O
sim, o não e o nim no PS
DIRECÇÃO EDITORIAL
25/09/2016 – PÚBLICO
O
imposto sobre o imobiliário é sinal de viragem ideológica no
partido?
Algum dia haveria de
começar o debate interno no PS, aberto pela chegada ao poder de
António Costa, com a sua solução de alianças à esquerda para
segurar o Governo. Podia ter sido mais cedo, porque essa solução
quebrou a opção tradicional dos socialistas de procurarem
entendimentos à sua direita, mas a regra é dar espaço às
lideranças para fazerem o seu caminho, eximindo-se os críticos ao
ónus penalizador de quem nega o benefício da dúvida a quem chega.
Mesmo assim, não faltou quem desde o início levantasse a voz contra
esta “aliança contranatura”, como fez Francisco Assis no último
congresso do partido, mas essa oposição interna tem sido em geral
muito discreta. Por vezes há um ou outro momento mais constrangedor,
como quando aflorou a ideia de que haveria sectores próximos do
primeiro-ministro abertos à renegociação da dívida. Ou há quem
não perca a oportunidade de chamar a atenção para os perigos de o
PS ser contaminado pelo novo “vírus ideológico” do
“neopopulismo europeu”, cujo expoente em Portugal encarna no
Bloco de Esquerda. Mais uma vez é Assis quem dá a cara, por vezes
Sérgio Sousa Pinto, e pouco mais.
O novo imposto sobre
o imobiliário teve o condão de desfazer o nó e dar o verdadeiro
tiro de partida do debate ideológico dentro do Partido Socialista
(págs. 6/7) — o que só pode ser positivo para a democracia. Mas
também é muito interessante porque deixa muito claro que, neste
momento, nada é óbvio entre os socialistas: tanto da parte dos que
estão de alma e coração com António Costa, como João Galamba e
Ana Catarina Mendes; como do lado de quem está contra, casos de
Sousa Pinto ou de António Galamba. A acrescentar a estas “posições
extremas” não deixa de ser curioso registar a prudência com que
João Cravinho, uma referência da militância histórica mais à
esquerda, analisa a presente situação. Cravinho não escamoteia os
indícios de que se poderá estar a assistir a um processo que “leva
a transformações ideológicas” no PS, cujas consequências levam
a uma bipolarização esquerda-direita sem retorno.
Outra
particularidade tem que ver com o núcleo duro de António Costa, que
está longe de ser homogéneo. É verdade que João Galamba e Ana
Catarina Mendes rejeitam que o novo imposto seja espelho de
alterações radicais, mas a diferença é que o primeiro encara as
alianças à esquerda como a única via para salvar o PS da hecatombe
eleitoral e política dos seus congéneres europeus. Já a
secretária-geral adjunta prefere fazer uma profissão de fé na
matriz identitária do partido, como se o PS não tivesse estado
sempre do outro lado da barricada dos seus actuais parceiros. Quanto
aos actuais opositores de Costa, o seu problema é a dispersão. Os
seguristas continuam perdidos no ressentimento do processo interno,
como é patente nas graves acusações de António Galamba, enquanto
personalidades como Sérgio Sousa Pinto vão disparando sozinhas,
embora com a acutilância de sempre: “O problema surge quando uma
deputada do BE expõe ao PS a mundivisão do Bloco: anticapitalista,
anti-poupança, antiacumulação.” Não é nada claro quem vai
vencer este debate.
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