How important are the forthcoming presidential debates? Todd Graham, director of debate at Southern Illinois University, says they could just decide the election. Graham breaks down the relative strengths and weaknesses of both candidates, and what they need to do to win
Donald
Trump e os americanos
Jorge Almeida
Fernandes
25/09/2016
Temos amanhã à
noite o primeiro debate entre Hillary Clinton e Donald Trump. É o
arranque do final da corrida até 8 de Novembro. É para ambos um
confronto de alto risco. Todos esperam um debate fora dos modelos
normais. A regra de ouro de um candidato é não cometer erros. Trump
não funciona assim. Soma gaffes, provocações, indecências e não
teme mentir para lá de todos os limites. O que noutro candidato
seria defeito ou "suicídio eleitoral" nele parece virtude.
Os seus adeptos podem reconhecer que é um demagogo ou um charlatão
mas aplaudem essas tiradas — e tanto mais quanto sejam denunciadas
pelos media ou adversários.
Estas eleições são
diferentes. Resume The Economist: "Desta vez não é exagerado
dizer que esta eleição não é apenas sobre quem deverá ser
Presidente, mas sobre que espécie de país a América deveria ser."
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O percurso de Trump,
que desarticulou o Partido Republicano e agora desafia Hillary, foi
uma surpresa e um facto extraordinário. Os fantasmas da América
mais conservadora não explicam a dimensão e a persistência do
fenómeno. Este faz certamente parte do vento populista que sopra no
mundo, particularmente na Europa. Mas veste "roupas americanas".
E tem uma ressonância particular porque está em jogo a sorte da
maior potência do planeta.
Os temas e o estilo
A campanha de Trump
tem duas vertentes que ele unifica numa mistura explosiva. Primeiro,
exprime a ansiedade económica dos "perdedores da globalização",
ferida agravada pela grande crise de 2008. Diz um seu adepto: "A
candidatura de Trump é música celestial aos seus ouvidos. Critica
as indústrias que exportam para o outro lado do mar os seus
empregos. O tom apocalíptico adequa-se à sua experiência vivida no
terreno. Ele adora irritar as elites, o que muitas pessoas desejariam
fazer mas não conseguem por falta de instrumentos."
Os dados
estatísticos não permitem olhar as classes médias brancas como um
todo. Há ganhadores e perdedores, os que se adaptaram à
globalização e os que ficaram de fora. É fundamentalmente esta
segunda fracção que é a coluna vertebral do povo de Trump.
A segunda vertente é
um estilo que baralha as regras. O Washington Post lamentou há dias
a ineficácia dos "mainstream media" perante a campanha —
de resto, apenas 14% dos americanos se informam através deles. Parte
do eleitorado a quem Trump se dirige partilha das suas idiotices e
provocações — contra imigrantes e refugiados, insinuações
racistas, justificação da tortura, declarações de amor a Putin e
outros ditadores, manifestando, enfim, a mais patente
irresponsabilidade na política internacional, combinando o
isolacionismo com brutais ameaças imperiais. Os outros absolvem-no:
"As acusações [contra Trump] exprimem uma instituição
ilegítima ou um sistema" que usa o seu poder para os frustrar.
Eles desprezam a elite porque sentem que ela não os escuta e os
despreza. Se as elites odeiam Trump é a prova de que ele está
certo.
Transforma em
revolta a frustração social e económica: "Nós contra eles".
Dá uma demagógica expectativa de mudança. As elites têm aqui uma
alta responsabilidade: quando ignoram a exasperação popular estão
a preparar um imenso "motim". Escreve o Financial Times:
"Nos Estados Unidos, a elite de direita semeou ventos e agora
colhe tempestades. Mas tal pôde acontecer porque a elite de esquerda
alienou a fidelidade de amplos estratos da classe média autóctone."
Um fascismo
americano?
No fim de 2015
começaram a surgir na imprensa americana artigos que assimilam a
campanha de Trump ao fascismo. Há uma interrogação recorrente
sobre a repetição da História: "Poderia [o fascismo]
acontecer aqui?"
Robert Paxton,
historiador americano do fascismo, preveniu em Dezembro contra o
abuso das analogias históricas. Prefere ver o fenómeno como um
"nacionalismo populista". Mas não encerrou o debate. O
historiador britânico Andrew Roberts apontou Mussolini como "a
matriz secreta de Trump." O neoconservador Daniel Pipes fala em
"neofascismo" e vê Trump como "um perigo interno
inédito desde há 150 anos, uma ameaça que poderia minar a
sociedade americana e pôr em causa a posição da América no
mundo".
Outro e mais célebre
neoconservador, Robert Kagan, voltou à carga em Maio com um artigo
intitulado "Eis como o fascismo chega à América." Trump
poderia conquistar o poder "apesar do seu partido, catapultado
para a Casa Branca por uma devota massa de seguidores". Se ele
vencesse, "imaginem o poder que teria". Kagan vai votar em
Hillary.
Não interessa
prolongar os exemplos, apenas sublinhar que não se trata de um
debate histórico mas de um combate político: o termo "fascismo"
serve para sublinhar a "perigosidade política" do
milionário. A América é uma sociedade individualista incompatível
com fascismos.
Escrevendo no fim
das primárias republicanas, Jacob Weisberg, director do Slate, frisa
que Trump não tem uma ideologia, é um oportunista. "O conflito
na campanha de 2016 já não é entre Trump e os seus opositores
republicanos: agora, é Trump contra o sistema político americano.
(...) Os fundadores americanos designaram uma ordem constitucional
para prevenir o exercício de um poder tirânico. Podemos crer na
eficácia do sistema, mas sem desejar vê-lo testado desta maneira."
Enfim: "Se os republicanos sãos falharam em eliminar Trump,
esta tarefa caberá a Hillary Clinton."
O "factor
humano"
"O estilo é o
homem." Com a sua vulgaridade, Trump é um catalisador das
frustrações. Ao mesmo tempo, desafia as instituições e a incerta
a ordem mundial. Poderá, se for eleito, abandonar os seus temas —
o ódio à imigração, a islamofobia, o desprezo pelas instituições,
o proteccionismo, o isolacionismo, a hostilidade à NATO e à UE?
Talvez os "tempere" mas renegá-los enfraqueceria a sua
base. O seu programa é uma garantia de conflito entre os poderes.
Fala-se muito no
factor "temperamento". A História conhece demasiados
precedentes em que a personalidade dos líderes conduziu os povos
umas vezes à redenção, outras à catástrofe. Egocêntrico,
imprevisível e agressivo, como se comportaria no poder? Anotou
Paxton numa entrevista: "O perigo parece-me ser o risco de
bloqueio entre Trump e o Congresso ou entre Trump e os tribunais, ou
que ele assuma acções inconstitucionais e as pessoas tenham medo de
lhe dizer não."
Muitas das suas
ideias já entraram nos espíritos e não desaparecerão tão
depressa, mesmo se ele perder. Não seria apenas uma política
externa à deriva o que enfraqueceria os EUA e semearia insegurança
no mundo. Também uma América em convulsão interna seria uma ameaça
para "o resto".
Tudo isto parece
verdade. Mas, ensina a História, as instituições americanas sempre
acabaram por absorver as convulsões e as ameaças à democracia.
Pode demorar, mas não deixarão de funcionar.
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