Multas por preços acima da tabela
O inquérito do Observatório de Turismo de Lisboa revela que 32% dos cruzeiristas deslocam-se de táxi em Lisboa. Assim, "não se compreende como é que no terminal de Sta. Apolónia não há uma praça de táxis como deve ser", afirma Carlos Ramos, presidente da Federação Portuguesa do Táxi. "Nós já manifestámos a nossa discordância relativamente à forma como estão montadas as praças de táxis ao pé dos terminais", diz o responsável, adiantando que a Federação, conjuntamente com a ANTRAL (uma outra associação do sector), está a trabalhar "numa proposta de credibilização dos táxis". A 17 de Abril, dia em que Lisboa recebeu cerca de 8500 turistas de cruzeiros, a PSP deteve um taxista e multou quatro no Cais da Rocha do Conde de Óbidos por praticarem preços acima da tabela. Também em Santa Apolónia, um destes dias, alguns taxistas tentavam convencer os turistas a fazer um tour pela cidade por 220 euros. Trata-se de uma situação que, segundo Carlos Ramos, é frequente. "O Porto e a Câmara têm responsabilidade nisso", diz, apelando a que se "arranje uma solução para o futuro". J.P.P.
Vêm de longe e vão para longe, mas perdem-se à chegada a Lisboa
Por João Pedro Pincha in Público
29/04/2013
Os turistas dos cruzeiros gostam de Lisboa e de passear a pé por ela. Muitos deles decidem explorar a cidade pelos seus meios, mas o passeio pode tornar-se longo - a informação junto aos terminais é escassa
"Lovely, lovely" é o comentário que mais se ouve no cais do Jardim do Tabaco aos turistas que começam a regressar ao Queen Elizabeth, o navio de cruzeiro com capacidade para cerca de 2100 passageiros que, por esta altura, estará no mar alto, de volta a Inglaterra. É o termo de um cruzeiro que começou em Southampton e teve a capital portuguesa como primeira escala.
Lisboa é "lovely", mas Malcolm e Tina Stevens, originários do Reino Unido, perderam-se mal saíram do navio. Queriam ir para o Castelo e foram dar ao Panteão Nacional, bastante perto do Jardim do Tabaco mas relativamente longe do centro da cidade. Segundo o casal, o local de desembarque inicialmente previsto foi alterado, o que provocou o desnorte, uma vez que não conseguiram localizar o cais no mapa fornecido a bordo.
À saída do navio, contudo, também não viram qualquer sinalética que indicasse onde era a Baixa, o Castelo ou mesmo o Panteão Nacional. Por isso, em vez de seguirem logo para o Castelo, demoraram duas horas a perceber como ir do Campo de Santa Clara, onde fica o Panteão, até às portas da fortaleza medieval da capital.
"Só não me perdi porque havia a bordo um cavalheiro que explicou tudo", diz outro passageiro, também britânico, que está em Lisboa pela segunda vez. Segundo relata, "houve uma apresentação no navio sobre Lisboa" e foi dado aos passageiros um mapa para se orientarem na cidade.
Quando o Queen Elizabeth chegou, a maioria dos turistas optou por conhecer a cidade através dos autocarros de sightseeing que já esperavam o seu desembarque. Quem escolheu passear por sua própria conta chegou ao parque de estacionamento e não viu nenhuma indicação. "A boa sinalização contribui para melhorar a experiência do passageiro de cruzeiro na cidade", admite Andreia Ventura, administradora do Porto de Lisboa.
Neste sentido, a administração do porto "tem vindo a colaborar com a Câmara Municipal de Lisboa no sentido de melhorar a sinalética existente junto aos terminais e também na futura identificação de diferentes percursos turísticos na cidade", diz a responsável.
Em Santa Apolónia, a escassa distância do Jardim do Tabaco, o cenário é idêntico: os passageiros saem dos cruzeiros e não encontram sequer uma placa que lhes indique a direcção do centro da cidade. Os turistas alemães que vieram no Albatros, na quarta-feira passada, são de poucas falas mas dizem que chegaram ao centro através da carreira 728, cuja paragem se situa em frente ao terminal e que eles descobriram "procurando".
"Não temos queixas", diz ATL
É para esta zona da cidade que está previsto o novo terminal de cruzeiros, cujo concurso de construção deverá ser lançado durante o mês de Maio. Quando estiver pronto, toda a operação de navios de cruzeiro será concentrada aqui, admitindo Andreia Ventura que "as restantes infra-estruturas existentes poderão ser utilizadas nos dias em que o número de navios em porto assim o justifique".
Ou seja, o terminal de cruzeiros de Alcântara, projectado por Pardal Monteiro e aberto ao público em 1942, com os célebres painéis de Almada Negreiros, tem um futuro incerto. Por agora, recebe cruzeiros como o Crown Princess, com capacidade para 3080 passageiros.
Dois desses passageiros, Rick e Sharon, canadianos, mostram-se muito interessados em perceber por que é que as ruas de Lisboa estão tão cheias de gente. É 25 de Abril, e depois de perceberem a importância da data, arriscam: "Provavelmente foi por isso que não conseguimos comprar bilhetes na estação de comboios". Antes das dificuldades em comprar bilhetes, porém, tiveram dificuldade em encontrar a própria estação.
"Chegámos aqui fora e não vimos um único sinal a dizer onde era a estação", dizem, contando que seguiram em direcção às Docas - o sentido oposto - antes de serem "ajudados por um senhor idoso muito simpático". "Não percebo, em todos os outros portos há gente a querer dar-nos informações, ansiosos por nos levar para autocarros. Aqui não havia ninguém", comenta Rick.
Mapa pouco claro
Duas amigas, uma britânica e outra americana, queriam precisamente apanhar um autocarro de sightseeing. "Foi bastante difícil encontrar a paragem, não havia aqui nenhum à espera e o mapa não era nada claro", contam.
A zona de desembarque de Alcântara tem um mapa publicitário de Lisboa com os percursos de uma das empresas de sightseeing a operar na cidade. Ao lado, um painel da CP informa que Alcântara tem uma estação de caminhos-de-ferro, mas não fornece qualquer indicação sobre que direcção tomar uma vez fora do terminal.
Um casal americano, do Texas, teve a mesma dificuldade que Rick e Sharon em encontrar a estação e também em comprar bilhetes. "Não temos recebido queixas" sobre a sinalização dos terminais, garante Vítor Costa, director-geral do Turismo de Lisboa. "De qualquer modo consideramos indispensável que se melhore a sinalização, designadamente para o percurso pedonal até à Baixa e Alfama", acrescenta.
De acordo com a administração do porto, em Fevereiro de 2012 foi criado o Lisbon Cruise Club, "que conta já com 32 membros e junta entidades públicas e privadas com o objectivo de contribuir para a melhoria da actividade de cruzeiros", adianta Andreia Ventura. Neste clube, há "um grupo de entidades que tem vindo a trabalhar para encontrar soluções de melhoria da recepção dos turistas de cruzeiro em Lisboa", afirma.
Segundo os resultados de um inquérito do Observatório do Turismo de Lisboa divulgado na semana passada, 44,8% dos turistas de cruzeiro que visitam a cidade preferem fazê-lo pelos seus próprios meios e 67,2% deslocam-se a pé.
Apesar da ausência de sinalização à saída dos terminais, a "rapidez no acesso à cidade" ficou em terceiro lugar na lista daquilo que os turistas mais gostaram em Lisboa, no ano passado.
Em 2013, a administração do porto espera receber 355 navios de cruzeiro nas águas do Tejo, o que trará à cidade cerca de 560 mil turistas - um crescimento de 7% face a 2012, ano em que Lisboa acolheu 522 mil passageiros de cruzeiros. Destes, 50,8% têm intenção de voltar. Porque, para eles, Lisboa é "lovely", mesmo que se percam à chegada.
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