quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Mariana. Rock-star da esquerda enfrenta primeiros apupos


Mariana. Rock-star da esquerda enfrenta primeiros apupos

Prodígio académico e fenómeno político. Nascida no Alentejo de Abril, numa família de Abril, Mariana Mortágua é uma das peças essenciais da geringonça

Sebastião Bugalho 21/09/2016 16:24

Não é raro olhar-se para Mariana Mortágua quando alguém fala na popularidade da esquerda portuguesa. Não é raro, aliás, esquecerem-se os tempos conturbados do Bloco de Esquerda após a saída de Francisco Louçã, com a travessia do deserto em liderança bicéfala, devido ao sucesso do partido com a aparição de Mariana Mortágua.

O sucesso e os sorrisos generalizados da Comissão de Inquérito ao BES na classe política nacional deram o palco necessário para a revelação da deputada bloquista. Quando a pertinência das suas questões chegou a merecer um elogio do banqueiro Ricardo Salgado - que não representa exatamente os ideais de Karl Marx - a sociedade olhou para Mortágua.

Era a mais jovem deputada do Bloco, alguém que viera de Londres para substituir Ana Drago na bancada, passando polemicamente à frente de nove nomes possíveis. A opção enfrentou alguma contestação interna em 2013. O argumento para favorecer Mortágua era a falta de economistas nos quadros do BE, especialmente desde a tal saída de Louçã. Juntos, no ano anterior, haviam publicado um livro sobre a crise da dívida portuguesa. Recentemente, foi co-autora de uma obra que contou com a participação de Joseph Stigliz, prémio Nobel da economia.

No entanto, Mortágua revelou-se bem mais que uma economista. Meses depois era cabeça-de-lista para Lisboa e o seu rosto saltava das televisões para os cartazes de campanha, numa afirmação mais difícil de concretizar em partidos de maior dimensão.

A questão ‘de onde é que veio Mariana Mortágua?’ deve ter preenchido várias mentes nos últimos três anos. Nascida há três décadas no Alvito, em pleno Alentejo, o facto de ser filha de um revolucionário de Abril - Camilo Mortágua - já levantou várias vozes de protesto na oposição ao governo socialista. Sérgio Azevedo, deputado do PSD, afirmou ao i: “Mariana não desilude nem espanta. Nunca tive ilusões quanto à sua doutrina político-familiar”. A deputada sempre se manteve firme na sua recusa em interpretar as ações revolucionárias do pai, nomeadamente o célebre assalto à fragata Santa Maria, como ligadas a qualquer tipo de atividade do foro terrorista.

Na última semana, Mariana Mortágua sofreu alguns sinais de desacordo por parte dos eleitores. Ao dizer que “temos de fazer é perder a vergonha de ir buscar dinheiro a quem está a acumular dinheiro”, alguns setores da sociedade interpretaram as declarações como um ataque à poupança - algo que a deputada do BE veio desmentir numa rede social. Um deputado do CDS esclarece ao i: “Ela disse o que sempre disse, não há novidade. A novidade é o PS aplaudir”.

Um dos vice-presidentes dos centristas, Adolfo Mesquita Nunes, debate semanalmente com Mortágua num canal televisivo e são conhecidas as boas relações entre ambos. Embora nos campos diretamente opostos da Assembleia da República, os dois políticos demonstram respeito mútuo no pequeno ecrã.

João Galamba, porta-voz do PS e colega de Mórtagua em várias comissões parlamentares, conta ao i: “Não tenho nenhuma razão de queixa da Mariana Mortágua, temos uma boa relação de trabalho, ela é bastante competente”. Galamba exemplifica que existem divergências entre ambos, na medida em que se assume como “um social-democrata e ela não”, mas haverá “uma plataforma suficientemente comum para construir convergências que sustentem esta solução de governo para o país”. Sobre o contributo de Mortágua na Assembleia, o político socialista afirma que “todos reconhecerão isso”. Fonte próxima da deputada descreve-a como alguém altamente “metódico, mas descontraído”.

Mariana Mortágua prefere tomar a política como função e não como opção de carreira. Assume-se, desde jovem, como uma política por natureza. Pensa como uma política, fala como uma política, mas não gosta de se ver na televisão. Ultimamente, é melhor que não a ligue.

1 comentário:

Anónimo disse...

Apenas uma correcção. O Santa Maria não era uma fragata, mas um navio de passageiros.