Força
Adico ! Precisamos de muitas mais histórias como esta …
OVOODOCORVO
Fabricante
da “cadeira portuguesa” quer sentá-la perto do luxo
LUÍSA PINTO
12/09/2016 – PÚBLICO
A
Adico, fundada em 1920, vai levar o seu principal produto a Londres e
quer dar-lhe mais valor.
Quando esta
segunda-feira os utilizadores se aproximarem dos cerca de 4000 mil
terminais da rede Multibanco que existem vão ler um agradecimento
especial da Adico, a fábrica de móveis de ferro fundada por Adelino
Dias da Costa em 1920. A campanha lançada pela empresa visa
agradecer a todos os que tem vindo a usar a “cadeira portuguesa”,
o seu mais importante ícone, e que integra um vasto repertório de
referências da fábrica localizada em Avanca.
Poucos em Portugal
terão ouvido falar da Adico, mas serão menos ainda os que não
reconhecem o objecto em si, ou não tenham recordações de se sentar
numa esplanada composta por estas cadeiras -- a Adico tem uma quota
de mercado de 82% no segmento de mobiliário de ferro para o sector
da restauração. A sua cadeira tem uma estrutura tubular, feita em
aço curvado, com as duas pernas de trás a prolongarem-se para
servir de apoio aos braços e à estrutura de encosto; depois, outros
dois tubos de aço fazem as pernas dianteiras, e o tampo pode ser
feito em aço, em madeira ou em ripas de madeira.
O principal produto
da empresa não leva o nome de “cadeira portuguesa” há muito
tempo. Até há duas décadas limitava-se a ser a 5008, a referência
que era usada nos catálogos da Adico. Agora, o presidente executivo
desta empresa familiar (ainda nas mãos dos descendentes do
fundador), Miguel Costa Rodrigues, quer assumidamente vê-la
reconhecida como um objecto de quase luxo.
A estratégia de
Adico tem passado por reduzir o número de referências e por
relançar alguns produtos do portfólio, melhorando-os. A última
aposta passou pela colecção “Os clássicos da Adico”,
adaptando-os às novas exigências da ergonomia (estamos mais altos,
em média, dez centímetros, e há mercados com especificidades: na
Dinamarca, as pernas têm de quatro centímetros mais altas) e,
sobretudo, dando-lhes “o acabamento de qualidade e a embalagem que
acredita que merecem”, diz Miguel Costa Rodrigues.
Uma certeza é a de
que vão continuar a recusar produzir “marca branca”: “Não
abdicamos de utilizar a nossa marca - já tivemos contactos nesse
sentido, mas optamos por sacrificar o volume de negócios ao invés
de ocultar a nossa marca. Queremos é acrescentar-lhe valor”,
sublinha este responsável.
A empresa começou
por produzir mobiliário hospitalar (camas e lavatórios em ferro,
passando logo de seguida para mesas de operações hidráulicas e
material de cirurgia), e já era uma referência nacional nos anos 30
quando desenvolveu uma linha de mesas e cadeiras para esplanadas de
onde veio a surgir a “cadeira portuguesa”. Hoje, as exportações,
que significam quase 20% na facturação da empresa, são quase
integralmente referentes ao segmento do mobiliário metálico para
restauração.
De olho no futuro
O gestor diz que há
perspectivas de crescimento – embora poderão não ser imediatas,
até porque espera fechar este ano com um volume de negócios de três
milhões de euros, inferior aos 3,5 milhões de 2015. Mas acredita
que está a reunir as condições para fazer uma aposta mais
sustentada no mercado externo, onde só agora começa a ter uma
estrutura de vendas.
“Quando todos
apostaram nos mercados emergentes, nós apostámos sempre no mercado
da primeira linha, aquele que pode melhor absorver o nosso produto,
que queremos ver posicionado nos segmentos superiores”, explicar o
gestor. Todos os meses envia produtos para Dinamarca, França, Itália
ou Estados Unidos. Mas os mercados mais importantes são a Grã-
Bretanha, a Holanda e a Alemanha: “Para estes já enviamos dois
contentores por mês”, refere.
Parte do futuro
passa por um novo investimento, de quase meio milhão de euros,
destinado a melhorar o layout da fábrica da empresa e ampliar a área
de produção.
No meio da nave
principal da fábrica de Avanca - vai perder esse estatuto quando
avançarem as obras para praticamente duplicar a capacidade de
produção da fábrica - ainda cheira a tinta. O odor é do tanque
com cor azul forte onde estiveram ser mergulhadas as cadeiras que
vão ser enviadas para Londres e equipar a esplanada do bar que vai
servir de apoio principal a uma das mais reputadas mostras de design
da capital britânica, a TENT Londres.
Miguel Rodrigues
mostra o produto, de ergonomia retocada (“quisemos redesenhar o
clássico, mas respeitando-o, apenas o adaptando às novas
realidades”, explica) para logo a seguir mostrar a embalagem com
que vai expedir cada uma daquelas cadeiras: de marroquinaria,
costurada individualmente, e com a marca Adico gravada a prata. Num
bolso externo, um folheto vai a contar a história da empresa.
A participação em
mostras de design é uma estratégia aplicada também no mercado
nacional: no final de 2015 decorreu em Cascais a exposição de
“homenagem à cadeira portuguesa”, com peças saídas da
intervenção de meia centena de nomes, entre eles designers como
Nini Andrade Silva, ou arquitectos como Siza Vieira. No final deste
mês, a mesma exposição estará no Porto, na Casa Museu Guerra
Junqueiro.
“Senti que tenho
de devolver a cadeira portuguesa à Adico. Que toda a gente, em
Portugal e no mundo, deve saber qual é a sua história verdadeira.
Somos a empresa mais antiga em Portugal neste sector da actividade. E
na Europa também só conheço a Thonet, alemã, que tem quase 200
anos”, diz Miguel Rodrigues. Para o gestor, a “cadeira
portuguesa” já é “um ícone”, embora não saiba dizer quem
foi o autor que a desenhou. “Não podemos atribui-la a ninguém. O
autor é a Adico”, remata.
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