Quem foi, afinal, mais alemão do
que a Alemanha?
JOÃO MANUEL ROCHA
23/02/2015 - PÚBLICO
Bloomberg noticiou que Luis de Guindos, ministro espanhol das Finanças, foi
o mais duro com a Grécia, chegando a “eclipsar” Wolfgang Schäuble.
Quem foi, afinal,
mais alemão do que a Alemanha? A portuguesa Maria Luís Albuquerque ou o
espanhol Luis de Guindos? Logo na sexta-feira, dia do acordo com o Eurogrupo,
jornais gregos, mas também outras publicações, como o britânico The Guardian,
noticiaram que a maior oposição ao entendimento entre os parceiros do euro e a
Grécia veio dos ministros ibéricos. O jornal alemão Die Welt escreveu depois
que a governante portuguesa pediu “pessoalmente” firmeza ao homólogo de Berlim,
Wolfgang Schäuble.
Mas essa não é a
única versão sobre o que aconteceu nos bastidores do acordo de extensão do
financiamento entre a Grécia e os parceiros da zona euro por quatro meses. A
partir do testemunho de dois participantes nas negociações que pediram
anonimato, a agência Bloomberg escreveu que foi Luis de Guindos o principal
protagonista. Schäuble, normalmente o mais duro, "foi eclipsado" pelo
ministro espanhol. Nada é dito sobre o papel de Maria Luís Albuquerque, que tem
sido criticada pela oposição portuguesa.
O ministro
espanhol tomou, segundo o relato da Bloomberg, a “posição mais dura” e chegou a
levantar a voz e a protestar com o ministro grego, Yanis Varoufakis, a quem
teria dito que tem de ganhar a confiança dos colegas do Eurogrupo e aprender
como é conduzida a política a nível europeu. Depois de o grupo ter rejeitado
uma sugestão de Schäuble para uma reunião nesta terça-feira, para apreciar as
medidas gregas que permitam viabilizar o acordo de sexta-feira, foi Guindos
quem insistiu, obtendo a concordância para uma teleconferência dos ministros do
Eurogrupo, acrescenta a agência.
A dureza de
Guindos, que já foi apontado como possível sucessor do actual presidente do
Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, seria explicada pela preocupação do Governo de
Madrid com os efeitos internos das negociações. Uma “vitória” grega não
deixaria de ser aproveitada em Espanha pelo Podemos, um “partido irmão” do
grego Syriza, que tem estado em destaque nas sondagens e contesta a política de
austeridade, que considera errada. Alguns estudos de opinião atribuem-lhe a
maioria das intenções de voto nas eleições legislativas do final de 2015.
Uma porta-voz do
Ministério espanhol das Finanças negou que Luis de Guindos tivesse gritado ou
levantado a voz com Varoufakis. A Espanha, acrescentou, é favorável ao diálogo
e à flexibilidade, dentro das regras, e mostrou solidariedade para com a
Grécia, contribuindo com 26 mil milhões de euros para o seu resgate, numa
altura de dificuldade das suas próprias finanças.
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