Eurogrupo encosta Grécia à parede
e quer cedência já esta semana
SÉRGIO ANÍBAL
16/02/2015 - PÚBLICO
Parceiros europeus dizem que Grécia tem de pedir uma extensão do programa
da troika até sexta. Varoufakis garante que um acordo será assinado nos
próximos dias, mas mantém recusa da proposta do Eurogrupo.
Ninguém quer
chamar-lhe um ultimato, mas a verdade é que é o que parece: os outros 18
membros do Eurogrupo deram quatro dias à Grécia para ceder e acabar por aceitar
uma extensão do actual programa da troika, algo que o Governo de Alexis Tsipras
desde o início recusou. Caso contrário não há outra forma de continuar as
negociações.
Depois do
fracasso da reunião de seis horas da passada quarta-feira, os ministros das
Finanças da zona euro voltaram a reunir-se nesta segunda e, após apenas 30
minutos de discussão sobre a Grécia, o resultado final foi mais uma vez o
mesmo: a incapacidade para chegar a um comunicado conjunto que exprimisse a
existência de um acordo político sobre a forma como será gerida a situação
grega durante os próximos meses. A diferença é que, para os parceiros da Grécia
da zona euro, ficou estabelecido que só há uma solução: a continuação das
negociações no âmbito do actual programa da troika, sendo dada como oferta
“alguma flexibilidade” na sua aplicação.
Como defendeu o
presidente do Eurogrupo no final da reunião, a bola está agora do lado da
Grécia e o tempo está a esgotar-se. Para que o pedido de extensão do programa
por parte da Grécia possa chegar a tempo de todos os países o aprovarem (alguns
nos seus respectivos parlamentos) tem de ser apresentado “até ao final desta
semana, mas não mais do que isso”, afirmou Jeroen Dijsselbloem. A possibilidade
de realização de uma nova reunião extraordinária do Eurogrupo na sexta-feira
ficou em aberto, “mas apenas se a Grécia entretanto fizer o pedido de extensão
do programa”.
O que fará então
a Grécia? Yanis Varoufakis, na conferência de imprensa a seguir à reunião do
Eurogrupo, recusou as ideias de que Atenas esteja perante um ultimato e de que
foi a Grécia que ficou com a bola do seu lado. “A história da UE mostra que
nada de bom sai de ultimatos. Tenho a certeza de que qualquer ideia de um
ultimato vai desaparecer nos próximos dias”, afirmou o ministro das Finanças
grego, acrescentando que “falar sobre quem tem a bola na mão faz com que isto
pareça um jogo”. “Nós não temos o direito de fazer jogos com o futuro da
Europa”, disse.
Sobre se irá
pedir ou não uma extensão do actual programa da troika nos próximos dias, a
resposta não foi conclusiva. Varoufakis disse não ter dúvidas de que um acordo
vai ser assinado nos próximos dias, mas ao mesmo tempo reafirmou que seria
simplesmente errado para o Governo grego aceitar uma extensão inalterada do
programa depois de ter ganho umas eleições baseado na sua completa reforma.
O ministro grego
aumentou ainda mais o mistério, ao dizer que tinha recebido do comissário
europeu Pierre Moscovici no início do dia uma proposta de acordo que estava
preparado para assinar de imediato, mas que esta foi retirada por Dijsselbloem
e substituída por outra, que acabou por não ser aceite pela Grécia. Não ficou
claro, contudo, qual a diferença entre as duas propostas.
O que se sabe,
para já, é que o que está em causa neste momento nas negociações não é a
definição em concreto de um programa para a Grécia. Os que os ministros das
Finanças estiveram a discutir foi como é que nos próximos quatro meses a Grécia
vai conseguir assegurar o financiamento de que precisa, enquanto discute com os
parceiros europeus um eventual novo programa para o médio prazo.
Os membros do
Eurogrupo ficaram descontentes com o facto de, após alguns dias de trabalho
entre a troika e o Governo grego, não ter ficado estabelecido que diferenças
existiam realmente entre o actual programa e aquilo que são os novos planos de
Atenas. E depois, numa posição que foi defendida também por Pierre Moscovici,
concordaram (excluindo obviamente a Grécia) que, para continuarem a discutir o
que é que pode ou não ser alterado no programa, a única forma de o fazer é
estender o seu prazo de validade, o que implica que a Grécia vai ter, de uma
forma ou de outra, de voltar a cumprir algumas condições. “É uma necessidade, nós
funcionamos com regras e elas têm de ser respeitadas”, disse o comissário
europeu.
Segundo Jeroen
Dijsselbloem, com o pedido de extensão tem de vir um compromisso da Grécia de
que tem vontade de cumprir as condições incluídas no programa, incluindo as metas
orçamentais, sendo oferecida contudo “alguma flexibilidade”.
E o que é o
Eurogrupo quer dizer com “alguma flexibilidade”? É a possibilidade que é dada a
um país para negociar com a troika a substituição de determinadas medidas por
outras que produzam o mesmo tipo de efeito, nomeadamente a nível orçamental. É
uma flexibilidade que sempre foi dada nos programas da troika, incluindo em
Portugal.
O Governo grego
não gostou da oferta. O que recebemos foram “palavras nebulosas sobre alguma
flexibilidade”, disse Yanis Varoufakis, que defendeu que os parceiros europeus
têm de explicar em concreto o que é que pode ser mudado no programa. “Podemos
repor as pensões, por exemplo?”, perguntou na conferência de imprensa.
Ainda assim, do
lado de Varoufakis, foi notória a existência de alterações de discurso com
vista à obtenção de algum tipo de acordo com os parceiros europeus. O ministro
disse que está pronto para assinar um entendimento em que a Grécia se
comprometa a continuar a cumprir todos os pagamentos da dívida, a não adoptar
medidas não negociadas com os parceiros e, mesmo, a aceitar novas condições que
seja exigidas pelos seus parceiros. O que não quer, aparentemente, é que o
ponto de partida sejam as condições que estão estabelecidas no actual programa.
Pelo meio de mais
um dia de impasse, fica o ambiente cada vez mais crispado entre os responsáveis
das Finanças da Alemanha e da Grécia. De manhã, numa entrevista a uma rádio
alemã, Wolfgang Schäuble fez um comentário bastante crítico ao Governo grego:
“Tenho pena dos cidadãos gregos. Elegeram um Governo que, de momento, se
comporta de uma forma bastante irresponsável”.
Sem comentários:
Enviar um comentário