As desventuras de um blogue de apoio a António Costa

 

As desventuras de um blogue de apoio a António Costa
Luciano Alvarez e Leonete Botelho

02/06/2014 - PÚBLICO

 logue de apoio a Costa nasce e morre no mesmo dia por causa de texto que comparava Seguro ao III Reich e Hitler.

Um blogue de apoio à candidatura de António Costa nasceu e morreu nesta segunda-feira na Internet. Um texto que comparava a acção política de Seguro ao III Reich foi o ponto de partida para uma polémica que deixou a direcção do PS indignada.

O blogue que manifestava o apoio informal a Costa conta, entre outros, com a participação dos deputados João Galamba, Isabel Moreira e Pedro Delgado Alves. O nome do próprio António Costa constava da lista de colaboradores.

Um dos primeiros textos a ser publicado, da autoria de José Borges, dizia o seguinte: "Reconhecendo que o ponto de partida possa parecer falacioso por aparentar uma redução hitleriana, a verdade é que a acção de um homem com poder que vê o mundo ruir pelo princípio democrático da discussão, é tão perigosa quanto destrutiva. Se Hitler ameaçava levar o mundo todo com ele para o abismo caso a Alemanha tombasse, assim parece agora António José Seguro do seu ninho de águia, lugar supremo da desrazão."

E continuava, agora comparando Seguro a uma figura literária: "Misto de Cavaleiro de Triste Figura, rodeado dos seus Sanchos Panças, qual D. Quixote a lutar contra moinhos de vento, e de autoritária índole a preferir um Partido na Clandestinidade três vezes bloqueado".

 As críticas, especialmente na rede social Twitter, fizeram-se sentir de imediato pela comparação a Hitler. Ao início da tarde o texto foi apagado sem nenhuma explicação.

 A explicação viria depois com um novo texto de José Borges, líder da concelhia da JS de Lisboa e que integrou a lista à Câmara de Lisboa: "Num momento infeliz publiquei um post pouco correcto e que retirei por esse mesmo motivo. Pelo facto peço desculpa a quem se possa ter sentido pela comparação. A responsabilidade atinge-me exclusivamente."

 Pouco tempo depois o blogue passou de público a privado, só tendo acesso a ele quem os autores quiserem. No entanto, a cache do Google permite que o texto em causa seja lido como foi publicado originalmente.

Fonte da direcção do PS manifestou ao PÚBLICO a sua indignação com o texto de José Borges.

 João Galamba, um dos autores do blogue, afirmou ao PÚBLICO estar também ele “indignado” com o teor do texto. “Embora não o tenha lido, foi-me contado o seu teor e acho inaceitável". O deputado socialista afirmou desconhecer por que o blogue passou a privado.

Já o militante socialista André Couto, um dos criadores do blogue de apoio a Costa, afirmou à agência Lusa que o presidente da Câmara de Lisboa desconhece em absoluto e não participa nessa página na Internet que apoia a sua candidatura a secretário-geral.

"Apareceu o nome de António Costa na lista de autores do blogue, mas foi uma infeliz coincidência. O dr. António Costa desconhece e não participa no nosso blogue informal de apoio à sua candidatura a secretário-geral do PS, declarou André Couto à Lusa.

 Couto revelou ainda que o blogue está neste momento suspenso para reflexão.

Notícia actualizada às 19h46

 

Seguro e o fim do III Reich

  José Borges

 02.06.14

 Reconhecendo que o ponto de partida possa parecer falacioso por aparentar representar uma redução hitlariana, a verdade é que a acção de um homem com poder que vê o seu mundo ruir pelo princípio democrático da discussão, é tão perigosa quanto destrutiva. Se Hitler ameaçava levar o mundo todo com ele para o abismo caso a Alemanha tombasse, assim parece agir António José Seguro do seu ninho de águia, lugar supremo da abstração e da desrazão. O Partido Socialista, pilar fundamental da manutenção e aprofundamento da democracia no nosso país, encontra-se hoje nas garras de um homem perdido. Misto de Cavaleiro da Triste Figura, rodeado dos seus Sanchos Panças, qual D. Quixote a lutar contra moinhos de vento, e de autoritária índole a preferir um Partido na Clandestinidade três vezes bloqueado. Agindo em nome do que o cidadão espera de uma política renovada, fecha os olhos ao mais elementar dos factos: o país está com António Costa e exige-o. E exige-o não porque, ao contrário do que João Soares afirmou, tenhamos em nós a esperança sebastianista mas porque ainda somos autónomos para decidir quem, de entre nós, ser perfila o melhor para servir a República.