Mariana.
Rock-star da esquerda enfrenta primeiros apupos
Prodígio
académico e fenómeno político. Nascida no Alentejo de Abril, numa
família de Abril, Mariana Mortágua é uma das peças essenciais da
geringonça
Sebastião Bugalho
21/09/2016 16:24
Não é raro
olhar-se para Mariana Mortágua quando alguém fala na popularidade
da esquerda portuguesa. Não é raro, aliás, esquecerem-se os tempos
conturbados do Bloco de Esquerda após a saída de Francisco Louçã,
com a travessia do deserto em liderança bicéfala, devido ao sucesso
do partido com a aparição de Mariana Mortágua.
O sucesso e os
sorrisos generalizados da Comissão de Inquérito ao BES na classe
política nacional deram o palco necessário para a revelação da
deputada bloquista. Quando a pertinência das suas questões chegou a
merecer um elogio do banqueiro Ricardo Salgado - que não representa
exatamente os ideais de Karl Marx - a sociedade olhou para Mortágua.
Era a mais jovem
deputada do Bloco, alguém que viera de Londres para substituir Ana
Drago na bancada, passando polemicamente à frente de nove nomes
possíveis. A opção enfrentou alguma contestação interna em 2013.
O argumento para favorecer Mortágua era a falta de economistas nos
quadros do BE, especialmente desde a tal saída de Louçã. Juntos,
no ano anterior, haviam publicado um livro sobre a crise da dívida
portuguesa. Recentemente, foi co-autora de uma obra que contou com a
participação de Joseph Stigliz, prémio Nobel da economia.
No entanto, Mortágua
revelou-se bem mais que uma economista. Meses depois era
cabeça-de-lista para Lisboa e o seu rosto saltava das televisões
para os cartazes de campanha, numa afirmação mais difícil de
concretizar em partidos de maior dimensão.
A questão ‘de
onde é que veio Mariana Mortágua?’ deve ter preenchido várias
mentes nos últimos três anos. Nascida há três décadas no Alvito,
em pleno Alentejo, o facto de ser filha de um revolucionário de
Abril - Camilo Mortágua - já levantou várias vozes de protesto na
oposição ao governo socialista. Sérgio Azevedo, deputado do PSD,
afirmou ao i: “Mariana não desilude nem espanta. Nunca tive
ilusões quanto à sua doutrina político-familiar”. A deputada
sempre se manteve firme na sua recusa em interpretar as ações
revolucionárias do pai, nomeadamente o célebre assalto à fragata
Santa Maria, como ligadas a qualquer tipo de atividade do foro
terrorista.
Na última semana,
Mariana Mortágua sofreu alguns sinais de desacordo por parte dos
eleitores. Ao dizer que “temos de fazer é perder a vergonha de ir
buscar dinheiro a quem está a acumular dinheiro”, alguns setores
da sociedade interpretaram as declarações como um ataque à
poupança - algo que a deputada do BE veio desmentir numa rede
social. Um deputado do CDS esclarece ao i: “Ela disse o que sempre
disse, não há novidade. A novidade é o PS aplaudir”.
Um dos
vice-presidentes dos centristas, Adolfo Mesquita Nunes, debate
semanalmente com Mortágua num canal televisivo e são conhecidas as
boas relações entre ambos. Embora nos campos diretamente opostos da
Assembleia da República, os dois políticos demonstram respeito
mútuo no pequeno ecrã.
João Galamba,
porta-voz do PS e colega de Mórtagua em várias comissões
parlamentares, conta ao i: “Não tenho nenhuma razão de queixa da
Mariana Mortágua, temos uma boa relação de trabalho, ela é
bastante competente”. Galamba exemplifica que existem divergências
entre ambos, na medida em que se assume como “um social-democrata e
ela não”, mas haverá “uma plataforma suficientemente comum para
construir convergências que sustentem esta solução de governo para
o país”. Sobre o contributo de Mortágua na Assembleia, o político
socialista afirma que “todos reconhecerão isso”. Fonte próxima
da deputada descreve-a como alguém altamente “metódico, mas
descontraído”.
Mariana Mortágua
prefere tomar a política como função e não como opção de
carreira. Assume-se, desde jovem, como uma política por natureza.
Pensa como uma política, fala como uma política, mas não gosta de
se ver na televisão. Ultimamente, é melhor que não a ligue.
1 comentário:
Apenas uma correcção. O Santa Maria não era uma fragata, mas um navio de passageiros.
Enviar um comentário