Medina
avisa que reverter a “degradação” dos transportes públicos vai
levar uma década
Inês Boaventura
20/09/2016 – 23:45
O
autarca insiste nos benefícios de a Carris passar para a Câmara de
Lisboa mas assume que não haverá melhorias “do dia para a noite”
Fernando Medina
garante que a assunção “da propriedade e da gestão” da Carris
pela Câmara de Lisboa “não é uma questão de exercício de
poder, de natureza administrativa”, mas sim uma decisão
“estratégica para concretizar uma melhoria dos transportes
públicos”. Ainda assim, o autarca avisa que a situação “não
vai mudar do dia para a noite” e que “reverter” o “nível de
degradação” actual é “um desafio para a próxima década”.
Muito crítico
daquele que foi o desempenho da Carris e do Metropolitano de Lisboa
ao longo dos últimos anos, o presidente da Câmara de Lisboa
sustentou mesmo que estas empresas já não prestam “um serviço
público” (“que assegure as necessidades” da população),
limitando-se a oferecer “um serviço de transportes”.
Olhando para o
conjunto da Área Metropolitana de Lisboa, Fernando Medina considerou
haver “um emaranhado absolutamente incompreensível, ilegível e
irracional”, com “centenas de títulos de transporte, dezenas de
operadores” e licenças atribuídas a empresas privadas com base em
critérios que não o do “serviço público”.
Face a essa
realidade, o autarca entende que o caminho passa por promover uma
“integração metropolitana”, por garantir a “acessibilidade”
e por recuperar a “credibilidade” dos transportes públicos. Para
Fernando Medina, os tarifários hoje praticados “não são
compatíveis com uma eficaz política de mobilidade”, sendo sua
opinião que “não há um verdadeiro transporte público que não
tenha uma dimensão de financiamento público associado”.
Quando a Carris
passar para a câmara (permitindo uma “articulação” do seu
serviço “com a via pública, o estacionamento, a rede ciclável,
outros operadores e instrumentos de mobilidade”), o autarca
acredita que a linha ferroviária de Cascais passará a ser “a
grande pedra que fica em falta”. Constatando que esta “tem vindo
a deteriorar-se muito ao longo dos anos”, Fernando Medina frisou a
importância de se estabelecer uma ligação, em Alcântara, entre as
linhas de Cascais e de Cintura.
Também o vereador
do Planeamento e Urbanismo da Câmara de Lisboa destacou a
importância de se estabelecer essa “continuidade” e acrescentou
à lista de alterações desejadas pela autarquia a chegada dos
comboios da Fertagus à Gare do Oriente. Manuel Salgado também quer
ver concretizada a ligação das linhas verde e amarela do
Metropolitano de Lisboa (entre o Rato e o Cais do Sodré) e a
expansão da linha vermelha de São Sebastião a Campo de Ourique.
Quanto àquela que
poderá ser a oferta da Carris quando a câmara assumir a sua gestão,
o vereador explicou que a ideia é “redesenhar a rede de autocarros
em três níveis”: “uma rede de proximidade, de bairros,
organizada por freguesias”, “uma rede de distribuição geral”
que cubra “toda a cidade” e “uma rede rápida” que sirva os
principais pólos geradores de tráfego e faça a ligação com as
estações de comboios e de metro.
Outro dos oradores
na conferência sobre mobilidade sustentável que se realizou esta
terça-feira foi o presidente da Carris, do metro e da Transtejo, que
reconheceu a necessidade de se “recuperar a qualidade do serviço”
destas empresas e de se “inverter o processo que estava orientado
para uma sustentabilidade unicamente financeira”. É preciso,
afirmou Tiago Farias, “garantir que existe oferta, não apenas que
há negócio”.
Fazendo eco das
palavras de Fernando Medina sobre o tempo que levará a reverter a
situação actual, o presidente das empresas de transportes pediu
“tempo”, mas admitiu que isso é algo “difícil de exigir a
quem já esperou muito tempo”
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