A ortodoxia Financeira e a “elite”
cinzentona da Eurocracia questiona-se : Too Late ?
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Riscos gregos
PAULO RANGEL
17/02/2015 - PÚBLICO
Mesmo não olhando ao conteúdo dos programas
aplicados (mesmo aceitando a sua indispensabilidade), é preciso reconhecer que
a falta da velha “cultura comunitária” na estratégia europeia acabou por
contribuir para reforçar o flanco das propostas políticas mais radicais.
Os radicais
chegaram ao poder na Grécia. Chegaram com toda a legitimidade e isso tem de ser
respeitado. Não sabemos – é cedo para tanto – se moderarão a sua estratégia e o
seu discurso e, com isso, atenuarão os riscos da dinâmica de expansão dos
extremismos e populismos. Em todo o caso, convém não pôr a cabeça na areia e
estar ciente dos riscos que esta vitória e a sua agenda radical podem
comportar.
2. O primeiro
risco – a que chamo “risco constitucional” – foi ontem lapidarmente
identificado aqui no Público, por João Carlos Espada, em termos que subscrevo por
inteiro e que, por conseguinte, me escuso de desenvolver. A agenda de ligação à
Rússia de que falei neste espaço há quinze dias é motivo de profunda
preocupação. A coligação com uma extrema-direita de vinco nacionalista e
confessamente anti-semita é geradora das maiores inquietações. A agenda interna
de colectivização e socialização da economia também não dá azo a esperança. Há
riscos para a democracia liberal tal como a entendemos no mundo ocidental,
mundo de que a Grécia faz parte. Esse é o risco constitucional.
3. O segundo
risco é o “risco internacional” e prende-se essencialmente com a imediata
conjuntura geoestratégica internacional, designadamente com a crise ucraniana. Rui
Ramos, também ontem, mas no Observador, chamava a atenção, com absoluta razão,
para que a crise na Ucrânia é bem mais grave do que o problema grego. A questão
é que a combinação de ambas e a evidente “conexão russa” no respectivo
desenvolvimento não é de molde a deixar ninguém tranquilo. A Rússia não terá
condições para resgatar financeiramente a Grécia; como, de resto, e na altura
em melhor situação, demonstrou não ter para resgatar Chipre. Mas dispõe de
capacidade de perturbação e destabilização em alto grau e não deixará de
explorar todas as oportunidades que possam enfraquecer a União Europeia e a
NATO. Ora, a emergência de uma querela grega com os seus parceiros tradicionais
será música celestial para os ouvidos de Putin.
Não pode demais
excluir-se – e isso talvez explique a hesitação no retrocesso da privatização
do porto do Pireu – um recurso do governo grego à China. A China, como bem
sabem os portugueses, tem vindo a aproveitar a crise das dívidas soberanas para
colocar as suas pedras no tabuleiro europeu. A crise grega poderia dar-lhe a
oportunidade de colocar a pedra angular.
4. Se o risco
constitucional e o risco internacional poderiam depor no sentido de tentar um
acordo e uma cedência de maior tomo ao actual governo grego, a verdade é que
isso é altamente desaconselhável por aquilo que denomino de “risco europeu”. O
risco europeu é um risco eminentemente político e é o risco de indução e
contágio dos populismos e extremismos.
O caso mais
glosado, mas que não é sequer o mais iminente, é o do contágio dos extremismos
de esquerda. E aqui aparece com mais saliência do que qualquer outro, o exemplo
do Podemos em Espanha. É natural que, por força de causas estruturais e
conjunturais, a que agora se somaria a experiência grega, um partido com
aquelas características possa ter uma base de apoio ampla. Basta pensar na
agenda republicana (que alteraria o regime em Espanha, com a provável
desagregação do Estado) ou na contemporização com a secessão catalã para
imaginar o tremendo câmbio político que uma vitória do Podemos poderia
provocar. Já não falando no programa de colectivização e socialização e nos
seus efeitos. Numa situação destas, com mudanças tectónicas de nível
geopolítico, Portugal seria muito afectado e a União Europeia ficaria decerto
em muito maus lençóis.
Não menos
inquietante é o risco de indução. Como se viu pelo entusiasmo de Marine Le Pen,
a vitória do radicalismo de esquerda é um catalisador para os radicais da
direita. As forças anti-europeias de direita (Verdadeiros Finlandeses, Partido
da Liberdade e Aliança do Futuro na Áustria, Jobbik na Hungria, Partido do Povo
na Dinamarca, Aurora Dourada e Gregos independentes na Grécia, Democratas
Suecos, Liga Norte na Itália, Partido da Liberdade na Holanda, Frente Nacional
na França, UKIP e BNP no Reino Unido) têm muito a ganhar com a vitória do
Syriza. Irão explorar os sentimentos anti-europeus, irão diabolizar qualquer
gesto de aproximação ao governo grego, irão acentuar a fractura Norte-Sul. E se
algum deles chegar ao poder, irá retaliar e bloquear todo o processo decisório
na União Europeia. A vitória do Syriza e os eventuais ganhos da sua agenda
serão um enorme indutor do radicalismo de direita, em especial na Europa do
Norte. Com radicalismo de esquerda no Sul e radicalismo de direita no Norte, a
paisagem política da Europa ficará irreconhecível. E a democracia liberal que
fundámos e em que acreditámos, irrespirável.
SIM. Papa
Francisco. Na cena mundial, tem sido a única voz de referência. O apelo a que a
Igreja acolha os marginalizados, acampe na rua humana e seja o hospital de
campanha é todo um programa de recomeço a nível global.
NÃO. António
Costa. Cria taxas para o turismo; aumenta as taxas dos bens essenciais. Mas
perdoa magnanimamente mais de um milhão de euros ao futebol. É o regresso da velha política. Um escândalo.
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