“Estamos a afundar-nos”. “O País está a ser destruido”
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Manuela Ferreira Leite, a TV star is born. “Estamos a afundar-nos”
Por Pedro Rainho, publicado em 12 Abr 2013 -in (jornal) i online
Ex- líder do PSD promete ser mais uma dor de cabeça para o governo. Na estreia do seu programa, Ferreira Leite diz que “o país está a ser destruído”A ex-líder do PSD Manuela Ferreira Leite estreou-se no seu novo espaço de opinião na TVI24, na quarta-feira, com duras críticas a Passos Coelho e a convicção de que “o país está a ser destruído” por este governo. Se o executivo não inverter a política, a ex-ministra das Finanças garante que iremos afundar-nos.
Ferreira Leite deixou claro que, no seu novo espaço de comentário, não vai poupar Passos Coelho, com quem disputou a liderança do partido em Maio de 2008 (ver texto ao lado), e criticou a dramatização feita pelo primeiro-ministro à volta do chumbo do Tribunal Constitucional. “Fiquei convicta de que tinha saído a sorte grande ao governo”, disse a ex- -líder do PSD, com o argumento de que a decisão dos juízes do Palácio Ratton poderia servir para retirar “um pouco a pressão de mais 1300 milhões de euros nos cortes das despesas públicas e nas receitas que eram cobradas”.
Passos Coelho seguiu outro caminho e falou mesmo no risco de um segundo resgate, mas Manuela Ferreira Leite, acompanhando os argumentos do PS, deixou claro que, “se houver necessidade de um segundo resgate é porque já havia essa necessidade, não é por causa disto agora”.
A ex-líder do PSD está convencida que os cortes de 4 mil milhões “não são exequíveis e não vão ser executados” e subscreve a ideia de que só uma “frente unida de todos” permitiria ao país dar a volta por cima. Nada de novo, porém, quanto ao destinatário das mensagens da ex- -líder do PSD. Pedro Passos Coelho já se terá habituado às críticas em praça pública vindas do próprio partido - é que há vida para além deste PSD.
Nos últimos dias, sobretudo motivados pela segunda rejeição consecutiva por inconstitucionalidade de um Orçamento do Estado e pela demora em mudar alguns ministros, várias vozes social- -democratas levantaram-se contra as opções do governo.
António Capucho - que diversas vezes defendeu a importância da renovação de alguns dos actuais governantes - disse ainda ontem, no Porto, que deveria ser “dada uma última oportunidade” ao executivo de Passos Coelho, mas que a composição ministerial não podia continuar sem uma “remodelação credível” e “urgente”. Vítor Gaspar estaria, para o ex-conselheiro de Estado, na lista dos substituíveis, dando lugar a alguém em quem o “país acreditasse no que anda a fazer”.
Mais longe foi Pacheco Pereira, um dos principais apoiantes de Ferreira Leite quando era líder do PSD, que admitiu existirem razões para demitir o governo. “O conjunto destas coisas justificaria a demissão do governo ou a dissolução da Assembleia”, disse o social-democrata na noite de terça-feira na SIC Notícias, referindo-se sobretudo ao despacho do ministro das Finanças, Vítor Gaspar, a congelar os gastos em vários organismos públicos.
Apesar destes sinais públicos de descontentamento interno, Paulo Rangel garante que a unidade entre os sociais- -democratas está garantida. “O PSD sempre foi um partido plural, mas é natural que num momento em que se tomam certas decisões o debate se intensifique”, diz Paulo Rangel, que disputou a liderança com o actual primeiro-ministro nas últimas eleições internas.
O eurodeputado reconhece, porém, que a ex-ministra das Finanças e o actual primeiro-ministro personificam duas faces de um mesmo partido. “Manuela Ferreira Leite é uma construtora do Estado social, preza muito o papel da administração pública e os direitos sociais”, ao passo que o chefe do governo representa uma “visão mais liberal” dentro do partido, nascida da experiência do primeiro-ministro nas juventudes partidárias e na “saída para a sociedade civil”. A unir estas sensibilidades está o “rigor que gostam de imprimir na execução das contas públicas”, destaca Rangel.
No seu comentário - em que conseguiu prender a atenção de 100 mil espectadores, mais 30 mil que o habitual para aquele horário -, Manuela Ferreira Leite chegou a falar numa “teatralização” do governo em torno da decisão do Constitucional. “Este valor que está em causa representa pouco mais de 1 % de toda a despesa pública. Se lhe disserem em sua casa que precisa de reduzir a despesa em 1 %, pensa que vai desabar o mundo? Qualquer de nós é capaz de reduzir a despesa 1%”.
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