Exposição
mostra fotos inéditas de prédios, ruas e pessoas na Lisboa de 1898
a 1908
por O Corvo • 23
Setembro, 2016 •
Há edifícios que
reconhecemos de imediato e outros nem tanto, dadas as mudanças
entretanto ocorridas. Mas também se veem caras cujo olhar interpela
o observador, essas sim, perdidas num tempo que já não é o nosso.
O desejo de dois técnicos municipais, nos últimos anos do século
XIX, de fazer um registo o mais completo possível de todos os
edifícios então existentes em Lisboa permite-nos hoje ter um
registo inédito sobre a cidade. E exercem um estranho fascínio em
quem as vê. Podem ser contempladas na exposição “Lisboa uma
grande surpresa”, desta sexta-feira (23 de setembro) até 23 de
janeiro, no Arquivo Fotográfico Municipal, na Rua da Palma.
Os desenhadores José
Cândido d’Assumpção e Souza (1856-1923) e de Arthur Júlio
Machado (1867-1947) trabalhavam na Câmara Municipal de Lisboa e
terão proposto aos seus superiores hierárquicos, a 20 de julho de
1898, o início de um meticuloso trabalho de recolha fotográfica das
fachadas dos prédios da capital. O fim era o de catalogação do
edificado de Lisboa, como acontecia através de outras formas de
registo organizadas na época pela autarquia. Tal como sucedia
noutras grandes cidade europeias e norte-americanas, levantamentos do
género permitiam também ajudar na tomada de decisões de política
urbana. Os avanços tecnológicos, resultantes da revolução
industrial, faziam sonhar com uma nova cidade.
A proposta do par
foi aceite. Durante uma década, entre 1898 e 1908, fotografaram
prédio atrás de prédio, criando um acervo de cerca de 3800 itens.
Esses registos, porém, fixaram mais que os edifícios. Captaram
também as pessoas e a vida de rua que ficavam no campo de captação
da imagem. “Os vendedores, os transeuntes e as crianças
acrescentam outras abordagens que trazem até nós uma cidade viva,
onde se podem identificar as ruas, os monumentos e as praças, mas
também os ofícios, o comércio, a cultura, a vivência da cidade”,
diz o texto de apresentação da exposição comissariada pelo
fotógrafo José Luís Neto. “Há aqui imagens absolutamente
fantásticas”, diz o comissário ao Corvo.
Conjuntamente com
uma equipa de investigadores por si liderada, pesquisou e selecionou
130 imagens, que pretendem revelar “distintas sensibilidades”
patentes no trabalho dos dois artistas, cuja identidade se manteve
anónima durante quase um século. A escolha realizada para a mostra
agora inaugurada teve como base o imenso acervo existente num núcleo
fotográfico do Arquivo Municipal de Lisboa conhecido como Fundo
Antigo, a que se juntou material recolhido no Museu de Lisboa. A
selecção foi difícil, mas o que se mostra permite a José Luís
Neto afirmar que estes “são, sem dúvida, dois nomes importantes
para a história da fotografia portuguesa”.
Mais informações:
arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/pt/eventos/lisboa-uma-grande-surpresa
Texto: Samuel Alemão
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