“Medina
evitou abordar o assunto.”
OVOODOCORVO
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Alfama
quer manter a alma lisboeta livre da invasão de casas para turistas
Liliana Borges
13/09/2016 –
PÚBLICO
O
autarca de Santa Maria Maior denuncia a perseguição diária das
imobiliárias aos moradores do centro histórico da cidade.
Por ocasião da
inauguração da exposição fotográfica Alma de Alfama da artista
Camilla Watson, que decorreu na segunda-feira ao final do dia, o
presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Lisboa, deixou
alguns recados à câmara municipal e ao Governo. Miguel Coelho
lembrou a importância de manter os lisboetas no centro dos bairros
típicos da capital e de controlar o crescimento do alojamento local,
que está a empurrar os moradores portugueses para fora da cidade.
“Queremos mostrar
os nossos rostos, as nossas caras, as pessoas da freguesia, as
pessoas do bairro de Alfama, as pessoas que fizeram História e as
que continuam a fazer História. Queremos mostrar as pessoas que
lutam todos os dias para que Alfama continue a ser Alfama”,
defendeu. É este um dos objectivos da exposição, que o o autarca
elogia destacando a importância de mostrar a quem visita Alfama,
quer aos turistas portugueses quer aos turistas estrangeiros, “as
figuras extraordinárias que dão vida ao bairro”.
Na exposição que
perpetua alguns dos rostos mais conhecidos de um dos mais
tradicionais bairros lisboetas, o presidente da Junta de Freguesia de
Santa Maria Maior sublinhou a importância de preservar as tradições
e quotidiano destas ruas, garantindo, para isso, que as suas portas
sejam de quem lá vive e não de quem lá vai passar férias.
Miguel Coelho
dirigiu-se ao presidente da câmara de Lisboa, também presente na
cerimónia, sublinhando a certeza de que também Fernando Medina
“quer preservar a qualidade de vida das pessoas que moram na cidade
de Lisboa”. Ainda assim, Miguel Coelho não se cansou de repetir
que, apesar das vantagens trazidas pelo alojamento local, tais como
"a recuperação do edificado", o fenómeno “está a ter
um efeito muito perverso na cidade”. Medina evitou abordar o
assunto.
Ao PÚBLICO, o
autarca de Santa Maria Maior reforça que o alojamento local "está
a contribuir de uma forma muito acelerada para expulsar as pessoas
que aqui moram há dezenas de anos e aos seus descendentes”.
Miguel Coelho
denuncia uma “actividade completamente desregulada”, onde, no
caso de Alfama, exemplifica, “várias imobiliárias estão
permanentemente à caça de pessoas e andares inteiros”. “Passam
o dia a intimar as pessoas a sair, sob as mais variadas propostas e
argumentações, para poderem transformar os imóveis em alojamento
local”, conta. O alojamento turístico "é função dos
hotéis, não dos bairros”, assevera.
“Esse fenómeno
conjugado com a lei das rendas, que permite que a simples assinatura
do técnico de obra obrigue à desocupação de quem lá está
dentro, é o suficiente e tem sido aproveitado para expulsar as
pessoas, dizendo que o contrato acabou”, critica.
Miguel Coelho afirma
que esta gentrificação “é uma forma imoral de correr com pessoas
que têm o direito de passar o resto dos dias no sítio onde
moraram”. Além disso, os jovens do bairro não conseguem arrendar
ou comprar casas, face a este negócio “extraordinariamente
rentável que ficou acessível apenas para os turistas estrangeiros”.
“As juntas de
freguesia não têm nenhum tipo de poder neste capítulo, mas podemos
denunciar, apresentar propostas e manter posição firme em relação
à matéria”, explica o autarca. O apelo segue por isso para o
Governo, para que legisle “rapidamente” sobre estas matérias e
que “não se limite a constituir grupos de trabalho”.
“A câmara de
Lisboa tem de reflectir muito bem sobre eventuais medidas de travão
e controlo, à semelhança do que aconteceu em Barcelona e Berlim.
Temos de analisar a nossa própria realidade e encontrar o nosso
caminho para corrigir esta situação”, conclui o presidente da
Junta de Freguesia.
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