Declarações “esclarecedoras”
/ “confirmadoras” e absolutamente chocantes de Medina
OVOODOCORVO
Lisboa
possa “ter turistas a mais”? Sim, mas...
Medina viu-se
obrigado a clarificar declarações sobre turismo
Face às críticas,
o autarca veio dizer que também defendeu que é preciso “gerir as
transformações” que o turismo traz
“Oiço por vezes
aquela pergunta sobre se Lisboa já tem turistas a mais.
Pessoalmente, não sei que conceito é esse, não sei o que é ter
turistas a mais”
Horas depois de ter
afirmado que desconhece “o que é” uma cidade “ter turistas a
mais”, e que por esse ser “um conceito sem sentido” mais vale
não se preocupar com ele, o presidente da Câmara de Lisboa viu-se
obrigado a vir a público explicitar as suas declarações. Fernando
Medina confirma a sua veracidade mas alega que elas não reflectem
uma outra ideia que foi por si defendida: a de que “erra quem
ignorar e não souber gerir as transformações que o turismo está a
trazer à cidade de Lisboa”.
Medina
viu-se obrigado a clarificar declarações sobre turismo
“Oiço aí por
vezes aquela pergunta muito interessante que é saber se Portugal, e
Lisboa em particular, já tem turistas a mais. Pessoalmente, tenho de
dizer que não sei que conceito é esse, não sei o que é ter
turistas a mais”, afirmou o autarca na manhã de ontem, na sessão
de abertura da terceira Cimeira do Turismo Português.
Nesse mesmo fórum,
Fernando Medina acrescentou que “também não saberia lidar com o
conceito” caso o conhecesse. “Isto é, alguém com turistas a
mais, o que faz com esses turistas a mais? Podia ser a reprodução
daquele candidato americano, de construir um muro, podia ser outra
solução qualquer, não sei”, disse o presidente da câmara.
“Para mim, esse
conceito não existe. É um conceito sem sentido. Como de um conceito
sem sentido, não ter solução para lidar com ele, mais vale não me
preocupar com essa matéria”, afirmou ainda.
Antes de Fernando
Medina, também o primeiro-ministro tinha dito não estar preocupado
com o aumento do turismo em Lisboa. “É com satisfação que vejo
que agora se discute se há turismo a mais em algumas zonas da
cidade, que há anos eram zonas abandonadas e em decadência”,
disse António Costa.
Dirigindo-se a
Fernando Medina, que lhe sucedeu na presidência da Câmara de
Lisboa, o primeiro-ministro afirmou ter “inveja” do desempenho
actual da capital, depois de nove anos em que “Estado, municípios
e privados foram capazes de transformar territórios ao abandono”.
Já durante a tarde,
as declarações de Fernando Medina foram tema de debate na
Assembleia Municipal de Lisboa. O assunto foi levantado pelo deputado
Ricardo Robles, que as classificou como, “no mínimo, chocantes”.
“Não são
espantosas nem surpreendentes estas declarações porque tem sido
essa a política deste executivo. O turismo é quem mais ordena na
cidade”, sustentou o líder da bancada do BE.
“Se não quer
discutir o problema pode não o fazer, mas pelo menos perceba a
realidade com que têm de lidar colectividades e habitantes da
cidade, sobretudo do centro histórico”, disse ainda o bloquista a
Fernando Medina, avisando-o de que iria “ter de lidar” com o
problema “a muito curto prazo”.
Em resposta, o
presidente da câmara confirmou as citações que lhe são
atribuídas, mas sublinhou que elas foram seguidas de “uma terceira
afirmação” que os órgãos de comunicação social não
reproduziram. Segundo explicou, a última ideia por si transmitida na
Cimeira do Turismo Português foi a de que “erra quem ignorar e não
souber gerir as transformações que o turismo está a trazer à
cidade de Lisboa”, por exemplo ao nível da “habitação,
qualidade de vida dos residentes, ruído e bairros históricos”.
“É um erro achar
que a cidade é a mesma e não tem de adaptar as suas políticas a
uma realidade que mudou”, afirmou Fernando Medina na assembleia
municipal, defendendo que só assim Lisboa terá “um turismo
sustentável”.
Também o presidente
da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, que tinha sido referido
antes por Ricardo Robles como alguém que se tem mostrado preocupado
com a explosão do turismo em Lisboa, interveio no debate.
“Nunca me ouviu
fazer um discurso contra o turismo e contra os turistas”, afirmou
Miguel Coelho, acrescentando que esse “é um discurso de direita”.
“O meu discurso é em defesa da qualidade de vida dos residentes da
cidade de Lisboa”, frisou o autarca de Santa Maria Maior, que
considera que se há hoje “residentes que são expulsos das suas
casas” (graças àquilo que designou como “uma autêntica caça à
habitação”) é devido a dois factores: a lei das rendas e “a
proliferação do alojamento local de forma descontrolada”.
Nesta sessão da
assembleia municipal, Fernando Medina anunciou que foi alcançado um
acordo com o Instituto Português de Oncologia (IPO) para que “as
suas instalações se mantenham” na Praça de Espanha “e possam
ser reforçadas e melhoradas”. Segundo Fernando Medina, será
construído no local “um novo edifício de ambulatório no actual
terreno do IPO, que é municipal”. A Baixa do Porto vai voltar a
ter diariamente cinema, com a reabertura das duas salas-estúdio do
Cinema Trindade, desactivadas desde o final de 2000.
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