
custos de manter o país na união monetária. Mesmo perder estes 64 mil milhões
de euros (menos de 1% do PIB da zona euro) ao longo de vários anos pode
revelar-se “um montante pouco significativo comparado com os riscos e as
consequências de uma saída”, afirma Alberto Gallo. Em primeiro lugar porque, na
opinião do especialista, o euro iria valorizar-se face aos valores atuais se a
Grécia saísse, o que penalizaria as exportadoras. Por outro lado, seria criado
“um precedente perigoso relativamente a outros países, o que poderia exacerbar
possíveis crises no futuro.
5. Os bancos
gregos têm acesso à liquidez do BCE e 74 mil milhões ao dispor. Seria
necessária uma maioria de dois terços no Conselho de Governadores do Banco
Central Europeu (BCE) para retirar o acesso dos bancos gregos às plataformas de
emergência de liquidez. E Alberto Gallo diz que “é improvável que isso venha a
acontecer”, pelo que os bancos gregos têm acesso a liquidez suficiente para
sobreviver a vários trimestres de necessidades de liquidez.
6. As últimas
notícias apontam para uma aproximação entre Bruxelas e a Grécia. É certo que o
ministro das Finanças da Alemanha, Wolgang Schäuble, se apressou a negar que
esse seja um cenário em cima da mesa, mas várias fontes em Bruxelas disseram na
terça-feira que a Comissão Europeia tem um plano para apresentar ao governo
grego que passa por uma extensão do atual programa em seis meses. “Há,
claramente, uma melhoria no tom dos discursos de ambas as partes, já que há
poucos dias víamos uma sucessão de ameaças”, diz Alberto Gallo. “Em especial, a
atitude da Grécia tornou-se menos credível à medida que o tempo foi passando,
semelhante a um homem que ameaça atirar-se de um edifício mas que, depois, dá
um passo atrás”, compara o analista.
7. Há apoio
internacional para que se encontre uma solução. Vários líderes europeus
mostraram publicamente terem compreensão pela situação da Grécia, com
responsáveis de Espanha, Itália e França a expressarem solidariedade, diz o
RBS. Até Barack Obama, o presidente norte-americano, afirmou que “não se pode
continuar a espremer países que estão a viver uma depressão”.
8. Uma saída da
Grécia da zona euro não acontece de um momento para o outro, é preciso votar.
Alberto Gallo diz que “seria preciso os países votarem para sair do euro”. E
mesmo o BCE precisaria de uma maioria de dois terços no Conselho de
Governadores para barrar o acesso dos bancos gregos à ELA (a plataforma de
liquidez de emergência), o que equivaleria a uma expulsão da zona euro. “Não
está previsto nenhum cenário em que os países podem ser corridos da união
monetária”, lembra Alberto Gallo.
9. Os povos não
querem que isso aconteça. As últimas sondagens indicam que 70% dos gregos
querem permanecer na zona euro. Além disso, 62% dos alemães querem que a Grécia
não saia do euro, diz o RBS.
Alberto Gallo
conclui com o seguinte: “A União Europeia é mais do que apenas uma moeda única,
é um projeto político de longo prazo. Não esqueçamos que ganhou o Prémio Nobel
da Paz há alguns anos“.
Atenas quer emitir mais dívida de
curto prazo, governos estão contra.
Para conseguir
assegurar o financiamento de que precisa sem continuar a ser sujeito ao
programa da troika assinado pelo anterior Governo, o executivo liderado por
Alexis Tsipras avança com uma solução: emitir mais dívida pública de curto
prazo que lhe garanta que consegue cumprir todos os seus compromissos
financeiros até Setembro. Nessa altura, então, seria estabelecido um programa
de financiamento mais duradouro com os parceiros europeus.
Os outros
governos europeus e também o BCE não gostam desta solução. No programa da
troika para a Grécia ficou estabelecido um limite de 15 mil milhões de euros
para a quantidade de emissões de dívida pública de curto prazo que a Grécia
pode fazer. O limite foi imposto para evitar que o país vá pagando as suas
dívidas de logo prazo apenas através de empréstimos de curta duração concedidos
pelos bancos gregos. O BCE, em particular, considera que isso põe em causa a
solvabilidade dos bancos e a estabilidade de todo o sistema financeiro.
Por isso, a
Grécia tem encontrado nos seus encontros nas capitais europeias (e em Frankfurt
também) uma resposta insistente: para ter o financiamento do Estado e dos
bancos assegurado, é preciso que o actual programa da troika, com as condições
que lhe estão associadas, seja prolongado para além do seu actual prazo de 28
de Fevereiro. Algo que Alexis Tsipras e Yanis Varoufakis têm, desde o primeiro
dia após a tomada de posse, recusado.
Para conseguir
resolver esta divergência, serão necessárias cedências muito significativas de
alguma ou de ambas as partes. E o prazo para tal acontecer é cada vez mais
curto.
12-2-2015 /
PÚBLICO
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