Reestruturação da dívida: o
debate que Passos não quer e que Costa dispensava
LILIANA VALENTE /22/10/2014,
OBSERVADOR
Hoje, o Parlamento
vai discutir a dívida pública e os socialistas vão gerir o tema com pinças: é
que nem todos concordam com o manifesto dos 74 e a derrocada no BES pede
prudência.
Falar da
reestruturação (ou renegociação) da dívida pública é um tema que tanto o
primeiro-ministro como António Costa dispensavam neste momento. Passos Coelho
já disse que não vê “vantagens” no debate que chega esta quarta-feira ao
Parlamento a reboque da esquerda à esquerda do PS e do Manifesto dos 74, que
foi assinado por alguns membros da bancada socialista, incluindo o líder
parlamentar, Ferro Rodrigues. E António Costa dispensava a prova de fogo assim
que pega, mesmo que oficiosamente, no partido.
Por isso, o
debate desta quarta-feira vai ser gerido como foi a apresentação de um projeto
próprio pelo PS: com todo o cuidado. E os motivos para a equipa de Costa são
vários, começando pelo facto de nem todos os deputados concordarem com os
pressupostos do manifesto e também pela alteração das circunstâncias, como a
queda do BES.
Na bancada do PS
nem todos concordam com o que defenderam os economistas. Fonte da bancada
lembra ao Observador, por exemplo, que grande parte da dívida está na mão de
bancos portugueses e que é necessário avaliar o futuro impacto de uma
reestruturação da dívida sem que houvesse uma solução para a banca. O mesmo
socialista que lembra esta posição – que parte de um argumento também utilizado
pelo Governo – recorda também que houve outras propostas mais completas sobre o
assunto que poderiam ser debatidas na Assembleia da República, como a proposta
apresentada por Pedro Nuno Santos, Francisco Louçã e Ricardo Cabral que tinha
uma parte de avaliação do impacto no sistema bancário.
A cautela com o
tema foi muita desde início tanto que o PS apenas apresentou um projeto a
defender um debate sobre o assunto, não assumindo nenhuma posição. Fonte da
bancada diz ao Observador que a escolha pela apresentação deste projeto sem
posição de partida se prendeu com a tentativa de evitar as balas de ambos os
lados tendo em conta que os socialistas foram obrigados a mostrar o jogo numa
altura sensível. É que Costa ainda não foi eleito líder do partido e ainda não
fez sair um programa e a intenção era centrar o debate no combate ao Orçamento
do Estado para 2015.
E por isso, o
sentido de voto aos projetos do BE e do PCP só será decidido na reunião da
bancada de quinta-feira. Mas se o projeto comunista é difícil de aprovar porque
tem pressupostos com os quais o PS não concorda, o projeto do Bloco,
apresentado logo em abril na sequência da apresentação do Manifesto dos 74, é
mais difícil de gerir. É que o texto do projeto de resolução cola-se ao texto
do Manifesto, que foi aprovado por alguns deputados socialistas.
E por isso mesmo,
os deputados socialistas, serão pressionados pelo BE a aprovarem o projeto e
pela maioria para que digam o que defendem. Mas nesta altura o PS pretende
fintar a pressão e remeter para o debate de especialistas, dizendo que não é
com um curto debate de minutos no Parlamento, que a Assembleia recomendará uma
solução ao Governo sobre um assunto tão importante.
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