quarta-feira, 10 de abril de 2013

PCP perde força nos sindicatos



PCP perde força nos sindicatos


Importante contribuinte líquido da CGTP, o poderoso SITAVA, que agrega funcionários da TAP e da manutenção aérea, pode fugir ao controlo do PCP, já na próxima semana.

Os comunistas optam pelo radicalismo sindical e já preferem arriscar uma derrota eleitoral a integrar listas unitárias, das quais perderam entretanto o controlo.
10 de Abril, 2013 por Manuel A. Magalhães in Sol online

As eleições no SITAVA, marcadas para quinta-feira, evidenciam essa opção. Os militantes do PCP abandonaram a lista A, de continuidade, que agrupa diversas tendências, para formar uma lista de comunistas. Em caso de derrota da lista B, além do revés de influência, o PCP também perde dinheiro.
OSITAVA (Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos) é um dos principais contribuintes líquidos da CGTP. E a lista A, se ganhar, não se quer ligar à FECTRANS. Esta federação dos transportes, responsável pela organização de muitas greves (Metropolitano, Carris, Fertagus), atravessa dificuldades financeiras.
O SITAVA, ao contrário, não está em crise, sobretudo porque tem um bem valioso: um parque de campismo, na costa alentejana, que foi dado em exploração à Orbitur, contra uma renda que este ano é de 80 mil euros e vai crescer: valerá três milhões de euros, ao longo das próximas duas décadas e meia. Ou seja, muito dinheiro para a FECTRANS.
Diferentes perspectivas
Os problemas entre os comunistas e as outras tendências agudizaram-se nos últimos quatro anos. Em minoria, na direcção, não conseguiram evitar o acordo de empresa nas OGMA (indústria aeronáutica) que criou o banco de horas, nem outro acordo na área do handling (transporte de bagagens nos aeroportos).
«Nós queremos salvar as empresas e salvaguardar postos de trabalho. Outros preocupam-se com a luta política nacional, sem cuidar das consequências para os trabalhadores nos seus locais de trabalho», diz ao SOL Jorge Lopes, da actual direcção e candidato pela lista A. «Foram os da lista B que optaram pela cisão», acrescenta este técnico de manutenção de aeronaves nas OGMA de Alverca.
Do lado comunista está Vítor Mesquita, líder da actual direcção, mas que passou para a lista B: «É impossível separar a política do sindicalismo», registou numa reunião de direcção em Outubro do ano passado, a cuja acta o SOL teve acesso. João Pão, outro dirigente, criticava então «a postura ingerente da CGTP», chamando «a atenção para a mistura que se tem feito de política sindical e política partidária».
Vítor Mesquita, ao SOL, nega uma clivagem ideológica, e diz que o que separa a lista B da lista A é «um problema de formação de equipas». Quanto à composição das listas, afirma: «Os militantes comunistas podem ter deixado a lista A, mas a nossa lista de certeza que não tem maioria de comunistas».
Há um dado importante nesta ‘transferência’ dos comunistas: há quatro anos, Vítor Mesquita e outros dois militantes, Luís Magalhães e Luís Rosa, foram alvo de inquéritos instaurados pelo PCP, por não terem apoiado a lista B nas eleições do SITAVA. Agora, Mesquita e Rosa estão do mesmo lado. Como o PCP queria.
PCP ‘encolhe’ noutros sectores
Se o PCP averbar uma derrota nos aeroportos, esta soma-se a outras áreas em que perdeu a maioria. Nos professores, por exemplo: o Sindicato da Grande Lisboa (SPGL) e o Sindicato dos Professores do Norte (SPN) já não têm maioria comunista. E o secretariado da federação do sector (a Fenprof) também não.
Outra área tradicionalmente dominada pelo PCP, como a das ciências e tecnologias de saúde (SCTS), deixou de o ser. «Os comunistas têm um problema. Colocam as lutas em lugar cimeiro. Quando outros os substituem e fazem um bom trabalho, os associados não voltam atrás», diz um dirigente da CGTP ao SOL. Outro problema: «Têm falta de bons quadros». No SITAVA, por falta de quadros, a lista B foi entregue à última hora. No dia 11 saber-se-á se compensou o esforço comunista.



manuel.a.magalhaes@sol.pt

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