Parlamento Europeu reabre
investigação aos voos da CIA na Europa
“Novos factos” revelados por
relatório do Senado americano publicado em Dezembro justificam nova
investigação
Miguel Castro
Mendes / 12-2-2015 / PÚBLICO
O Parlamento
Europeu (PE) decidiu ontem reabrir a investigação ao transporte e detenção
ilegal de suspeitos de terrorismo em países europeus pela CIA, com base nos
factos revelados pelo relatório do Senado norte-americano divulgado em
Dezembro.
Os eurodeputados
consideram que o relatório da comissão de serviços de informações do Senado
“revela novos factos que reforçam as alegações de que um conjunto de
Estados-membros da UE (...) foram cúmplices do programa de detenção secreta e
de entregas extraordinárias da CIA”, lê-se na resolução aprovada, divulgada em
comunicado. Tais acções, prossegue o texto, foram realizadas “por vezes de
forma corrupta, baseada em subornos significativos fornecidos pela CIA em troca
da sua cooperação”.
A investigação
agora reaberta sucederá à realizada em 2006 por uma comissão temporária do PE,
presidida pelo social-democrata Carlos Coelho, e integrada pela socialista Ana
Gomes. O relatório elaborado na altura por essa comissão, aprovado pelo PE em
2007, lamentou a “falta de cooperação” de muitos Estadosmembros”. Relativamente
a Portugal, o relatório pedia nomeadamente ao Governo que investigasse as
escalas de aeronaves operadas pela CIA em aeroportos portugueses.
Carlos Coelho,
reagindo à reabertura da investigação, declarou ontem que face às revelações do
relatório americano fica claro que “tanto Estados-membros como os Estados
Unidos mentiram em 2007” ,
sublinhando que “há factos ainda por esclarecer e responsabilidades por
apurar.”
Ana Gomes, em
declarações ao PÚBLICO, afirmou que os eurodeputados não podiam “ficar
indiferentes” face às novas revelações, e que o Parlamento “vai estudar o
relatório do Senado”, realçando que se confirmou que a CIA de facto operava prisões
secretas na Polónia e na Lituânia.
A resolução
apelando à reabertura da investigação foi apresentada por deputados de vários
grupos políticos europeus, incluindo a bloquista Marisa Matias e a socialista
Ana Gomes. Contou com o apoio de uma maioria de eurodeputados socialistas,
liberais, da Esquerda Unitária e dos Verdes. O partido popular europeu (PPE) e
o grupo conservador eurocéptico (ECR) opuseram-se. Carlos Coelho foi um dos
poucos deputados do PPE que votou favoravelmente o texto.
O Parlamento Europeu
vai assim encarregar a Comissão de Liberdades Cívicas, Justiça e Assuntos
Internos, a comissão dos Assuntos Externos e a subcomissão dos Direitos Humanos
de “retomarem o inquérito” e “informarem o plenário no prazo de um ano”. Sublinhando
que “as violações dos direitos humanos não podem ficar impunes”, os
eurodeputados também pedem aos Estados Unidos para investigarem as violações
cometidas ao abrigo dos programas da CIA.
Em relação aos
Estados-membros da UE, os eurodeputados pedem que investiguem e julguem os
envolvidos nestas operações e mostram-se preocupados “quanto aos obstáculos
encontrados pelos inquéritos judiciais e dos parlamentos nacionais (...), o
abuso do segredo de Estado e a classificação indevida de documentos” que
resultaram no “encerramento de processos penais”.
A investigação
deverá incluir uma missão do PE aos países da UE alegadamente envolvidos no
transporte e detenção ilegal de suspeitos de terrorismo, assim como a recolha
de todas as informações e provas relevantes sobre eventuais subornos ou outros
actos de corrupção associados ao programa da CIA. O agravamento da situação no
Iémen, onde uma milícia xiita huthi procura consolidar o poder, levou os
Estados Unidos, o Reino Unido e a França a encerrarem as suas embaixadas e a
iniciarem a retirada de diplomatas.
Em Sanaa e
noutras cidades realizaram-se ontem manifestações de protesto contra os huthis.
Oriundo do Norte, o grupo xiita que em Setembro entrou na capital tem
consolidado posições no centro. O seu avanço levou tribos sunitas do Sul e do
Leste a armarem-se e a aliarem-se com a Al-Qaeda da península Arábica, noticiou
a Reuters.
As decisões de
encerramento de embaixadas acontecem numa altura em que as Nações Unidas tentam
estabelecer diálogo entre facções políticas e os huthis que controlam a
capital, Sanaa, e vastas áreas do país. Na semana passada, a milícia anunciou a
dissolução do Parlamento.
O primeiro a
tomar a iniciativa de fechar a representação diplomática
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