Mário Soares : “E
o juiz Carlos Alexandre que se cuide…”
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A defesa de Sócrates e o Estado
de direito
DIRECÇÃO
EDITORIAL 05/02/2015 – PÚBLICO
Ex-primeiro-ministro continua a fazer a sua defesa em público. Falamos de
justiça ou espectáculo?
Na noite de 27 de
Março de 2013, na longa entrevista à RTP que assinalou o seu regresso à ribalta
(e que se chamou sintomaticamente “o fim do silêncio”), José Sócrates disse:
“Há políticos que me acusam de tudo, mas acham que não tenho direito a
responder”. Passados dois anos e preso há dois meses, podia repetir tal frase
com uma ligeira alteração: “Há juízes e magistrados que me acusam de tudo, mas
acham que não tenho direito a responder”. Ora num e noutro caso Sócrates tem
respondido como muito bem quer. Aos políticos, fê-lo como comentador residente
na RTP; aos magistrados, vai respondendo através de entrevistas escritas a
vários órgãos de comunicação social.
Enquanto isso,
dir-se-á que a justiça estiola. O processo marca passo, enquanto na praça
pública se vão cruzando notícias e acusações avulsas de violação do segredo de
justiça, sem que isso deixe antever um rumo ou uma data previsível para o
desfecho de todo este triste episódio. Porém, tão ou mais triste tem sido a
intervenção de figuras públicas que, a pretexto do seu grau de simpatia ou
amizade com Sócrates, vão somando frases verdadeiramente espantosas. No início
de Janeiro, no programa Falar Claro da Rádio Renascença, Vera Jardim disse que
Sócrates estava no direito de defender a sua visão deste processo “mesmo que
tivesse de violar algumas normas, regulamentos, seja o que for, porque o
interesse que está aqui em causa é mais forte e mais nobre.” Anteontem, num
artigo de opinião no Diário de Notícias, também em defesa do
ex-primeiro-ministro, Mário Soares sublinhou o “enorme carinho” que “se tem
visto em inúmeras visitas” a Évora, acrescentando no final: “E o juiz Carlos
Alexandre que se cuide…”
Ora um país onde
um ex-ministro da Justiça e um ex-Presidente da República fazem tais
declarações vive, de facto, um equívoco. Mas vive em democracia. E é nela, e
com as regras do Estado de direito, que acusadores e acusado terão de
enfrentar-se. Sem mais.
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