Palhaçada total no Congresso do PS.
Simulacro de entendimento entre Costa e Seguro.
Costa, mais determinado e convicto, espera na sua gaiola dourada de Lisboa, cumpre o seu segundo mandato e aguarda o inevitável afundamento de Seguro, para surgir mais tarde.
"Politiqueira" pura e dura. Só Sousa Pinto, não inocentemente, tentou gritar o “Rei vai nú”…
Comparar estes jogos erosivos com a fadiga e a deslesgitimação instalada na opinião pública e a tendência crescente e necessidade imperativa dos cidadãos em participar … em suma, com o crescimento da Democracia Participativa ilustrada em baixo …
António Sérgio Rosa de Carvalho
"Sem qualquer laivo comicieiro na voz, Sousa Pinto foi inflexível. "Não podemos pretender ser rigorosos no diagnóstico dos males da Europa e estridentes na sua denúncia, mas depois furtarmo-nos por conveniência a enfrentar os sinais da nossa própria mediocridade. A complacência com interesses minúsculos trouxeram-nos a este irrespirável impasse",
Costa assegura unidade a Seguro, mas Sousa Pinto quebra unanimismo
Por São José Almeida e Nuno Sá Lourenço in Público
28/04/2013
O dia foi de Seguro. A unanimidade em torno do líder esteve lado a lado com as críticas a Cavaco e a recusa de diálogo com o Governo. Costa rendeu-se. Só Sérgio Sousa Pinto estragou a festa
O XIX Congresso do PS anunciava-se assim: o palco e o momento oficial para enterrar o machado de guerra entre António José Seguro e António Costa, que equacionou e depois desistiu de se candidatar a secretário-geral contra o líder, reeleito há quinze dias pelo voto directo dos militantes. E o presidente da Câmara de Lisboa fez questão de o fazer logo ontem de manhã ao afirmar que Seguro tem perante si "todo o Partido Socialista" e apontando para as próximas eleições autárquicas, europeias e legislativas, garantiu: "Estamos aqui todos juntos, porque juntos temos confiança de que saberemos vencer, juntos somos fortes, juntos somos imbatíveis."
Com esta afirmação de pacificação interna, Costa dava também um passo em relação ao futuro, já que ao falar expressamente em unidade para o ciclo eleitoral que inclui legislativas, afastava formalmente a hipótese de se vir a candidatar a secretário-geral antes das próximas eleições para a Assembleia da República, sejam estas antecipadas ou não.
Mas se a imagem que transparecia do congresso era a de paz e harmonia entre os dois homens que há décadas e desde a JS são adversários, o verniz da pacificação interna foi quebrado por Sérgio Sousa Pinto, que também começou o seu percurso partidário na JS, de que foi líder, tal como Seguro. Em tom calmo e pausado, mas sem hesitar um segundo no que ali queria dizer e sem poupar nas palavras, Sousa Pinto disparou, referindo-se ao próprio PS: "O nosso principal problema é de credibilidade. Enquanto não nos apresentarmos diante do país como protagonistas credíveis de mudança e de ruptura, estaremos a faltar ao povo português. Quando fingimos que o problema não existe, por cálculo, por manha, prestamos um péssimo serviço ao país e ao partido."
Ao início da tarde e mesmo que o Congresso tivesse feito de conta que não ouviu e que Sousa Pinto tenha ficado sem resposta, ficava assim exposto que permanece uma desconfiança larvar em relação à direcção de Seguro. Ficou claro que há quem não se conforma com os consensos internos e com a unidade cimentada pela possibilidade da eventual conquista do poder.
Sem qualquer laivo comicieiro na voz, Sousa Pinto foi inflexível. "Não podemos pretender ser rigorosos no diagnóstico dos males da Europa e estridentes na sua denúncia, mas depois furtarmo-nos por conveniência a enfrentar os sinais da nossa própria mediocridade. A complacência com interesses minúsculos trouxeram-nos a este irrespirável impasse", declarou o agora deputado à Assembleia da República ex-eurodeputado.
De resto, os elogios a Seguro multiplicaram-se como uma constante nos discursos: a referência a que o actual secretário-geral do PS vai ser o próximo primeiro-ministro de Portugal. Tanto quanto foi reproduzida em vários tons e com registos diversos a ideia de que o PS recusa entrar em "consenso" com o Governo e aceitar os convites que tem recebido do Executivo para dialogar e entrar em acordo sobre a reforma do Estado.
O novo porta-voz do Governo
A recusa da ideia de acordo com o Governo do PSD e do CDS foi uma constante ao longo do dia, no qual os socialistas não pouparam as críticas ao Presidente da República em que se destacou Pedro Silva Pereira que disse ser Cavaco o "novo porta-voz do Governo". Isto depois de, logo de manhã, a eurodeputada Ana Gomes ter dado o tom, parafraseando uma frase usada há décadas pelo então primeiro-ministro Cavaco Silva em relação ao Presidente Mário Soares: "Está dito que o PS só volta ao poder com eleições mas pode voltar mais cedo do que o Presidente da República deseja. Presidente que só tenho a desejar que termine com dignidade o seu mandato."
De resto, o dia foi de Seguro, que até teve direito a um elogio laudatório que pôs o Congresso a bater-lhe palmas pela primeira vez de pé. O seu par de direcção Álvaro Beleza, em tom emotivo e pessoal, afirmou: "Para além das propostas, para além dos debates, és uma pessoa excepcional." E rematou: "Conseguiste unir o partido, vais conseguir o país."
A unidade entre Seguro e Costa foi elogiada ainda por Francisco Assis, que no último Congresso se candidatou a líder e perdeu para Seguro e que no processo do actual congresso foi o principal obreiro da paz entre Seguro e Costa. Assis foi o segundo orador a pôr a sala de pé a aplaudir Seguro, mas agora também Costa, depois de elogiar a unidade entre ambos. Falou da "lucidez" e da "humildade" de Costa. Sobre Seguro garantiu: "Trabalhámos juntos com lealdade, com respeito e um objectivo: afirmar o PS." E ostentando a unidade de que foi obreiro, rematou: "Chegámos unidos a este congresso, temos condições para sair entusiasmados."
Já alguns dos que foram outrora vozes críticas de Seguro alinharam como Costa ao lado do actual líder. O ex-presidente do governo regional dos Açores, Carlos César, subiu ao palco para afirmar o seu apoio a Seguro, ainda que pedindo "um PS que procure ser o menos dogmático possível".
E os apelos a que o unanimismo não afogue o debate interno nem a diversidade política foram reafirmados pelo deputado Eduardo Cabrita: "Para pensar a Europa temos de ouvir tanto Luís Amado como Pedro Nuno Santos. É esta a nossa riqueza na pluralidade democrática."
Por Liliana Valente, publicado em 27 Abr 2013 in (jornal) i online
O presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, falou hoje no Congresso nacional do PS para mostrar o apoio a António José Seguro. Não falou do Presidente da República nem entusiasmou os congressistas que timidamente o aplaudiram e no fim, apenas parte da sala se levantou para o aplaudir. Num discurso morno, António Costa colou-se a António José Seguro, acabando, pelo menos para fora, com a ideia de desunião do partido. Depois de quase quinze minutos a dizer os vários pilares em que se deve basear a alternativa do PS, no final, Costa dirigiu-se a Maria de Belém, presidente do partido e a António José Seguro, para mostrar o seu apoio já a olhar para o calendário eleitoral: “Têm perante vós todo o PS. Estamos aqui juntos porque juntos temos confiança e conseguiremos vencer todas as batalhas”. E mencionou as próximas batalhas eleitorais desde as autárquicas este ano, às europeias, e também legislativas. Com estas palavras, Costa dá a Seguro a estabilidade do próximo ciclo eleitoral dentro do partido.
António Costa não falou do Presidente da República que na cerimónia do 25 de Abril criticou aqueles que pensam em termos de “calendário eleitoral”, nem falou do pedido de consenso feito pelo governo, mas no final lembrou que um dos pilares do PS deve ser o de “criar condições para uma grande estratégia de concertação social para tornar o dialogo político possível em Portugal.”
Mas numa altura em que o governo discute o programa de corte de quatro mil milhões de euros nas funções do Estado, Costa quis demarcar-se desta política dizendo que “bem sabemos que a crise demográfica exige reformas que garantam a sustentabilidade do nosso modelo social”, mas “queremos reformar para garantir a sustentabilidade do nosso modelo, não como um pretexto para destruir o Estado social e não para empobrecer mais Portugal e os portugueses”.
Na intervenção, António Costa elencou os vários pilares em que se deve apoiar a política socialista dos próximos tempos. O primeiro pilar é a da renegociação do Memorando de entendimento com a troika que, diz “é necessária e possível”. Necessária porque “a manter-se esta trajectória não cumpriremos nenhum dos objectivos do Memorando, nem os limites do défice, nem a dívida”. Até porque alguns dos pressupostos do Memorando falharam, como por exemplo o facto de as exportações estarem a baixar por causa da redução da procura externa.
O segundo pilar para Costa é o da estabilização da economia que liga com o terceiro pilar de negociar o próximo quadro plurianual de fundos europeu. E até neste plano menos político-partidário e mais político virado para o que deve ser a alternativa de governo do PS, o autarca de Lisboa se aproximou do discurso de António José Seguro, começando por referir a importância da política europeia para Portugal: “Há mais Europa para além da troika e mais Alemanha para além da senhor a Merkel”, lembrando as palavras do convidado do congresso, o alemão presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz.
O quarto e último pilar é mais virado para a política interna, referindo a necessidade de “criar condições para uma grande estratégia de concertação social para tornar o diálogo político possível em Portugal”.
António Costa é segundo da lista de Seguro
Por Liliana Valente, publicado em 28 Abr 2013 in (jornal i online O presidente da Câmara de Lisboa é o número dois da lista à Comissão Nacional do PS, o órgão máximo entre congressos. O primeiro nome da lista única é o ex-ministro da justiça Alberto Martins, tal como foi há dois anos.
A lista que tem sido negociada nos últimos dias é constituída por nomes próximos de Seguro, de António Costa e de Francisco Assis. Os apoiantes de Seguro têm dois terços dos nomes da lista e a até agora oposição interna um terço dos membros que vão constituir a lista única que vai ser votada amanhã de manhã. Ou seja, entre os lugares efetivos, integrará 169 elementos próximos de António José Seguro e 81 que há dois anos apoiaram a candidatura derrotada de Francisco Assis que são também, alguns próximos do presidente da Câmara de Lisboa.
A lista única formaliza a unidade que o PS quis transmitir neste congresso. António Costa deu apoio claro a Seguro e prolongou as tréguas a uma oposição interna pelo menos enquanto dure o próximo ciclo eleitoral entre eleições autárquicas, europeias e legislativas.
Sem comentários:
Enviar um comentário