Um país à espera
Passos Coelho e Costa querem ser
primeiro-ministro, mas o compasso de espera vai ser longo
EDITORIAL
/ PÚBLICO / 1 -2-2015.
Estamos
todos à espera e ninguém tem certezas. O tempo parece ter acabado para o
Governo de Pedro Passos Coelho e parece ainda não ter começado para a oposição
de António Costa. Ambos querem ser primeiro-ministro. Ambos acreditam que vão
conseguir. A acreditar nas sondagens, é o PS que vai ganhar as legislativas do
Outono. Mas ainda é cedo para considerar as sondagens fidedignas e há demasiadas
interrogações em órbita. Tanto Portugal como a Europa estão em movimento
acelerado.
Não há
uma coligação à direita e, se ela existir, a esquerda terá um quadro novo ao
qual dar resposta. Não sabemos que força tem o Tempo de Avançar. O petróleo
vale menos de metade do que valia há uns meses e há milhões em negócios com
Angola congelados por causa disso. A Grécia baralhou tudo e, no seu estilo sem
gravata e camisa fora das calças, vai obrigar a Europa a reagir. É um enigma o
que a chanceler Angela Merkel vai fazer e quando. Se um dos efeitos da vitória
do Syriza for o aumento da extrema-direita no Norte da Europa, como fica o
bipartidarismo português? E será que a seguir ao Syriza se segue o Podemos, que
ao contrário da esquerda radical portuguesa se assume como estando à conquista
do poder? 2015 é um ano de eleições não só em Portugal. São vários os países
europeus a ir às urnas. Bizarras alianças estão a ser forjadas, com os extremos
a dançarem a mesma dança anti-Bruxelas. Desconhecemos também o que o Governo de
Passos poderá vir a capitalizar com um posicionamento de “trabalho feito”. O
desenho das incertezas cabe numa folha A4, mas é um desenho esquisito.
Os “bons
resultados” da política de austeridade anunciados acabam de ser postos em causa
pelo FMI. É um fogo cruzado que o país viu ao longo dos últimos quatro anos,
mas que não deixa de surpreender. Subir Lall não compreende como é que a taxa
de desemprego desceu tanto nos últimos trimestres e veio dizer que, na verdade,
o desemprego em Portugal é de 20,5% e não de 13,1%. Diz que aos dados oficiais
temos de juntar o número de “desencorajados” e os valores do “subemprego”, as
pessoas que trabalham menos horas do que gostariam. Se por detrás destes
números não estivesse a tragédia de mais de um milhão de pessoas, teria graça
constatar a semelhança de discurso entre o Fundo, os sindicatos e a oposição.
Consiga
ou não mudar a tendência de voto, tudo vai arrastar-se até à Primavera. António
Costa, que está a controlar o tempo como nem os físicos conseguem, já deixou
claro que não apresentará um programa eleitoral até Maio. Quer ouvir os
portugueses, aplicar o modelo dos orçamentos participativos e pôr estudos à
votação. Está a demarcar-se da direita e a mostrar que o PS é diferente do PSD,
mas não vai desperdiçar o momento de incerteza e desgastar-se quando ainda
falta quase um ano para as eleições. O país e a Europa ainda vão dar muitas
voltas.
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