Entrada do
Hospital Sino-guineense de Kipe, no município de Ratoma, onde foi tratado o
primeiro caso de Ébola na Guiné-Conacri CELLOU BINANI/AFP
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OMS avisa 11 países africanos de
que podem ser afectados pelo Ébola
CLARA BARATA
27/06/2014 - PÚBLICO
A maior epidemia de sempre está a ser agravada pela falta de atenção do
Governo da Guiné-Conacri. Foi convocada reunião de emergência para o início de
Julho.
Os países da
África Ocidental vizinhos da Guiné-Conacri devem preparar-se para a possível
chegada do Ébola, alertou a Organização Mundial de Saúde (OMS), que convocou
uma reunião internacional de urgência com 11 países para 2 e 3 de Julho. A
Guiné Bissau é um dos países que está nesta nova linha de risco da doença, com
uma taxa de mortalidade que pode ir até 90%.
Desde que foi
dado o alarme internacional, a OMS registou 635 infecções e 399 mortes, a
maioria na Guiné-Conacri, embora haja também casos na Serra Leoa e na Libéria. Este
grande aumento do número de vítimas deve-se ao recuo das medidas de prevenção,
salientou a OMS.
“Há uma
necessidade urgente de intensificar os esforços de resposta à doença, promover
a partilha de informação sobre casos suspeitos e mobilizar todos os sectores da
comunidade”, afirmou Luís Sambo, director regional para África da OMS.
Para a reunião da
próxima semana em Acra, no Gana, foram convidados a Guiné, a Libéria, a Serra
Leoa, a Costa do Marfim, a República Democrática do Congo, a Gâmbia, a Guiné
Bissau, o Mali, o Senegal e o Uganda.
Os Médicos Sem
Fronteiras, que têm 150 especialistas no terreno, a trabalhar nas zonas onde há
infecções desta febre hemorrágica, alertaram a 23 de Junho que o surto estava
“descontrolado” e ameaça propagar-se a outras regiões, recorda a AFP. Acusaram
governos, e grupos da sociedade civil e religiosos, de estarem a recusar-se a
reconhecer a gravidade e a escala desta epidemia.
Essa opinião é
partilhada por outros profissionais de saúde. “Por culpa dos nossos dirigentes,
a doença propagou-se ao interior do país”, disse à AFP o médico Alphadio, do
hospital Donka, em Conacri, que não quer dar o apelido. “Mentiram tanto que os
nossos parceiros e as populações acabaram por baixar os braços. O resultado é
este, a epidemia grassa por todo o lado.”
Kankou Marah,
outro médico do mesmo hospital, disse algo semelhante: “Todos sabemos que o
Governo quer preservar os seus interesses e evita dizer a verdade à população,
por receio de afastar os investidores.” Em Conacri, constata a AFP, já não há
campanha de informação sobre o Ébola, um vírus que se julga transmitido pelos
morcegos, e que causa uma febre hemorrágica para a qual não há tratamento e que
se transmite entre as pessoas através dos fluidos corporais. Nas estações de
autocarro, nos portos e no aeroporto, os controlos sanitários foram reduzidos
ao mínimo.
Mas não está a
ser considerada a possibilidade de impor restrições a viagens ou ao comércio,
afirmou o director para África da OMS. “Isto ainda não é uma crise que nos
tenha escapado ao controlo”, sublinhou Sambo, citado pela Reuters. Mas é
preciso tomar medidas drásticas para impedir que a doença continue a alastrar.
“Queremos que
países vizinhos da Guiné-Conacri se preparem para o caso de receberem pessoas
infectadas – Costa do Marfim, Mali, Senegal, Guiné Bissau”, explicou o médico
Pierre Formenty, numa conferência da OMS em Genebra.
"Este é o
surto de Ébola mais grave de sempre, em número de infecções, de mortos e de
distribuição geográfica do vírus. Já não é só num país específico, é uma crise
sub-regional, que exige uma acção firme dos governos”, sublinhou Luis Sambo. “A
OMS está muito preocupada não só com a transmissão da epidemia aos países
vizinhos [da Guiné-Conacri], como com o potencial de propagação internacional
do vírus Ébola”, declaro.
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