segunda-feira, 29 de abril de 2013

Gaspar isolado no governo.Gaspar o provocador.


Gaspar isolado no governo.


Por Susete Francisco
publicado em 29 Abr 2013 in (jornal) i online

Vítor Gaspar ficou totalmente isolado no último Conselho de Ministros, com Pedro Passos Coelho menos assertivo que o habitual na defesa do ministro das Finanças. Gaspar viu praticamente todo o executivo virar--se contra as propostas que apresentou na última sexta-feira. Hoje os ministros reúnem-se novamente, para debater o Documento de Estratégia Orçamental e as medidas substitutivas das normas chumbadas pelo Tribunal Constitucional (TC).

Ao que o i apurou junto de fontes da maioria, só Luís Marques Guedes e Poiares Maduro – os dois ministros recém-chegados ao executivo, o que poderá explicar alguma reserva – não alinharam no “tiro ao Gaspar” da última reunião. E, ao contrário do que vinha sendo habitual nos últimos meses, o próprio Passos Coelho foi bem mais contido na defesa das propostas apresentadas por Gaspar. Isto não só deixa antever a possibilidade de mudanças nas medidas, como uma alteração da relação de forças no governo – Gaspar tem agora quase todo o executivo a fazer peso do outro lado da balança.

Aliás, a permanência do ministro no governo é já posta em causa. De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa no domingo, na TVI, o ministro estará mesmo a preparar-se para sair: “Quer sair bem no filme” e se não conseguiu vencer “a culpa é dos outros”, disse. Aquando da discussão do Orçamento do Estado, Vítor Gaspar pensou em abandonar funções, pondo mesmo o lugar à disposição. Acabou por ser travado por Passos Coelho.

Depois dos problemas dos últimos Conselhos de Ministros, que saltaram para a imprensa, o próprio Vítor Gaspar pareceu ontem responder aos críticos. “É necessário consenso político esclarecido e generalizado, é exigida uma política de verdade por contraste com uma política de mentira, insulto e dissimulação”, disse, na tomada de posse dos responsáveis da Comissão da Normalização Contabilística e da Unidade Técnica de Acompanhamento das Parcerias Público-Privadas.

Hoje os ministros voltam a reunir-se para debater as medidas que têm de ser definidas para compensar o chumbo do Tribunal Constitucional de quatro normas do Orçamento do Estado para este ano. E ainda os cortes de 4 mil milhões de euros de médio e longo prazo que ficarão definidos no Documento de Estratégia Orçamental, que tem de ser apresentado em Bruxelas no âmbito do Semestre Europeu.

Perante as notícias de desagregação do governo, o primeiro-ministro garantiu ontem que “o governo tem trabalhado com grande coesão e de forma muito intensa para que todos os objectivos que traçámos possam ser respeitados”, não dizendo mais nada sobre aquilo que considerou “rumores”.

Certo é que o impasse entre os ministros continua e não é certo que consigam chegar a um acordo rapidamente. Paulo Portas terá garantido que não assina um documento que inscreva cortes nas pensões mais baixas, apesar de uma hipótese de ruptura no executivo estar fora de questão, como o i noticiou. Com esta posição, Portas e os ministros do PSD podem levar a uma inversão de forças entre o ministro das Finanças e a Economia. Aliás, os centristas, na última reunião do Conselho Nacional do partido pediram até que o ministro da Economia tivesse estatuto igual ao das Finanças, passando a ser de Estado.

O Conselho de Ministros deverá, no entanto, ser mais curto que os anteriores, uma vez que vários ministros e o próprio primeiro-ministro têm agenda pública marcada para o início da tarde. Passos estará nas conferências do Estoril, Gaspar e Santos Pereira estarão na Assembleia da República.


Gaspar o provocador.
Por Eduardo Oliveira Silva
publicado em 29 Abr 2013 in (jornal) i online

Durante o dia de hoje devem definir-se aspectos concretos do plano do governo para os cortes estruturais e também os que estão devem substituir--se às medidas vetadas pelo Tribunal Constitucional. É, porém, de esperar que os aspectos concretos das duas matérias continuem no segredo da veneranda presidência do conselho.

A primeira das matérias tem de ser vertida para o Documento de Estratégia Orçamental, que se estende deste ano até 2017. Hoje é a data-limite para se conhecerem os termos genéricos do documento. É nele que estão inseridos os célebres 4 mil milhões de cortes estruturais. O segundo é, pura e simplesmente, o Orçamento Rectificativo, que tem de ser apresentado este mês e pressupõe medidas imediatas.

Admitindo que os assuntos sejam mesmo despachados hoje sem mais dramas, cenas e ranger de dentes; esperando que impere um bom senso que permita que as medidas não sejam um desmentido cabal ao relançamento anunciado há dias por Santos Pereira, há ainda uma coisa muito importante a esclarecer: afinal o que quer Vítor Gaspar?

Apesar do discurso feito ontem por Passos Coelho e das palavras falsamente consensuais de Gaspar noutra intervenção, as mais recentes posições concretas do número dois do governo apontam de forma óbvia para um cenário de provocação pura e simples ao número dois da coligação. Ou seja, Gaspar afronta Portas. E para quê? A resposta é evidente: Gaspar quer que Passos o substitua.

Maquiavélico? Certamente que não. Sair por iniciativa de Passos é a solução que lhe resta para, mais tarde, poder dizer que que não teve culpa nenhuma e que não o deixaram acabar o trabalho. Mesmo que não o grite pelos telhados e parangonas da comunicação, é isso que dirá na rádio alcatifa dos areópagos do poder onde cresceu e se desenvolveu, cá e fora do país. Um dia até pode ser considerado um quase génio a quem tiraram o tapete, como arvoraram Silva Lopes e Braga de Macedo, que, por manifesta ignorância, chegam a ser comparados com Ernâni Lopes.

Sair por vontade própria (como deveria, para fazer face aos seus erros e resultados económicos e financeiros) seria para Gaspar o reconhecimento de um fracasso pessoal, total e absoluto, a que também ficariam inequivocamente ligadas as instâncias que comandam a troika, nomeadamente o BCE, o FMI e a União Europeia.

Vítor Gaspar não é um técnico puro, nem nunca foi. É fundamentalmente um político com uma especialidade debaixo do braço ou um técnico que virou político. Mexe-se em ambientes em que a competência técnica não é um valor transcendente, mas apenas uma percentagem da quota para o lugar.

Quem acredita que Strauss- Kahn ou Lagarde eram os melhores para o FMI, quando lá estão por ser franceses e por terem apoios de lóbis? Quem pensa que Barroso era o político mais sábio da Europa? Para não citar mais exemplos numa lista inesgotável, basta evocar mais um e também português: Vítor Constâncio. Falar de competência para justificar a sua posição é pura e simplesmente hilariante. Os exemplos podiam ser multiplicados numa escala inesgotável. Vítor Gaspar não é excepção. Por mais que não queira, é um político, mais um…

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