Governo
de Durão contratou Goldman para negócios caros e falhados
Paulo Pena
24/09/2016 –
PÚBLICO
Em
2004 o Goldman prometeu privatizar a Galp e reestruturar a EDP a
troco de um pagamento de 18 milhões de euros. As coisas não
correram bem. Em 2008 o banco vendeu à Metro do Porto o swap “mais
estúpido do mundo”.
Estavam em curso
duas das maiores privatizações de sempre em Portugal e o importante
sector da energia estava em profunda redefinição. Galp e EDP
procuravam, cada uma, o seu espaço e novos accionistas privados. O
Governo, liderado por Durão Barroso, contrata então o Goldman Sachs
para assessorar as duas empresas e montar a operação de
privatização da Galp. Num só ano pagou 1,7 milhões pelo trabalho
dos consultores. O contrato previa ainda outros 13 milhões de
success fee (remuneração por objectivos) e 200 mil euros mensais.
Mas os custos desta operação ainda hoje estão em cima da mesa, com
as compensações que o Estado garante à EDP (CMEC).
O responsável por
Portugal, no Goldman Sachs, era, desde 2002, António Borges. Mas o
contributo do Goldman acabaria por ser rejeitado em Bruxelas. A
Comissão Europeia considerou que o plano de entregar à EDP a
distribuição de gás natural era ilegal, à luz das regras
europeias.
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Enquanto este
processo se desenrolava, Durão Barroso foi eleito Presidente da
Comissão Europeia, e substituído por Pedro Santana Lopes na chefia
do Governo. Em Dezembro de 2004, o presidente da Parpública, João
Plácido Pires, defende que o contrato com o Goldman deve acabar,
dada a oposição de Bruxelas e os “elevados encargos” para o
erário público (Sábado, 8/5/2005). Bagão Félix, ministro das
Finanças, aceita a sugestão.
Com a entrada do
Governo seguinte, de José Sócrates, todos os outros contratos do
Goldman com o Estado foram cancelados. António Borges queixou-se de
perseguição política: “Eu já fui vítima dessa situação
[asfixia democrática] e denunciei-a. A empresa para a qual
trabalhava perdeu negócios em Portugal.”
Mas não seria para
sempre… Em 2008, a Metro do Porto decide fazer um swap de 126
milhões da sua dívida com o Goldman Sachs. Poucos meses depois a
empresa portuguesa já devia 120 milhões ao banco americano. O
contrato é um caso de estudo. Moorad Choudhry, professor de
Matemática da Universidade de Brunel, Reino Unido, classificou-o,
desta forma, ao jornal inglês Independent: “É possivelmente a
transacção financeira mais estupidamente complicada que alguma vez
foi feita.” Outro especialista afirmou: “Fez-me rir e chorar, em
igual medida. Em que raio é que aquela gente estava a pensar? Já vi
muitos maus produtos financeiros na vida, mas este é outra coisa. É
o momento Apocalipse Now da indústria bancária, quando toda a gente
cai na loucura.” Esta era a equação contratual para estimar os
limites de perdas: “{SumDCF [n] x 6.33% - SumCpn[I,n-1]}/DCF[n],
where I = 1,2,3”.
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